La La Land: Cantando Estações (2017)


“People love what other people are passionate about”
O cinema estava precisando de um musical como esse – há anos que não vemos um musical tão aclamado pela crítica com a pretensão, e a possibilidade, de atingir patamares tão altos e, quem sabe, o prêmio de MELHOR FILME no Oscar 2017. Estou torcendo ardentemente por ele! O filme que conta a história de Sebastian Wilder (interpretado por Ryan Gosling) e Mia Dolan (Emma Stone) é emocionante, acima de tudo. Eu deixei a sala do cinema comovido, com lágrimas e pesaroso. Mas apaixonado pela belíssima história e pela forma tradicional hollywoodiana que foi usada como uma deliciosa e perfeita homenagem aos clássicos dos anos 1950 e 1960, conferindo ao filme um tom de nostalgia, em uma dicotomia igualmente apresentada pela trilha sonora composta de jazz: uma visão do futuro, mas com um pezinho no passado. É atual, olha para frente, mas homenageia o que veio antes e trata com nostalgia boa o que amamos na história do cinema.
Então o filme se sobressai pela beleza que apresenta.
Poeticamente, o filme é bem diferente do que você espera, eu acho. Ele transita entre o bonito/divertido e o melancólico com uma facilidade assombrosa, e nos envolve com ele. O filme começa em uma deliciosa e colorida sequência de abertura ao som de “Another Day of Sun”, uma música calma e envolvente em um dia de congestionamento. É apaixonante já de cara. E então apresenta Mia e Sebastian e começa uma belíssima história sobre sonhos e paixões. O elenco apresentou uma química fascinante, a história era linda, e a trilha sonora baseada no jazz era envolvente. Mais do que relaxante, enervante, mas paradoxalmente ambas. Passando-se na atualidade, a fotografia insistia em um estilo clássico dos anos 1950, e o aparente anacronismo deu uma cara peculiar ao filme que ficou adorável. O figurino ainda colaborava para a deliciosa nostalgia de que falei, e as cores vibrantes, e ainda assim reais, tornaram tudo lindíssimo.
O filme é um grande impacto visual!
No Brasil, como é de costume, o musical ganhou um subtítulo: Cantando Estações. E faz muito sentido, porque a analogia das estações e sua contribuição para os estilos de cada uma deu super certo. Começamos no Inverno, uma estação mais fria, com dias curtos – e então vemos um único dia na vida de Sebastian e Mia, quando eles se conheceram. Começando por quando ele buzinou para ela no congestionamento e ela lhe mostrou o dedo, até que ela o encontre tocando em restaurante na noite de Natal e fique encantada. Da perspectiva dela, um dia de frustração na tentativa de ser atriz, e uma noite com as amigas ao som de “Someone in the Crowd”, que foi ÓTIMA. Da perspectiva dele, um dia igualmente frustrante em sua vida sem rumo certo, e uma demissão potencialmente injusta na noite de Natal porque ele queria tocar free jazz ao invés dos clássicos tunes natalinos. Não é de admirar que ele seja bastante frio com ela naquele primeiro encontro.
Depois que ela tenta elogiá-lo e não dá certo, nós passamos para a Primavera, onde supostamente as coisas florescem. A estação mais colorida deixa florescer um bonito romance entre Seb e Mia. Eles se esbarram novamente em uma festa, e ela é provocante naquele vestido amarelo, e o “relacionamento” dos dois começa baseado nisso, em muita provocação, e é lindo de se ver. Porque depressa você já está apaixonado pelos dois e os achando a coisa mais fofa desse mundo, torcendo por eles como se os conhecesse sua vida toda. Natural. É nessa sequência, em uma rápida inspiração de Cantando na Chuva que eles cantam e dançam sapateado ao som de “A Lovely Night”, em um mirante que poderia ser mais bonito, mas não é porque é o palco de muito significado para eles, então eventualmente não existirá lugar mais lindo no mundo do que aquele para os dois. Depois da química instantânea e inegável daquela noite… o que fazer?
Eles marcam um “encontro”, supostamente apenas para pesquisa, em um cinema antigo que exibirá um filme de que ele gosta e ela não reconhece. Na mesma noite em que ela tem um jantar com Greg, o seu tedioso namorado que não tem nada a ver com ela. Por isso ela deixa o jantar no meio e, felizmente, corre para o cinema para encontrar Sebastian. E toda a sequência é lindíssima. Detalhe para o momento em que eles visitam, de verdade, o planetário e é a construção perfeita de um romance admirável – fazer o quê, eu sou um romântico incurável mesmo. Adorei a dança, adorei vê-lo jogando-a para o alto, ver a dança nas estrelas, tudo aquilo, até que graciosamente eles pousem de novo em poltronas, onde podem compartilhar um primeiro e verdadeiramente significativo primeiro beijo, que me deixou suspirando.
