Vale o Piloto? – Emerald City 1x01e02 – The Beast Forever / Prison of the Abject


“Definitely not Kansas” é o novo “We’re not in Kansas anymore”
Esperei por tanto tempo por essa série que em algum momento eu deixei de acreditar que um dia eu realmente a estaria vendo – agora, com a magnífica estreia de Emerald City, eu não podia estar mais feliz… e me perguntando como não foi lançado antes? A série tem uma produção esmerada alinhada com boas interpretações e MUITO POTENCIAL. Os dois primeiros episódios, de estreia, mostram que a Mitologia da série é ampla, e eu gosto de ver que ainda temos muita coisa para explorar. Efeitos estão excelentes, a fotografia é lindíssima, e a série consegue criar um clima só dela que eu adorei. Mistura o místico do Mágico de Oz com algo mais medieval e épico, ao estilo Game of Thrones, com um quê tecnológico e futurístico puxado para a ficção científica, em uma junção na qual você não apostaria, mas ao ver, fica lindíssimo.
Ansiosamente esperando por mais.
Emerald City começa quando Dorothy é deixada pela sua mãe na casa dos tios, e 20 anos depois ela é uma enfermeira que mora em Lucas, Kansas. A construção das cores foi primordial e certeira: meio sépia, meio monótono. A transição entre o Kansas e Oz foi nada menos que GENIAL. Dorothy estava tentando ir ver sua mãe, quando o tempo virou uma loucura, um tornado se aproximou, e ela entrou em um carro policial para se defender (o que lhe deu de presente um “Totó”). Assim, ela chega à Terra de Oz levada pelo tornado em um CARRO, portanto mata a Bruxa Má do Leste ATROPELADA. Quer dizer, ela acha que a matou, mas acontece que a Bruxa Má do Leste não está morta, não ainda, pelo menos. Devo comentar, por sinal, que o visual da East está MAGNÍFICO, com aquele vestido vermelho chamando toda a atenção.
Ali eu percebi o tom que Oz tomaria e já comecei a amar. Dorothy não se vê em um lugar cheio de cor e música e alegria, mas o impacto continua forte porque a transição da quente e sépia Kansas termina em uma Oz coberta de gelo, apresentando “munchkins” muito mais selvagens, em uma espécie de aldeia, falando uma língua desconhecida por ela e dançando em uma espécie de ritual… As Terras Tribais Livres. Saquei um quê de referência à obra original nos olhos estrategicamente pintados de AZUL na aldeia. “You most certainly will have to answer to the Wizard of Oz”. Enquanto isso, conhecemos depressa a “Emerald City”, ou a Cidade das Esmeraldas, e ela é LINDA. Os macacos dessa versão, clássicos espiões do Mágico, são mecânicos e carregam consigo câmeras enquanto voam por toda Oz. É assim que o Mágico descobre sobre a chegada de Dorothy.
E encomenda sua morte.
Ao mesmo tempo em que notamos a possível complexidade do roteiro, através das coisas que são mencionadas continuamente, como a “Besta Eterna” e outras coisas assim, o que confere profundidade e história a Oz, nos admiramos pela beleza dos lugares conhecidos e com a maneira como o roteiro de Emerald City brinca com a obra de L. Frank Baum e a transporta para uma nova realidade, sem perder sua essência ou sua inspiração, e isso é lindo de ver. Eu estava particularmente curioso para ver os símbolos transpostos para essa nova visão do mundo. Como, por exemplo, além dos macacos alados, do cachorro que acompanha Dorothy (“Toto is ‘dog’ in our language”), a Estrada dos Tijolos Amarelos. Os tijolos não são realmente amarelos, mas a estrada de tijolos é tomada por uma camada de pólen de uma flor que funciona como ÓPIO.
A sacada é de uma genialidade sem tamanho!
Mistura a Estrada e o Campo de Papoulas, dois símbolos importantíssimos da obra!
Gostei particularmente da primeira imagem que tivemos de West, a Bruxa Má do Oeste, quando o Mágico e “as garotas de Glinda” vão conversar com ela em uma espécie de “bordel” que ela comanda – a cena, no momento não possível de ser totalmente interpretada, sugere uma complexidade maior na forma como as relações interpessoais se organizam nessa Oz, e eu adoro as possibilidades. Mas algumas coisas se mantêm as mesmas, como o desejo de Dorothy: “Can this Wizard send me home?” É por isso que ela se aventura na “Estrada de Tijolos Amarelos”, influenciada pelo ópio, em uma aventura bem distinta e altamente interessante. Tudo isso depois de conhecer a Prisão da Abjeção, aquele lugar medonho no qual as pessoas são presas em um sofrimento eterno do qual apenas a Bruxa Má do Leste pode salvá-los.
E é assustador.
