Doctor Who 10x11 – World Enough and Time


“It’s a Cyberman. A Mondasian Cyberman!”
O melhor episódio da temporada de Doctor Who, quiçá um dos melhores de New Who, de verdade! QUE EPISÓDIO SENSACIONAL! Assisti e fiquei um tempo pensando sobre ele. Vi “World Enough and Time” num dia para escrever esse texto no dia seguinte, na esperança de estar mais calmo e com as ideias mais organizadas… mas é um episódio desconcertante. Profundamente intenso, ele traz um roteiro impecável, interpretações brilhantes e uma criação fascinante do suspense que nos angustia e nos maltrata. Missy estava melhor do que nunca, o Mestre aparecendo no final parou os nossos corações, e o sofrimento todo de Bill Potts foi de acabar conosco… eu realmente espero ter alguma salvação para a personagem, porque ela não merece esse fim… mesmo assim, o roteiro foi perspicaz e inteligente em toda a sua condução, sugerindo a conversão.
QUE TRIBUTO A DOCTOR WHO, COMO UM TODO!
Vamos fazer a review dividida em momentos

1) A REGENERAÇÃO DO DOCTOR

Ainda me recuso a acreditar que o Doctor de Peter Capaldi pode, realmente, se regenerar naquela situação… não estamos preparados para ver o Twelfth Doctor partir, sendo ele um brilhantismo próprio, com uma atuação incrível, mas se for para ele partir (e sim, eu sei que ele partirá ainda esse ano), ele merece um outro tipo de regeneração… o episódio já começou me deixando apreensivo, quase aos prantos, com a proposta de uma regeneração dolorosa, em que o Doctor está SOZINHO, do lado de fora da TARDIS, em um lugar gelado em que está nevando… e como se não bastasse isso tudo, ele está gritando “NO!” Eu espero que essa regeneração ganhe um bom contexto, mas eu queria muito ver a Bill com ele durante a regeneração… sem contar que ela faria os melhores e mais desconcertantes comentários possíveis ao Thirteenth Doctor…

2) MISSY É O “DOCTOR WHO”

Como não amar a Missy, eu me pergunto? NÃO TEM COMO! Missy está saindo da TARDIS acompanhada por Nardole e Billy, se apresentando com variações de “Hello, I’m Doctor Who! And these are my plucky assistants… Thing One and the Other One”. E no meio disso tudo, Missy ainda é ácida o suficiente para faze runs comentários maldosos e gerar algumas dúvidas… primeiro, como o Doctor os chama? Assistentes? Companions? Animais de estimação? Amigos? A cena toda também me fez pensar em uma coisa: a Missy brincando de ser o Doctor não seria um grande teste para uma regeneração FEMININA do Doctor? Não seria a primeira vez! “Well, I am that mysterious adventurer in all of time and space, known only as Doctor Who, and these are my disposables... Exposition and... Comic Relief”. Missy está em um exercício, um teste, tentando ser como o Doctor…
Mas os melhores comentários são sobre o nome: DOCTOR WHO!

“He says ‘I’m the Doctor’, and they say ‘Doctor who?’ See. I’m cutting to the chase, baby! I’m streamlining. I'm saving us actual minutes. […] Also, it's his real name”

E Nardole e Bill super acreditando que “Who” era o nome do Doctor mesmo…
Seria?

3) A MORTE DE BILL POTTS

Okay, não bastasse a traumática regeneração do começo do episódio, eles continuam brincando conosco quando Bill Potts é ASSASSINADA. Simples assim. Estamos em uma nave espacial presa no horizonte de eventos de um buraco negro, e quando elevadores sobem misteriosamente, o “cara azul” diz que eles só estão vindo porque tem uma humana a bordo, e que eles não virão se ela estiver morta. Aquilo gelou meu coração, juro. Mas eu não achei que isso fosse ser levado adiante, por ingênuo que fui. PORQUE O CARA ATIROU EM BILL. Sem fôlego com o evento, o tempo volta mais uma vez, antes de retornarmos à morte de Bill, e temos toda a história se desenvolvendo com o Doctor querendo “testar” Missy, porque ela acha que pode ser como ele, querendo dar-lhe uma missão e querendo colocar Bill e Nardole como seus “companions”.
Bill disse que essa não era uma boa ideia…

4) SOBRE OS “TIME LORDS”

