A Viagem (Cloud Atlas)


E o Oscar de Melhor Maquiagem vai para…
Não, não vai. Não vai porque em uma das maiores injustiças da história do cinema mundial, Cloud Atlas simplesmente ficou de fora da competição. TOTALMENTE DE FORA! Oficialmente o filme é listado como Alemão, e uma produção independente, considerado um dos mais caros filmes independentes já produzidos – parece que dessa maneira ele meio que está por fora dos circuitos. Mas ok, injustiças deixadas de lado, vamos apreciar o filme! Que filme intrigante, não é?
Você começa o filme com uma expectativa gigante, e aos poucos vai se encolhendo na cadeira com uma expressão de “Mas que diabos está acontecendo?” – tudo que ouvia das pessoas em volta de mim durante a sessão era “Não estou entendendo nada”. E era mais ou menos a sensação que o filme te passava inicialmente. Os primeiros cinco minutos acho que não foram feitos para ser entendidos de primeira. Depois começamos a acompanhar cada uma das seis histórias e as entendemos cada uma em seu lugar facilmente, o truque está em ligá-las todas.
Ficamos presos a determinado tempo (tempo esse que vai desde 1849 até um futuro pós-apocalíptico) até que alguma coisa forneça o gancho para puxar outra história, e vamos pouco a pouco entendendo como uma vida interfere na outra, e as cenas similares acontecendo em momentos diferentes da história, ou os flashes dos outros tempos são sempre espetaculares. O roteiro é bastante complexo e perfeitamente calculado para que os detalhes se unam e a história de seis tempos diferentes se tornem uma história só. Complexo e inteligente, o filme merece aplausos.
A primeira história, em 1849 e no Oceano Pacífico, nos apresenta o jovem Adam Ewing, um advogado que acaba presenciando um açoite e em sua volta para casa descobre o escravo escondido no navio, a quem ajuda. O mesmo escravo, mais tarde, o livra da morte de quem estava envenenando o jovem Ewing. Em 1936 e na Escócia e Inglaterra, acompanhamos Robert Frobisher, um músico muito talentoso separado de seu grande amor e que foi trabalhar para um dos maiores gênios da música daquela época – é ele o responsável por compor The Cloud Atlas Sextet, uma obra-prima.
A terceira história é a que apresenta o menor pulo temporal, indo apenas para 1973, onde vemos um velho Sixsmith, o amor da vida de Frobisher, e a quem este escreveu várias e várias cartas. A leitura das cartas é a minha parte favorita do filme, porque aquilo foi a coisa mais emocionante do filme todo. As cartas, após a morte de Sixsmith, acabam nas mãos de Rey, com a vida ameaçada e envolvida a revelar ao mundo uma grande conspiração.
A quarta história, em 2012, deve ser a mais divertida de todas. Se passa no Reino Unido, e acompanhamos um velho publicador Timothy Cavendish, que após uma cena chocante e seu “momento de Cinderela”, acaba tendo que pedir ajuda ao irmão por um dinheiro que não tem – cansado disso, o irmão o tranca em um asilo para velhos, do qual ele arma todo um plano de fuga junto a seus novos amigos (“I know! I know!”) que funciona engraçadamente bem.
Em 2144, na Coréia, temos a história mais futurística (não em tempo, mas em tecnologias e etc.) e conhecemos Sonmi-451, uma fabricante criada em laboratório e que trabalha como garçonete em um restaurante. Sua história é uma das mais interessantes por mostrar escravidão e abuso sem muita piedade do espectador. O final de sua história é emocionante e absurdamente triste. Chocante e agonizante. Pelo menos suas cenas com Hae-Joo Chang foram bem fofas, mesmo que tenhamos demorado alguns minutos para começar a confiar de verdade no personagem.
E por fim, a última história se passa em um futuro pós-apocalíptico sem data específica, mas marcado como “106 Invernos depois da Queda” e vemos Zachry atormentado por sua própria versão de demônio (que é meio creepy, diga-se de passagem) e que conhece Meronym, uma das últimas pessoas sobreviventes de uma sociedade avançada tecnologicamente – juntos os dois partem para Cloud Atlas, um lugar onde ela poderá mandar sinais para colônias que vivem agora fora da Terra, e juntos (com a sobrinha também) eles partem para uma vida no Novo Mundo.
Agora a maneira como essas histórias se unem em uma só é genial. Porque vemos os atos tanto de bondade quanto de crueldade sendo ecoados ao longo dos séculos, e uma vida interferindo em outra assombrosamente. As conexões podem ser sutis em alguns casos, mas nem sempre – um nome, uma composição musical, cartas, o mesmo ator… de qualquer maneira, elas se unem, se mesclam e nos confundem, nos deixando desesperados para capturar cada detalhe. Mas é impossível numa primeira vez. Eu, por exemplo, sinto a necessidade de ver o filme mais uma vez, e tenho certeza de que aproveitarei mais.
Mas os parabéns merecidos à produção e aos atores do filme, que fizeram uma obra-prima de três horas de duração. Os cenários são amplos e detalhados, nos guiando através dos vários mundos e tempos, e os atores enfrentaram talvez os maiores desafios de suas vidas, interpretando até seis personagens ao mesmo tempo! A primeira pessoa que eu notei se repetindo foi o Jim Sturgess como Ewing e como Hae-Joo Chang e então a ficha caiu e todas as peças começaram a se encaixar… na verdade ele ainda interpreta mais quatro personagens no filme todo!
No final, os créditos são um pouco especiais para nos mostrar o elenco e seus respectivos papéis ao longo do filme. Me pareceu uma genialidade completa! Eu preciso ver o filme novamente, tendo conhecimento de todos esses. Porque alguns atores estão irreconhecíveis de um tempo a outro, e é aí que eu volto ao início de meu texto e elogio a maquiagem. A maquiagem é TUDO nesse filme! Espetacular, criando seis personagens distintos para cada ator (quase todos, alguns tem apenas 4 ou 5 personagens), é surpreendente olhar para aqueles créditos e então apontar e dizer “Nossa, era ele ali!” – como a enfermeira da história 4!
É um filme complexo e visionário, e você provavelmente gostaria de assistir mais de uma vez. Certamente é um daqueles filmes que a cada vez que você assistir você entenderá um pouquinho mais, e conseguirá se dar conta de mais detalhes. O filme é repleto deles. Me deu uma vontade gigante de ler o livro que deu origem ao filme agora, se eu fizer isso, trarei um comentário ao blog! Enquanto isso, eu realmente recomendo que vocês assistam esse filme, e deem aos seus cérebros uma chance de fritar. Até mais!

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