Florescido o amor, vem o Verão. Estação do calor, da intensidade – tudo aqui parece passar depressa, ainda que evidentemente se passe muito tempo. No começo, em tomadas rápidas e lindas, eles estão juntos e felizes. Tudo se intensifica de verdade com o surgimento de Keith, que oferece a Seb um emprego de tecladista nos Messengers, uma banda que não toca exatamente o que ele quer tocar, mas que lhe dá bastante dinheiro e estabilidade econômica. Enquanto isso, as coisas também começam a se transformar para Mia depois de tentativas e tentativas frustradas e frustrantes de conseguir um papel em algum filme. Ela volta a escrever. Escreve sua própria peça, uma peça de uma mulher só, e começa a se dedicar a isso com uma paixão reconfortante. Nós queremos ver mais dela, vê-la seguir o seu sonho, chegar aonde quer chegar.
Então vem o Outono. Naturalmente, e a época do ano em que as folhas caem. Então tudo desmorona perigosamente. Começa com uma briga de Seb e Mia porque ele está sempre distante, em turnês infindáveis, e isso nem era o que ele queria fazer. E o clube de jazz? Mia sabe que Seb desistiu de seu sonho, e isso é pesado. Eles começam a se afastar ali. Quando ele fica preso em uma sessão de fotos na noite da peça de Mia, que aparentemente é um desastre, com poucas pessoas na plateia que nem fazem críticas positivas, e ele não está lá para apoiá-la, algo realmente se parte entre eles e ela vai embora, de volta para a casa dos pais… mesmo com o rompimento claro, ele não desiste do sonho DELA quando uma diretora de elenco liga para seu telefone em busca de Mia, e então vai atrás dela, buzinando como sempre, e ainda a acompanha, no dia seguinte, para o teste de elenco, em uma definição clara de AMOR.
De volta ao mirante do começo, eles sabem que o que tiveram foi MUITO forte.
Sabem que eles sempre se amariam.
CINCO ANOS DEPOIS… INVERNO.
A finalização do filme foi perfeita, mas perfeitamente destrutível. Saí do cinema, assumo, em frangalhos. Quando eu percebi que ela tinha conseguido mesmo o papel, como era de se esperar, eu esperei um final altamente feliz. Ela estava de volta ao café que trabalhava no início do filme, mas agora como uma famosa e reconhecida atriz. Mas ela está casada com outro homem, tem uma filha com ele… e é dilacerante quando eles saem para jantar e encontram um clube de jazz, por acaso, e acabam entrando: SEB’S. O clube de Sebastian, o seu sonho realizado, enfim. Com o logo que ela desenhou para ele. É tão lindo, é tão bom, mas também é tão triste. Porque o impacto é grande para ela quando ela o vê. O impacto é grande para ele quando ele a vê. Como não poderia ser diferente, o impacto causado um pelo outro na vida de ambos é marcante e incontestável. Eles SEMPRE serão fortes um para o outro.
Eles sempre se amarão.
Então temos uma sequência lindíssima que serve tanto para nos alegrar, nos confortar e nos golpear uma última vez. Porque ele toca a música que tocou lá no primeiro dia, no restaurante no Natal, e estamos de volta àquele lugar, quando Sebastian age diferente e eles se beijam… e então tudo se reconstrói de forma lindíssima. Eu quase esperava que fosse uma confusa finalização REAL, já que o jazz nunca é tocado da mesma forma mais de uma vez… mas não. Tivemos uma sequência maravilhosa em que eles se beijam, ficam juntos, são felizes, ele não trabalho no The Messengers, ela consegue um êxito incrível com a sua peça e ele está lá para apoiá-la, e depois ela sai do teste para o filme e o abraça e o beija. Eles são felizes juntos, constroem uma família, tem um filho… e igualmente encontram um clube de jazz por acaso em uma noite qualquer.
Mas então não é mais Sebastian ao lado dela.
Ainda é seu outro marido.
E Seb está tocando.
Tudo é lindíssimo, claro. A sequência utiliza técnicas do cinema clássico que me transportam de novo para deliciosos filmes da década de 1950 e 1960, especialmente musicais, devido às danças em belíssimos cenários… mas tudo era um sonho, uma possibilidade. Não concretizada. Mas o que fica é o sentimento. Eles foram, são e sempre serão muito importantes na vida do outro. Ela não teria conseguido o papel se não fosse por ele. Ele não teria voltado para o seu sonho se não fosse por ela. E, sim, eles sempre vão se amar. Mesmo que não estejam juntos como um casal, porque assim é a dura realidade da vida, e o filme é um êxito em conseguir transmitir isso em um final que não é o esperado, que não é o de sempre… ele evoca uma realidade admirável e dolorosa. Mas linda. O sorriso que Sebastian e Mia trocam é lindíssimo, para terminar o filme. Um sorriso de agradecimento e reconhecimento por tudo que um fez pelo outro.
E isso significa mais que tudo!

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