Acontece que o Doctor e o Mestre têm uma amizade que remonta a anos… o Doctor diz que Missy é a sua amiga mais antiga, e é a única que encontrou que se parece remotamente com ele. Por isso, Bill conclui que “ele quer que ela seja boa”. No meio disso tudo, ainda temos aquela declaração arrebatadora e apaixonante do Doctor:

“She was my first friend, always so brilliant, from the first day at the Academy. So fast, so funny. She was my man crush”

Que, também, gera o memorável diálogo:

“I'm sorry?”
“Yeah, I think she was a man back then. I'm fairly sure that I was, too, it was a long time ago, though”
“So, Time Lords, bit flexible on the whole man/woman thing, then, yeah?”
“We are the most civilized civilisation in the universe, we're billions of years beyond your petty human obsession with gender and its associated stereotypes”
“But you still call yourselves Time Lords?”
“Yeah, shut up”

É por isso que eu amo Doctor Who.
E também é justamente por isso que eu amo a Bill!
As cenas são brutalmente editadas dali em diante, feitas para destruir a audiência. Bill acha que o plano todo com Missy é uma loucura, mas ela quer confiar no Doctor, a relação deles é linda. Ela pergunta se ele pode prometer que ela não vai morrer, e ele diz que não poda fazer isso. Então, enquanto o Doctor fala sobre a fragilidade do ser humano, que estoura como um balão, nós temos um paralelo de cenas entre aquele momento antes da missão, razoavelmente leve, em que Bill e o Doctor estão comendo, e a cena da morte de Bill Potts na nave espacial à beira do buraco negro, com um imenso buraco no peito, um rosto incrédulo e uma queda dura… que dor ver o corpo de Bill Potts caindo, e o Doctor não reage exatamente como eu pensei. Esperava um pouco mais de desespero… de todo modo, foi angustiante vê-la cair assim.
“Stand. Away. Stand. Away. She. Will be. Repaired”
Bill Potts é levada por criaturas (que nós já sabemos o que são, graças às intensas divulgações da BBC que nos privaram da surpresa) de vozes robóticas, “médicos” assustadores que colocam Bill em uma maca e a colocam dentro de um elevador, rumo ao Andar 1056. E o Doctor permite que isso aconteça, e por um momento você não entende o porquê… mas eu gosto de pensar que o Doctor está trabalhando mais do que com a esperança… ele tem um plano mirabolante em algum lugar de sua mente, eu espero. Antes de Bill partir, ele deixa uma mensagem em seu subconsciente: “Wait for me”. então os destinos se separam de forma drástica, como veremos a seguir, enquanto Missy confronta o Doctor sobre o que ele está fazendo, evidenciando, uma vez mais, a maneira como eles pensam estritamente diferente um do outro:

“Assumption”
“Deduction”
“Hope”
“Faith”
“Idiot”
“Always”

5) UMA QUESTÃO DE TEMPO

Essa é uma das minhas ideias FAVORITAS no episódio – tudo bem, um pouco perturbador e tudo o mais, e indica um sofrimento tremendo para nossa amada Bill Potts, mas é uma ideia genial que tem tudo a ver com Doctor Who. Estamos à beira de um buraco negro, gravidade influencia no tempo… o mistério está no fato de, há 2 dias, 20 membros da equipe da nave terem sido mandados para um piso inferior, e até então não terem retornado… mais do que isso, os leitores da nave começaram a indicar milhares de sinais de vida, mas, segundo o Doctor… ninguém embarcou. É o que começamos a entender quando mudamos lá para baixo. Saímos do Andar 0 para o Andar 1056. Um dos relógios marca Dia 2. O outro, Dia 365034. Um tem o marcador de segundos parado, enquanto o outro se move naturalmente. Surtei.
Exatamente meu tipo de história.
Exatamente porque comecei Doctor Who!
Bill acorda no Andar 1056, viva, de algum modo. E tudo é bem MACABRO. Dali em diante, o episódio ganha um tom de filme de terror antigo, e é arrepiante! E as peças vão se encaixando… há um motivo para o tiro de Bill ter sido no peito e aberto um imenso buraco… porque ele foi preenchido com algo assustador que ela ainda não tem coragem de olhar. Ela está se transformando. Ainda é nossa Bill, mas por quanto tempo? Enquanto anda pelos corredores, Bill ouve um “Pain. Pain. Pain” repetitivo e alarmante, ao lado de sons apavorantes de cirurgia em processo. Depois, acentuando o tom macabro do episódio, temos aqueles “pacientes especiais” com as cabeças enfaixadas, comunicando-se através de um aparelho de voz metálica/robótica. Um deles insiste em “Pain. Pain. Pain”, outro, ela ouvirá, diz “Kill. Me. Kill. Me”. Tudo é perturbador… os cenários, as cores, a escuridão e a trilha sonora…
Arrepia!
Bem, World Enough and Time é Doctor Who em seu melhor. INCRÍVEL!
Lá embaixo, ainda no Andar 1056, Bill é ajudada por Mr. Razor, um senhor louco (!) que conversa com ela, a quem ela faz suas convencionais perguntas… o que são aquelas coisas? Pessoas. O que estão fazendo com eles? Curando-os. Como ela chegou ali? Porque estava doente, muito doente, de “coração partido”, e agora ela tem um novo coração. E há quanto tempo ela está ali? Semanas, talvez meses… e então as coisas explodem, e eu surto. Porque ela pergunta sobre os seus amigos, vendo-os congelados em uma tela de TV, perguntando como eles estão, e Mr. Razor diz que eles estão bem, ela pode ver ali… aquilo é ao vivo! Com a tela congelada e tudo, aquilo ali está acontecendo ao vivo porque o tempo anda de forma diferente dos dois lados da nave, por causa do horizonte de eventos do buraco negro.

