[Series Finale] The Leftovers 3x08 – The Book of Nora


“I didn't change my mind. I went through”
Eu não acredito que CHEGOU AO FIM. Emocionado e aos prantos, eu aplaudo The Leftovers uma última vez por um episódio tocante e maravilhoso que fechou toda a saga que acompanhamos até então. Centrado em Nora Durst, o último episódio nos entregou um fechamento brilhante, repleto de referências e analogias, um pouco de mistério e mais do que The Leftovers gosta de deixar para que NÓS PENSEMOS. Nem tudo é entregue, mas tudo pode ser interpretado. Começamos de forma impactante, com Nora Durst gravando o seu vídeo de consentimento para que possa testar a experiência que “manda as pessoas para o lado de lá”, supostamente para o lugar onde os 2% da população foi, 7 anos atrás. Quando ela disse “I’m leaving to be with my children, Erin and Jeremy”, a emoção em sua voz ME ARREPIOU. Eu senti que estávamos começando um episódio grandioso.
Estava certíssimo.
Nós ainda estamos na Austrália, no ponto onde Laurie deixou Matt e Nora há alguns episódios. Nora Durst conseguiu convencer as cientistas a deixar que ela participasse do “programa”, e então passaram as instruções, que são angustiantes… toda a transcrição da caminhada, da posição e do líquido que tomará o pequeno espaço no qual ela está, quando ela precisar prender a respiração por 30 segundos para não comprometer sua “transição”… eu realmente não tinha certeza se Nora Durst teria MESMO a coragem de fazê-lo, porque a descrição da Dra. Eden já quase me fez sair correndo. Mas ela precisava de um fechamento, ela precisava saber que estava tentando encontrar os seus filhos, Jeremy e Erin. E é como diz Matt: “Of course she’s ready. The bravest girl on Earth”. A despedida dos dois, por sinal, também foi arrebatadora:

“Nora Elizabeth Jamison Durst, age 417, was vaporized by a consortium of international physicists last Tuesday outside Never Never Land. Miss Durst was born and raised in Cairo, Egypt, where she returned after college to squeeze a family… her spiffy husband, Doug Durst, and her beloved geese, Jeremy and Erin. Admired by her coworkers, she was a longtime employee at the Department of the Sudden Diarrhea. In her spare time, Miss Durst enjoyed crosswords, exposing frauds, and pole dancing. She is survived, at least temporarily, by her terminally ill gecko, Matthew Jamison. As she lives on in our memories, and in the Great Antonio in the sky. There will be no funeral or memorial service”

Impressionante como uma cena e uma fala tão cheia de brincadeiras como essa representam TANTO em The Leftovers. Aquela foi a despedida de Nora Durst e Matthew Jamison, e foi ARREPIANTE. Ele estava brincando, criando um obituário para ela, e ambos estavam sorrindo, felizes e tristes ao mesmo tempo. As lágrimas contidas são mais emocionantes do que as lágrimas derramadas… os olhos brilhantes. As lembranças de como ele a chamava de “a garota mais corajosa da Terra”. Christopher Eccleston e Carrie Coon entregaram atuações perfeitas, profundamente comoventes. Uma coragem e tanto a de Nora, a de ficar nua, de entrar no caminhão e ter a porta se fechando atrás dela, caminhando e se encolhendo, lembrando-se do marido e dos filhos, do último momento em que esteve com eles, antes do Arrebatamento.
Que tensão!
Tudo é lento e angustiante, o episódio trabalha bem construindo um suspense que nos deixa apreensivos. “Your brother is here with us”. Quando o líquido começa a subir e entendemos o nervosismo de Nora Durst, enquanto ela começa a prender a respiração, temos um momento em que ela volta atrás, respira, grita alguma coisa… mas não vemos o que acontece, porque a cena corta misteriosamente para um momento do futuro… um momento do futuro, na Austrália, com um céu azul e pombas voando estardalhaçamente, quando Nora já se chama “Sarah”, e anda por lá muito mais velha, de cabelos compridos e esbranquiçados, um boné na cabeça… estamos novamente no fim do primeiro episódio da temporada, quando uma freira lhe perguntou “se o nome Kevin significava algo para ela”, e ela respondeu que “não”.
As perguntas explodem. É UMA TRANSIÇÃO E TANTO! Queríamos entender tudo, desde o começo, mas The Leftovers não trabalha assim… teremos um longo tempo repleto de referências e simbologias, que tentaremos entender de todo modo, até que as coisas façam sentido no final. As coisas começam a sair de controle, aparentemente, quando Kevin Garvey bate à sua porta. Também mais velho, ele diz:

