Quase Uma Rockstar (All Together Now, 2020)

“I wanna know what feels like home”

Baseado em um livro de Matthew Quick (o mesmo autor de “O Lado Bom da Vida”) e protagonizado por Auli’i Cravalho (de “Moana” e “Rise”), que eu amo, “Quase Uma Rockstar” é um filme lindíssimo lançado em agosto de 2020 pela Netflix – o filme conta a história de Amber Appleton, uma garota determinada, trabalhadora e sorridente, mas que não enfrenta uma realidade muito fácil… ela e a mãe moram, escondidas, dentro do ônibus escolar que a mãe dirige, e Amber trabalha em todos os horários que não está na escola para juntar dinheiro e poder pagar o aluguel de um apartamento em breve. O filme é emocionante e surpreendente, e conseguiu me arrancar sorrisos e lágrimas com um elenco afiado e talentoso, e um roteiro muito bem conduzido… fiquei profundamente apaixonado e senti que eu queria ver um pouquinho mais da Amber quando tudo chegou ao fim.

Talvez eu tenha gostado tanto da Amber porque eu já gosto muito da Auli’i – eu acho que ela tem um carisma admirável, e isso transpassa à personagem e nós torcemos por ela desde o começo! Como eu comentei, a realidade dela não é fácil… ela e a mãe não têm onde morar desde que a mãe largou um namorado abusivo, e Amber é uma garota compreensiva, mas que não precisaria ter a responsabilidade de “manter as coisas em ordem”, e muitas vezes parece ser isso que acontece… a mãe lida com problemas com álcool e possíveis recaídas com o namorado abusivo, e isso incomoda Amber – com toda a razão. Por isso, eu gosto das facetas que a personagem tem, porque ela é carinhosa com a mãe (aquela cena da leitura do poema é linda!) e a ama profundamente, mas ela também pode ser dura quando precisa, e ela pode ser leve…

Para poder guardar dinheiro, Amber trabalha onde pode… e é impressionante vê-la com aquele sorriso nos lábios, aquela gentileza com as pessoas, aquela energia boa apesar de tudo. Ela trabalha ensinando inglês (com música, e isso é tão fofo!) para um grupo de mulheres coreanas, em uma loja de donuts e em um asilo – aqui, no asilo, eu adorei a cena com Joan, que está sempre aparentemente de mau-humor, e elas meio que têm um desafio entre elas: Amber conta piadas prometendo que um dia a fará rir; e Joan diz que isso não vai acontecer se “ela a fizer chorar antes”. Além disso tudo, Amber ainda tem a escola, o grupo de teatro e um evento anual para arrecadação de fundos para várias causas, que ela organiza há algum tempo – nesse ano, ela planeja conseguir uma nova tuba para a banda da escola… e, então, ela ganha a oportunidade de fazer uma audição na Carnegie Mellon University.

Uma oportunidade e tanto.

Mas como ela pode pagar uma passagem para Pittsburgh?

As coisas ficam muito mais graves quando Becky, sua mãe, perde o emprego como motorista do ônibus, porque seus chefes descobrem que ela e a filha estão dormindo lá, e então Becky decide voltar para a casa de Oliver, seu antigo namorado… Amber se recusa a voltar com ela, e diz que ela também não deveria fazer isso (afinal de contas, além da bebedeira, Oliver já batera na mãe, e ela não quer que isso se repita!), e acaba “fugindo” por um fim de semana prolongado com Ty, seu amigo e crush. Os dois passam alguns momentos bonitos e importantes em uma elegante casa de férias da família de Ty, onde ele toca o piano e a ajuda a ensaiar para as audições na Carnegie Mellon University, e é aqui que Amber canta “Feels Like Home”. E, gente, eu AMO ouvir a Auli’i Cravalho cantar… essa menina tem um talento impressionante que sempre me emociona.

Quando volta para a cidade, Amber pede que Ty a deixe na casa de Donna – a mãe de um dos seus melhores amigos, quem ela visita diariamente, pela manhã, antes da escola. Amber é uma garota tão doce, tão educada e tão atenciosa, que ela construiu uma rede de pessoas que se importam com ela e que a ajudam, mesmo sem saber por tudo o que ela passa… então, Amber confia em Donna e pede a sua ajuda, para aquela conversa pesadíssima que ela tem com a mãe, com Donna como mediadora, na qual ela diz a Becky que não se sente confortável voltando a morar com Oliver… além de ele ser um incentivo para o já existente problema de alcoolismo da mãe, ele ainda é abusivo. Becky não quer ouvi-la, não quer deixá-la ali, mas Donna e Amber dizem que ela vai ficar ali, por quanto tempo ela quiser… e eu adorei a atitude de Donna, tão protetora.

Tão mãe.

Na manhã seguinte, as coisas saem ainda mais de controle, e ali eu senti um impacto muito grande – o momento em que a montanha-russa despenca lá de cima. Confesso que eu fiquei atordoado, em choque, e já não sabia mais o que podia dar errado. Quando Becky deixou Amber na casa de Donna, mesmo contra sua vontade, eu achei que ela voltaria depois de uns dias, machucada, dizendo à filha que ela tinha razão… mas dois policiais aparecem na escola para falar com Amber, e eles não estão atrás dela porque Becky ligou para eles acusando Donna de a sequestrar nem nada assim… eles estão ali para dizer que Becky sofreu um acidente de carro e morreu no caminho para o hospital. Podemos sentir Amber perdendo o chão naquele momento, mas ela sabe exatamente o que aconteceu: tanto a mãe quanto Oliver estavam bêbados.