“You were at top of the ship and now you are at bottom. […] They are at top of ship. Top of ship very slow. We are at bottom. Bottom much faster. Very fast bottom”

O pior é que faz todo o sentido, embora assuste um pouquinho…
Explicação do Doctor:

“Short version... because of the black hole, time is moving faster at this end of the ship than the other. It's all about gravity. Gravity slows down time. The closer you are to the source of gravity, the slower time will move. If you're standing in your garden, your head is travelling faster through time than your feet. Don't they teach you this stuff at space school?”

Levantando a sobrancelha e tudo!
A edição do episódio é sensacional para expressar essa diferença temporal entre o Doctor e Bill! No tempinho em que estivemos dentro da TV de Bill, vendo o Doctor fazer essa rápida explicação e levantar a sobrancelha, as coisas mudaram drasticamente lá embaixo, muito tempo se passou. O Doctor estava levantando aquela sobrancelha HÁ UMA SEMANA, do ponto de vista deles. O episódio vai e volta entre os Andares 0 e 1056 através da televisão, por um tempo. Segundos do lado de lá, onde o tempo passa “mais devagar”, e muito tempo onde Bill está, onde a imagem parece congelada, e onde a encontramos, sempre, em um momento muito diferente do anterior… muito depois. Como quando o Doctor joga a chave de fenda sônica para o alto e Bill se senta com um chá, dizendo que ele vai fazer uma explicação, o que deve levar um tempo.
“The months will fly by”

6) OPERAÇÃO EXODUS

O desespero cresce conforme o tempo passa. Segundos e minutos para o Doctor, ANOS para Bill. A vemos quase 400 dias depois, mais de um ano, ainda esperando. Ainda vendo o Doctor pedir que ela espere por ele, com a mensagem que deixou em seu subconsciente – “How much longer, Doctor? How many more years?” Lá embaixo, vemos os chamados “pacientes especiais”, e ouvimos falar da cura e da conversão definitiva… segundo Mr. Razor, “To survive, they are what we must all become”. Os Mondasian Cybermen são a resposta para a sobrevivência… abrir mão de sua humanidade e de tudo o que você é para se tornar um Cyberman e sobreviver. Vale a pena? O Mr. Razor leva Bill Potts para fora do hospital, em algum momento, para explicar algumas coisas para ela a respeito da “cura” e tudo o mais:

“This was a good place once, hundreds of years ago, when the settlers first came here, but this ship is old, everything is dying. Our world is rust, our air is engine fumes. So we must evolve to survive, but evolution is not fast enough. The special patients, they are strong. Soon we will all be upgraded like them”

Mas eventualmente ela precisa retornar.
Seu novo “coração” não resiste fora do hospital!