Então Dorothy conhece o Espantalho. Ou o seu equivalente. “Help me”. Ele é brutalmente anunciado por um corvo sobre a madeira onde o homem foi crucificado e é uma verdadeira AGONIA olhar para o estado de seu corpo, machucado, queimado, devorado… e quando Dorothy o ajuda, ele não sabe o que aconteceu, não lembra seu próprio nome, tem alguns tiques estranhos… “I don’t know. I don’t remember”. O “não ter memória” é um inteligente paralelo ao “não ter cérebro”, e ele se junta a Dorothy na esperança de que o Mágico vá “consertar sua cabeça” – e como ele não se lembra de nada, nem se é inútil ou não, nem de sua aparência, nem de nada, é Dorothy quem o nomeia com o primeiro nome que lhe vem à cabeça: LUCAS. “So Lucas is home? […] Right. Well, Lucas it is”. E então vemos o retorno da Bruxa Má do Leste.
Que veio para mim como uma surpresa.
E termina como um delicioso choque bem construído!
Sua descrição envolve “misericordiosa” e “severa”, em uma ideia paradoxal já bastante perturbadora. Ela lança contra Lucas e Dorothy o seu poder, alternando as cenas entre eles caídos na Estrada de Tijolos Amarelos ou devorados na Prisão da Abjeção, em uma edição desconcertante e admirável, enquanto só posso descrever sua tortura como a Cruciatus. É uma cena angustiante. E quando East ameaça os dois com a arma que Dorothy carrega, ela a engana para que atire em sua própria cabeça, e dessa vez morra de verdade. Então, Dorothy matou LITERALMENTE e intencionalmente a Bruxa Má do Leste nessa versão. Mas não sem um bom motivo, claro. “The Witch of the East is Dead”. E quando isso acontece, a Bruxa Má do Oeste, lá na Cidade das Esmeraldas, sente, e enquanto ela dá o seu grito de pavor e angústia, nós percebemos que ela está com um vestido VERDE.
Também conhecemos Glinda, em um misterioso lugar todo branco.
Os símbolos são bem trabalhados – os “sapatinhos” dessa versão estão na forma daquelas “luvas” (em falta de termo melhor) de ouro e rubi, que supostamente carregam os poderes da Bruxa Má do Leste, e agora estão com Dorothy… como eu digo, é GENIAL. As últimas Bruxas Cardinais, West e Glinda, se reúnem para falar sobre o Templo onde o funeral pode ser realizado, e a tensão entre elas é palpável! Enquanto isso, os “Leões” são citados talvez como um povo. Mas anuncia-se o ritual de sepultamento, enquanto Glinda e West falam sobre o Sul, sobre a Prisão, sobre como a magia de uma Bruxa pertence a ela e só a ela, e o Mágico libera o funeral para ser assistido por todo o povo de Oz – para lembrar o tempo antigo de Oz. É um ritual desconcertante, apavorante. Macabro. West, quase possuída, toma o espírito da irmã, explode o lugar e cai, fraca, enquanto suas “ajudantes” parecem entrar em convulsão.
Novos personagens são apresentados enquanto Lucas não está nada bem e Dorothy busca ajuda em uma boticária, Mombi, que mantém um garoto, Tip, prisioneiro, supostamente para seu próprio bem, por suas crises de histeria. Ali descobrimos informações importantes, como o fato de Lucas pertencer à Guarda de Oz (pela sua espada), e é genial e perturbador, porque eles comentam o que foi feito em Nimbo, a chacina que queimou todo o povo, e você quer saber quem é Lucas, de fato. Depois que Lucas quase morre envenenado e é salvo por carvão que Dorothy lhe dá, ambos resolvem fugir e ajudam Tip a escapar também, para o meio da floresta com o seu amigo… e fica Dorothy e Lucas contra Mombi, e Mombi é perigosa e poderosa, aquele grito me arrepiou! Então Lucas a matou. Assim, não sei o que me apavorou mais.
O grito de Mombi.
Ou a selvageria de Lucas.
Porque foi assustador. O primeiro golpe de espada foi em legítima defesa, para proteger Dorothy. Os próximos, depois que ela já estava caída no chão, foram animalescos. Ele pareceu mesmo um assassino do Mágico. E Dorothy ficou apavorada, andando pela Estrada, seguida insistentemente por ele, cheio de sangue. Mas acho que Mombi, de algum modo, ainda sobreviveu. Na Cidade das Esmeraldas, West está sobrecarregada, e quando Glinda lhe questiona sobre os feitiços da Bruxa Má do Leste, ela os coloca para fora, “vomitando magia”, que é levada em um pote por Glinda – e a impressão é nítida de que Glinda NÃO é boa nessa versão. Um bom cliffhanger se constrói porque você quer saber quem é Tip, e como ele pode ter se transformado em uma garota no meio da floresta, de uma hora para outra. A série está de parabéns! Excelente e LINDA produção que nos prende, certamente.
E a qualidade do roteiro? <3

Para mais Pilotos de série, Vale o Piloto.


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