“Nora? Kevin. Kevin Garvey. I don't know if you remember me. I was the chief of police in Mapleton. We don't know each other really well. We only talked a couple times, really. There was this dance, a Christmas dance at the high school. We just had a really nice conversation. […] In the hallway. I don't expect you to remember. It was a long time ago”

Dali em diante eu digo que buguei. TANTA COISA dita em tão pouco tempo. Minhas perguntas explodiram… como assim Kevin Garvey acha que Nora Durst não se lembra dele? Como assim eles “não se conheciam muito bem”? Como assim “conversaram apenas uma vez”? E eu me perguntava: ONDE ESTÁ NORA?! Porque ela sabia que nada daquilo era verdade, ou pelo menos não era daquele jeito… ela se lembrava de outro Kevin Garvey, de outra história, e aquilo a estava deixando confusa. Mas a verdade é que AQUELE Kevin que bateu à sua porta parecia mais leve, mais feliz. Despreocupado. Mas tudo era desconcertante, e minhas teorias começaram a viajar… passaram do futuro para qualquer OUTRO lugar, um mundo alternativo onde Nora podia ter ido parar depois de entrar naquela máquina louca das cientistas…
A confusão é PALPÁVEL. Nora está desesperada, tremendo enquanto fuma… e liga para a sua terapeuta, nos Estados Unidos: LAURIE! “Did you tell him? […] Kevin, fucking Kevin, he’s here!” Foi muito estranho ouvir a voz de Laurie novamente, assim como foi estranho vê-la, também mais velha e de cabelos brancos, com uma criança no colo. A maneira como Nora fala com Laurie foi pensada para que nós ficássemos ainda mais confusos, no momento. É estranho como AGORA, tendo visto o episódio todo, parece simples. Mas, na hora, era desconcertante. Eu gritei. Eu surtei. Nora fala da história completa, do casamento com Kevin Garvey, e fala que ele está agindo como se nada disso tivesse acontecido, como se Laurie soubesse do que ela estava falando, mas Laurie sempre foi razoavelmente insondável. Ela é uma terapeuta afinal de contas… ela já se envolveu nos surtos psicóticos de Kevin antes, para não desestabilizá-lo mais.
Minha reação lá pela metade do episódio, quando Nora chega ao “baile” (que é um casamento, na verdade) para o qual Kevin a convidou, era de que não estava entendendo nada, mas estava adorando tudo. Nora insiste em perguntar “How did you find me, Kevin?”, pergunta que ele responde sempre DO MESMO MODO. O casamento é REPLETO de simbologia. Ele diz que é sua primeira vez na Austrália (“So you never left? You’ve been a cop in Mapleton all this time?”), e Kevin fala sobre o funeral de Matt, o que foi bastante triste de ouvir. Eles também falam sobre o pai de Kevin, e Kevin fala sobre como NÃO É imortal, porque tem um problema no coração, teve um ataque cardíaco alguns anos antes, e agora tem uma coisa colocada em seu coração… quando ele pergunta se “ela quer ver sua cicatriz”, nós NÃO VEMOS a cicatriz, mas eu só podia supor que seria exatamente como a do Kevin Assassino depois que o Kevin Presidente tirou de lá o botão para destruir o mundo.
O outro mundo.
E isso abre todo um novo leque de interpretações.
O casamento também traz uma cena em que mensagens de amor são escritas pelos convidados e colocadas nas patas de pombas, que supostamente vão espalhá-las pelo mundo, quando elas, na verdade, só voltam para quem as cria, no caso a própria “Sarah”, ou Nora, que retira os papeizinhos e os joga fora… toda vez. Também temos um bode, que me arrepiou quando foi trazido à cena, porque me lembrou exatamente daquilo que Kevin também lembrou, tendo em vista seu comentário: “At least they didn’t sacrifice it”. Aquilo ali gritou “TEM ALGO ERRADO” para Nora, que perguntou o “Have you ever seen somebody sacrifice a goat?”, da qual Kevin desviou. Por fim, no casamento, a DANÇA dos dois, profundamente EMOCIONANTE. Os olhos de Nora, cheios de lágrimas… os olhos de Kevin, assim como os dela. Ela perguntou NOVAMENTE “como ele a encontrou”.
E ele mentiu mais uma vez.
“I can’t do this. […] Because it’s not true”
Então ela foi embora.
Acredito que temos uma sequência de cenas com significados ocultos que eu ainda não parei o suficiente para analisar e entendê-los, como aquela jornada de Nora para salvar o bode preso em uma cerca, uma missão dificílima que ela conseguiu cumprir. Mais fácil de entender, temos Nora abrindo os bilhetes que tinha jogado fora, de outros casamentos. E então Kevin aparece, com um surpreendente “You wanna know how I found you, Nora?”, e AQUELE ali era o Kevin de sempre, o Kevin que conhecíamos. Não estava mais leve ou sorridente. Estava intenso. Nervoso. Mas pronto para dizer a verdade. Para dizer como não pôde acreditar na história de que ela tinha morrido. Para dizer que, TODO ANO, passava as férias na Austrália, mostrando a foto de Nora para todo mundo que encontrava, perguntando se alguém a tinha visto.
Até que a encontrasse.
Porque ele não podia acreditar na sua morte.
Assim, a parte de Kevin Garvey na trama desse episódio fica clara: “That’s how I found you, Nora. I refused to believe you were gone”. Aquele é MESMO o Kevin de sempre, ele sabe de tudo o que aconteceu entre ele e Nora… não estamos em um fantasioso mundo alternativo em que as coisas foram diferentes. Não. Estamos na realidade, em algum ponto futuro da mesma realidade que sempre conhecemos. Resta saber o que aconteceu a Nora nesse tempo todo, como ela está ali, o que aconteceu depois que ela entrou na máquina que deveria mandá-la para junto de seus filhos… e ela o convida a entrar e tomar um chá, onde, sentados à mesa, ela conta toda a verdade, tudo o que aconteceu… e, segundo o que ela conta, a máquina REALMENTE funcionou, ela chegou a ir para um outro mundo, o mundo onde seus filhos estavam…