7) NARDOLE, MISSY E O DOCTOR DESCEM

Foram 10 minutos para eles… APENAS 10 MINUTOS. Foram anos para Bill. As cenas começam a se desenvolver de forma dupla, com cenas se intercalando entre o Doctor e seus amigos e Bill lá embaixo… muito mais coisa acontece para Bill do que para o Doctor enquanto o elevador desce em segundos (minutos, no máximo). Bill conversa com Mr. Razor, com quem esteve por ANOS, e ele diz que ela é como uma mãe (?) para ele, e eu estava preparado para me comover, QUANDO ELE ESTRAGA TUDO! Foi angustiante quando vemos o que está acontecendo, quando “Mr. Razor” mostra que agora é a vez de Bill, a hora de sua conversão. De seu UPGRADE. Tudo o que eu pensava era que NÃO PODIAM converter a Bill… queria protegê-la a qualquer custo. O Doctor estava vindo, e já estava ficando tarde demais para salvá-la!
Mas o episódio ainda é sensacional. Nós temos, detalhadamente, o surgimento de um Cyberman, de um Mondasian Cyberman, com cada elemento explicado… é o mesmo modelo e a mesma voz dos Cybermen do Primeiro Doctor, mas seus elementos ganham significância essencial agora… o negócio no peito como um novo coração, e o negócio que vai na cabeça, como um “fone de ouvido” para retirar as emoções e as dores, porque Bill diz que essas criaturas estão em dor profunda a cada segundo de sua existência. Parte por parte, os Mondasian Cybermen SURGEM          , e é perturbador. Humano e macabro, digno de um perfeito filme de terror. E os médicos estão se aproximando, não dão a Bill a chance de escapar, e nossos corações se apertam, e vemos a angústia mais detalhada da diferença temporal entre as duas extremidades da nave…
Ah!

8) MISSY E MESTRE SE ENCONTRAM!

Achei que eu fosse surtar e morrer gritando… eles chegam, enfim. Missy fica para trás, para ajudar através do computador, descobrir algo. Enquanto isso, o “Mr. Razor” fica ali para atormentá-la. Ele diz que está louco para conhecê-la, diz que demorou um tempo para se dar conta de quem ela era, e embora Missy esteja tentando ser indiferente, ela começa a ficar angustiada: “You don’t remember me, do you? You don’t remember being here before, do you?”, diz ele. Ainda tentando ignorer o que o homem está falando, Missy descobre que a nave não é da Terra, mas de um planeta gêmeo, MONDAS, enquanto Nardole e Bill veem, prolongadamente, um Mondasian Cyberman surgir, levantar-se de uma cadeira e ir em direção a eles, com o andar meio lento, pesado, mecânico… aquele som angustiante enquanto se aproxima.
“It’s a Cyberman. A Mondasian Cyberman!”
“Mr. Razor” diz a Missy que o Doctor jamais vai libertá-la, ainda mais depois que descobrir o que ela fez com a sua amiguinha… e embora ela diga que não fez nada: ELA FEZ! É uma finalização angustiante, repleta de suspense, e então tudo se desvela quando o Mestre de John Simm sai de baixo do disfarce de “Mr. Razor” – sim, Bill foi companion do Mestre por mais tempo do que foi do Doctor! “I love disguises”, ele diz, e eu confesso que não o tinha visto por baixo da “fantasia” de Mr. Razor! Agora tudo faz sentido, de fato. E bem, é uma LOUCURA e tanto, uma trama DIGNA do Mestre, e um modo fantástico de trazer John Simm de volta para a série! E quando Missy se reconhece, enfim, vê quem era que estava falando com ela… a expressão dela foi um pouco insondável, eu ainda não sei o que pensar de Missy agora, verdade seja dita!
“Hello, Missy. I’m the Master, and I’m very worried about my future. Give us a kiss”

9) “BILL POTTS. LOCATING… BILL POTTS. I AM BILL POTTS”

Que angústia o Mondasian Cyberman, outrora Bill Potts, dizendo isso!
E A REAÇÃO DO DOCTOR. Foi uma finalização perfeita para um episódio perfeito, o melhor do ano… QUERO MAIS, LOGO! Que angústia ver o Doctor olhando para “Bill”, quando Missy chega… e não sabemos o que esperar. Então ouvimos a voz do Mestre, e o temor com que o Doctor se vira, ao reconhecê-lo… alarmado. Então os Mestres se juntam, os dois, um de cada lado do Mondasian Cyberman que fora Bill Potts. Ao lado de uma fala engraçada (que é a cara da Missy) como “Have you met the ex?”, e o Mestre, muito mais amedrontador, falando sobre a “Gênese dos Cybermen”, temos o Mondasian Cyberman olhando para o Doctor e dizendo aquele doloroso: “I. Waited. For. You”, com a câmera entrando pela máscara dele e mostrando o olho de Bill derrubando uma lágrima…
Que FORTE!
Que venha o Season Finale, arrebatador!

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