3% 1x05 – Água


“Você é o criador do seu próprio mérito”
Um episódio completamente diferente motivado pelas investigações de Aline sobre Ezequiel. Descobrimos Ezequiel cuidando de um garotinho no continente, Augusto, um garoto que presumimos, na época, que fosse seu filho. Quando as verdades ameaçam vir à tona por causa das gravações e das digitais que Aline descobriu, chantageando Ezequiel, um episódio sem participação dos candidatos nos leva de volta no tempo para apresentar-nos a esposa de Ezequiel: Julia. Cinco anos atrás (e eu achei que teríamos alguma coisa clara sobre o irmão de Michele), no 99º Processo, Ezequiel fazia a sua estreia como responsável pelas provas, nervoso, tendo a inspiração da esposa para o seu famoso discurso que se repetiu em todos os anos seguintes. E quando Julia, trabalhando como entrevistadora, elimina uma candidata sem que ninguém entenda de fato os motivos que a levaram a fazê-lo, as coisas começam lentamente a sair do controle. Pelo menos para Julia. E um pouco para Ezequiel, intensamente influenciado por ela e por seu despertar doloroso que destrói toda a ilusão de “perfeição” do Maralto.
“Vai dar tudo certo porque você merece”
No 100º Processo, um ano depois da estreia de Ezequiel, um caso particular no Continente causou toda uma confusão, com a prisão de membros da Causa, uma morte – e então Julia não consegue mais lidar com toda a situação. Ela começa a perder a cabeça, a lucidez. Chora com o vídeo, fala para uma candidata eliminada sobre como o Processo é injusto, bate nessa candidata que a chama de vaca depois de dizer que ela tinha tudo e, por isso, não sabia como era. É uma situação surpreendente, e potencialmente problemática. Nós tentamos, sempre, entender as motivações de Julia, o que a levou a agir daquela maneira. Acontece que o Processo é MESMO injusto, e ele exige uma frieza sobre-humana que a Julia não está disposta a demonstrar. A responsabilidade começa a pesar demais, psicologicamente a Julia não consegue mais lidar com tudo o que está sentindo – sua sensibilidade aflora motivada pelo vídeo de um garotinha chorando enquanto aquela operação para prender pessoas da Causa se instalou.
3º ano de Ezequiel, 101º Processo…
É evidente o quanto tudo começa a ficar doentio. A lucidez se fora, Julia perde o foco, se entrega à obsessão, busca incansavelmente pela casa onde o garotinho do vídeo foi visto pela última vez. E então nós entendemos: TRATA-SE DE SEU FILHO! O garotinho que aparece chorando no vídeo é o filho de Julia, aquele que ela foi instruída a não nomear, para que não se apegasse, caso ele não passasse pelo Processo, aquele que ela, instintivamente, chamou de Augusto um dia. Não há, no instinto materno, a frieza que Ezequiel quer exigir dela. Não há perfeição de vida alguma no Maralto que a iniba de sentir por seu filho, de amá-lo e querer estar com ele. O desespero dela é palpável e doloroso. “E as pessoas que a gente deixa pra trás? O meu filho que a gente deixou pra trás?” Empatia. “Você não sabe o que eu acredito! Você só enxerga em mim o que você quer enxergar!” Eu achei Julia um personagem fascinante que funciona como um inteligente contraponto à toda a mitologia do Processo. Ela é quem parece mais humana, quem nota a frieza do processo…
…e tudo o que há errado.
Com a Sociedade. Com o Processo.
Por isso ela faria de tudo. Ela faria de tudo porque mães fazem de tudo pelos filhos. Esfarrapada, acabada, ela tenta fugir das instalações do Processo e é “resgatada” à força por Ezequiel, que a manda para o Maralto para tratamento – ao qual ela não reage bem, claro. Dói-me ver sua rclusão, seu estado, seu olhar vago, sua dor e seu sofrimento… eu entendi que não há recuperação possível de uma dor dessas, a não ser que você seja frio como as pessoas do Maralto aparentemente são. Por isso, com toda a dor, temos uma cena lindíssima e, sim, desesperadora, na qual Julia caminha para a água e se mata. É angustiante, mas é poético. Foi aí que Ezequiel começou o ritual de quase “se afogar” diariamente, e eu acho que talvez na primeira vez ele tenha pensado em se matar de fato, mas não conseguiu ir até o fim. Talvez seja uma vitória diária que ele consiga parar a si mesmo e não seguir Julia. É assim que Ezequiel foi atrás de Augusto, o pequenino Augusto, e forjou com ele uma relação de proteção que agora ameaça toda sua carreira no Processo…
Mas quanto vale o poder, o status, a “vida perfeita”, sem a noção de humanidade?

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