“I didn't change my mind. I went through. I was in the parking lot, naked... curled up like a baby. It was the same parking lot I'd just been in, except there were no trucks... no people, no nothing. It was cold, so I started to walk. I walked by empty houses... abandoned buildings. […] I walked long enough to convince myself that I was the only thing alive in that place. And then night came, and I saw lights, so I went to them. It was a house, and there was a man and a woman there. They were kind and they told me... the man told me that seven years earlier, he was in a supermarket and every single person disappeared except for him. And the woman told me that she lost her husband, her three daughters, and all eight of her grandchildren. And that's when I understood. Over here, we lost some of them. But over there, they lost all of us

Um dos monólogos MAIS BEM ESCRITOS de The Leftovers!
Essa série NUNCA falha em me surpreender e me COMOVER. Foi uma descrição tocante e angustiante de um mundo paralelo ao nosso, um mundo onde, como nós perdemos 2% da população, eles perderam 98% da população… um mundo precário, com poucos sobreviventes, sem pilotos o suficiente para que aviões voassem… e percebemos o quanto tudo podia ser MAIS angustiante do que o que vimos acontecer do lado de cá. Nora Durst contou sobre como procurou seus filhos, sobre como os encontrou, e quase não os reconheceu. Eles estavam maiores, bonitos. O seu marido estava lá, com uma outra mulher, e eles estavam todos felizes. Naquele mundo CHEIO de órfãos, os seus filhos eram os sortudos que ainda tinham uns aos outros, e um pai… então, sofrendo, Nora percebeu que não pertencia àquele lugar.
E voltou…
…com a ajuda do criador da máquina.
Não sei se isso é verdade ou não. Não sei se Nora Durst realmente esteve nesse outro lugar e se viu essas coisas, e eu não acho que isso de fato importe. Importa o que ela sentiu, o que ela entendeu, e no que ela passou a acreditar para que pudesse ficar em paz com a dor que sempre sentiu. Agora ela acreditava que seus filhos estavam bem, e isso era o que a faria ficar bem também. Com a ajuda de Kevin Garvey, que garante que acredita em sua história. Ele não tem motivo para não acreditar… é uma história LINDA e que faz todo o sentido. Me emocionei com a emoção de Nora ao narrar isso tudo, me emocionei com as lágrimas em seus olhos, e com as lágrimas escorrendo também dos olhos de Kevin. Me emocionei com como as mãos deles se juntaram no final, acho que finalmente tudo estava bem. Realmente um final belíssimo para uma série que vai ficar PARA SEMPRE em nossos corações. E em nossas mentes.
Que final lindo. E digno de The Leftovers.

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Comentários

  1. Top demais seus comentários e análises da série! Amei! Vc escreve muito bem!!!! Parabensssss, li de variossss episódios. Amei a série TB, terminei chorando, mas com o coração aquietado com o lindo final, cheio de significados. :-) muito lindo!!!

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    1. Muito, muito obrigado!!! <3
      "The Leftovers" foi incrível mesmo, ainda deixa saudade *-*

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