Mesmo assim, Amber não deixa de se sentir culpada… ela não tem culpa, mas eu acho que o sentimento é natural. Na verdade, Becky fez suas escolhas e teve que enfrentar as consequências delas, mas Amber não teve nada a ver com isso. Mesmo assim, os próximos dias são difíceis, e eu sofri TANTO vendo a sua mudança… vendo-a em silêncio sentada ao lado de Joan enquanto ela assiste seu filme, ou dando uma aula desanimada para o seu grupo de mulheres coreanas. E, então, quando chega o momento do seu voo para Pittsburgh, para a audição, ela acaba não indo… não por escolha própria, mas porque Bobby, o seu cachorrinho que está sempre com ela e é a última família que restou (ou assim ela pensa), passa mal e ela o leva ao veterinário… e ela descobre, então, que ele tem um tumor e que precisa fazer uma cirurgia.

Então, Amber se fecha completamente – é como Ty lhe diz: ali, ela encontra uma desculpa para se punir por se sentir culpada pela morte da mãe, e então deliberadamente deixa de ir para a audição e não permite que ela seja remarcada; além disso, ela larga a escola para assumir mais turnos em seus trabalhos, para ter dinheiro para pagar pela cirurgia de Bobby (ao longo de 10 semanas e meia, pelos seus cálculos) – afinal de contas, ela não pode deixar que ele morra. Ela é dura nesse momento, com tudo que lhe aconteceu, e parecia que eu podia sentir toda a sua dor… Amber se tornou outra pessoa, fechada em si e tentando resolver tudo sozinha, recusando a ajuda de quem estivesse disposto a oferecê-la… Donna, Ty… e, na verdade, Amber passou a vida toda ajudando os outros, cuidando dos outros, e ela não acha que tem o direito de precisar de ajuda.

Mas as pessoas ao seu redor SÃO UMA FAMÍLIA. Donna e Ricky que a acolheram na sua casa. Ty, que sempre esteve ali com ela. Joan, que não admite, mas sente falta da Amber tagarela e cheia das piadas sem graça, tentando fazê-la rir. Amber ajudou e tocou a vida de muitas pessoas, e todas elas se importam com ela… e agora é hora de elas a ajudarem. Como quando Pollyanna mudou a vida de toda uma cidade com o jogo do contente e, quando ela precisou de ajuda depois de ser atropelada, todos estavam lá por ela. Assim, Ty vai buscá-la no trabalho para levá-la para o evento que ela planeja na escola há 3 anos, e embora ele precisa de certos dons de convencimento para consegui-la tirá-la de seu turno e levá-la, ele eventualmente consegue… e então temos um momento TÃO LINDINHO. Ele estava completamente nervoso no carro tentando explicar, mas é TÃO LINDO.

Eles mudaram o tema do evento… não é mais pela tuba: É PARA SALVAR BOBBY. E Ty sabe que Amber é bastante resistente em receber ajuda, mas todas essas pessoas se importam com ela e querem ajudar, e é hora de ela deixar que eles o façam. Assim, eles estabelecem uma meta de 8 mil dólares para pagar a cirurgia de Bobby, dos quais eles conseguem uma parte com a venda de ingressos para o Show de Variedades, e o restante as pessoas podem doar pela internet ao longo de todo o show… e é TÃO LINDO ver Amber aceitar receber esse amor, e foi emocionante como todos participaram. Como Ty venceu o medo de palco para apresentar o evento; como Ricky fez um show de trocadilhos e, de quebra, uma declaração para sua melhor amiga; como o grupo de mulheres coreanas que ela ensinava vieram se apresentar com a música que ela cantava.

Todas pessoas que se importam com ela.

E, assim, o número de doações vai subindo… antes do final, eles estão em pouco mais de 6 mil dólares, e Amber pega o microfone para agradecer, emocionada. Quando Ty pede que eles atualizem a tela, então, eles já passam de 206 mil dólares arrecadados. Parece um erro, todo mundo fica atônito, mas um doador anônimo depositou 200 mil dólares para Amber, e parece estar tudo certo. É um choque, mas na verdade é uma coisa bem “A Corrente do Bem”. Ela nunca fez nada do que fez esperando nada em troca, mas ela tocou pessoas ao longo de sua vida… e aqueles 200 mil dólares vêm de Joan, a velhinha do asilo que, finalmente, cumpriu a sua promessa: “Eu te disse que te faria chorar”. A cena das duas é fofa, divertida e emocionante, tudo ao mesmo tempo… eu estava rindo no meio de lágrimas, e foi mais ou menos assim que o filme fez com que eu me sentisse, o tempo todo.

Amei, do início ao fim.

Um drama lindíssimo e emocionante, recomendadíssimo!

Só queria ver a Auli’i cantando “Feels Like Home” novamente, mas a música está nos créditos!

 

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