Love and Monsters (2020)

Monster problems…

Uma jornada tensa, divertida e emocionante em um mundo pós-apocalíptico povoado por monstros inusitados – “Love and Monsters” me surpreendeu em vários sentidos. Me interessei pelo filme de imediato quando vi que era protagonizado por Dylan O’Brien, e o seu carisma e seu talento realmente sustentam grande parte do filme sozinho, possivelmente se tornando um importante marco na carreira do ator; depois do interesse inicial e da sinopse bizarra, eu esperei algo mais escrachado e zoado, o que o filme não deixa de ser, de alguma maneira, mas ele consegue equilibrar esse humor peculiar e a ideia de nonsense com uma história cativante e uma jornada realmente intimista e sensível, contra todas as possibilidades. Assim, o filme conquistou uma aprovação de 93% da crítica especializada no Rotten Tomatoes, e 90% de aprovação do público.

“Love and Monsters” se passa em um universo depois do fim do mundo – 95% da população mundial morreu em um evento que é, no mínimo, inusitado. Há aproximadamente 7 anos, um asteroide estava se aproximando da Terra e, para que ele não destruísse o planeta, os humanos lançaram foguetes para explodi-lo… o problema é que, embora a ameaça do asteroide tenha sido neutralizada, os foguetes explodiram e todos os seus componentes químicos voltaram à Terra, causando mutações estranhas em animais que eram muito pequenos, e agora eles se tornaram predadores horríveis… animais como caracóis, formigas, vermes e qualquer coisa assim. É um universo bizarro com uma pegada de “Animais Fantásticos e Onde Habitam”, com direito a umas cenas de ação bem nojentas – a não ser, é claro, que você ache os animais bonitinhos.

O que também é uma possibilidade.

Nesse universo, então, muitos humanos acabaram morrendo depressa até que os sobreviventes se refugiassem em lugares seguros, como bunkers. É o caso de Joel Dawson, o carismático e fofo personagem de Dylan O’Brien, um garoto jovem e separado da sua namorada de 7 anos atrás em uma colônia na qual todos estão em pares. Eu gosto de como o filme pode ser leve e descontraído, ao mesmo tempo em que nos conta uma história sofrida de um garoto que é tido como “medroso” ou como um “atraso” em momentos de caçada ou defesa do bunker, mas nós entendemos seus traumas e suas limitações ao longo do filme – como no flashback da morte dos pais, no qual ele provavelmente congelou pela primeira vez, e aquela é uma daquelas cenas exageradas e cômicas, mas, ao mesmo tempo, pesadas. Assim, vamos nos apaixonando rapidamente por Joel.

Falando em paixão, é isso o que o motiva: a vontade de reencontrar Aimee, sua namorada de antes disso tudo, mas também a vontade de voltar a viver, de respirar o ar lá de cima e de se desafiar, provando não para os outros, mas para si mesmo, que ele não é inútil como algumas pessoas acreditam. Então, Joel resolve empreender uma jornada de 7 DIAS na superfície, até a colônia que Aimee comanda a alguns quilômetros de distância… ninguém sabe se ele poderá sobreviver a esse tempo todo na superfície, sem preparo, com os monstros que podem atacá-lo, mas ele vai tentar, e eu adoro a sua determinação, bem como toda a jornada de crescimento dele ao longo do filme. Ele ganha companhias, ele aprende coisas, e embora ele corra perigo umas 874596 vezes, ele sai dessa “aventura” toda uma pessoa muito mais forte, confiante e viva do que antes.

A primeira companhia que Joel encontra é Boy, um cachorro que o adota – mais ou menos. Realmente parece que Joel não vai conseguir ir muito longe quando, pouco depois de sair do bunker, ele é atacado por um sapo gigante (“Que sapão!”) que sai de uma piscina e parece determinado a devorá-lo… Boy aparece em seu resgate, talvez porque pensou que fosse a sua dona voltando para casa, ou talvez porque ele quis ajudar mesmo – de qualquer maneira, Joel e Boy compartilham alguns momentos muito bacanas e forjam uma amizade muito bem-vinda que vai ajudar Joel a se manter vivo até cumprir a sua missão… gosto da cena do ônibus, gosto de como, mais tarde, Joel precisa retribuir o favor e salvar a vida de Boy de um monstro gigante. Inclusive, Joel precisa fazer isso duas vezes, e percebemos que ele fará qualquer coisa para salvar aquele cachorro.

Depois, quando Joel acaba caindo em um buraco e quase é devorado por uns monstros bizarros, ele acaba sendo salvo por Clyde e Minnow, dois sobreviventes que entendem muito mais sobre os monstros do que Joel, e que lhe dão dicas importantíssimas para ajudá-lo a sobreviver – e para anotar em seu livro de registros. Clyde é um cara bacana, rumando para as montanhas, onde supostamente menos monstros conseguem chegar, e Minnow é uma garotinha durona que, apesar de não querer demonstrar, acaba se afeiçoando a Joel e ensinando muitas coisas para ele… como acertar alvos distantes com o seu arpão, por exemplo, ou como reconhecer se um monstro é bom ou não pelos seus olhos. Achei que o trio continuaria junto até o fim do filme, mas os caminhos acabam se separando quando Clyde e Minnow rumam às montanhas e Joel continua a jornada até a colônia de Aimee.

Mas Joel já está muito melhor em sobrevivência nessa altura, e Boy continua sendo seu parceiro inseparável. A última companhia que Joel encontra antes de chegar ao seu destino é uma Mav1s, um robô extremamente sociável que proporciona alguns dos momentos mais emocionantes do filme, porque Joel precisava daquilo: alguém com quem conversar. Mav1s doa parte da sua bateria restante para que Joel consiga usar o rádio para conversar com Aimee, e depois o escuta desabafar, bem como lhe mostra fotos de sua família – porque nem fotos ele pôde guardar dos seus pais. O momento em que Joel abraça Mav1s enquanto ela mostra a foto da mãe dele é de partir o coração… então, ela parte em um momento emocionante depois de colocar música para que eles pudessem olhar as estrelas juntos, e então Joel descobre que é hora de continuar sua jornada.

No fim, Joel chega à colônia de Aimee sem Boy, depois de salvar a sua vida, se arriscar por isso e, no calor do momento, gritar com ele por não querer abandonar o vestido da sua dona – que, afinal de contas, não vai voltar. Eu gostei demais de como o filme foi construído, de como os detalhes foram bem encaixados, como os ensinamentos de Clyde e Minnow sendo importantes para Joel se livrar da rainha ou para não morrer envenenado pelas sanguessugas, ou ainda para desmascarar um impostor que invadiu a colônia de Aimee cheio de promessas e falcatruas. O romance também é bem construído, porque, quando Joel e Aimee se reencontram, Joel percebe que ele continua preso na memória de 7 anos atrás (porque ele nunca mais saiu do bunker, porque ele viu todo mundo em casal, ele se apegou àquilo), enquanto ela mudou muito e seguiu em frente.

7 anos é muito tempo… ainda mais no fim do mundo.

O que não quer dizer que o que eles sentiram não importa ou que não possa renascer de uma maneira nova agora – porque, com essa jornada, Joel também já não é o mesmo. E ele prova isso sendo simplesmente INCRÍVEL ajudando Aimee e toda a colônia a se livrarem do Capitão australiano que queria roubar sua comida, sua água e seus remédios, além de dá-los de comer para um caranguejo gigante que puxava o iate na falta de combustível que assolou o mundo desde o apocalipse… a sequência de ação é simplesmente fenomenal, e é encerrada da melhor maneira possível, com Joel se lembrando do que Minnow lhe ensinou: que sempre dá para dizer se o animal é bom pelos seus olhos. O caranguejo era bom, apenas escravizado, e então Joel o liberta e, ao invés de matá-lo, eles ganham um aliado e ainda salva a vida de um animal que não merecia todo o sofrimento que lhe causaram.

Ah, e ainda tem o retorno TRIUNFAL de Boy para salvar Joel mais uma vez!

<3

Gostei DEMAIS do filme, em todos os sentidos – o elenco liderado por Dylan O’Brien estava excelente (Ariana Greenblatt como a pequena Minnow estava um máximo!), o conceito do universo e todo o visual eram divertidos, embora ocasionalmente nojentos, e o filme apresenta uma bonita história que não é apenas sobre o amor de Joel por Aimee, mas sobre todo o crescimento que ele consegue para si mesmo quando ele se permite arriscar-se, conhecer novas pessoas e aprender. Tenho muito orgulho da pessoa que Joel se tornou ao fim do filme, um verdadeiro líder, retornando à sua colônia (amei, também, a cena em que ele finalmente lê os recadinhos dos amigos no mapa que eles deram) e a guiando para as montanhas, para onde Clyde e Minnow partiram, enquanto incentiva as demais colônias a fazer o mesmo. Um filme para cima, repleto de diversão e de momentos fofos!

 

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