A Família Addams, o Musical

Mágico. Foi maravilhoso, uma experiência única, e um dos melhores musicais que eu já assisti ao vivo. Não vi tantos assim ao vivo, mas certamente fica acima de Hairspray e Cabaret, e é tão distinto de Hair que torna-se impossível qualquer tipo de comparação. Mas fez com que eu me sentisse feliz, contente… eu queria aplaudir, queria gritar, queria cantar junto com eles. Um sorriso estampou minha cara durante toda a sessão.

Tudo é muito bem construído. O musical da Família Addams é preciso demais. Tudo se encaixa em seus mínimos detalhes, e o conjunto da obra é grandioso. Uma superprodução, que faz bem aos olhos. Encanta, emociona e faz rir… além de, claro, deixar várias músicas rodando repetidamente em nossa cabeça… isso só prova como o musical é bom.

Detalhes técnicos fazem toda a diferença. O mundo da Família Addams foi reproduzido com precisão. Figurinos muito bem feitos, detalhados, remetendo claramente aos personagens do desenho clássico; cenários grandiosos, repletos de camadas e efeitos, tornando tudo muito real e rico. A abundância e a beleza dos cenários me deslumbrou. Quando a cortina subiu, no início da peça, eu quase babei com toda aquela produção do cemitério, com o portão e tudo…

A orquestra faz um trabalho memorável. As melodias são marcantes e deliciosas. Mas o que emociona mesmo é ouvir o clássico tema da Família Addams. No começo da peça eu me emocionei demais em ouvir aquilo (e então ver a mãozinha, seguida pelo admirável cenário e a brilhante Pra Quem é Addams), mas mais ainda no final. No curtain call, o tema foi tocado mais uma vez, e a plateia toda fez sua parte nas palmas… lágrimas me vieram ao rosto sem que eu pudesse impedir.

Mas final de musical é sempre triste para mim. Não é sempre que eu posso ir assistir, tenho que aproveitar quando vou.

E é uma diversão magnífica. Como eu ainda não falei nada sobre a história do musical, acho que essa seria uma boa hora. No musical, Wandinha cresceu um pouco e está apaixonada. Para pesadelo de seus pais, está apaixonada por um garoto normal – ou seja, um doce e esperto jovem, de uma família respeitável (como consta no programa). Quando eles decidem se casar, e Wandinha pede que seu pai guarde esse segredo de sua mãe, as coisas podem não sair muito bem, porque um “jantar em família normal” está sendo produzido.

Você certamente passará muitos momentos rindo. Desde piadas a Celine Dion e Disney Channel (amei a parte da Disney!), até piadas a músicas de Michel Teló e (pasmem!) Fester entrando ao som de “Para noossa alegria!”; piadas bastante brasileiras (inclusive nas letras das músicas), um sublime momento de “meu pequeno código de barras” (a cena teve que ser interrompida, porque as risadas duraram um bom tempo e quando os atores tentaram continuar a cena começaram os aplausos). Mas não há cena tão engraçada quanto a chegada de Alice e Mal (pais de Lucas, o noivo de Wandinha) à casa Addams e os membros da família tentando se fazer de “normais”. Ri do começo ao fim da cena.

Músicas, músicas. Várias foram magníficas, mas destaco algumas: Pra Quem é Addams começou a peça, teve toda aquela magia, aquele encanto. Ainda emocionados pelo momento, e pelo tema clássico recém-tocado, a cena é magnífica. Os estalinhos da coreografia são impagáveis, as caracterizações são incríveis… passamos a música toda admirando os figurinos e o cenário, além da boa interpretação ao estilo Família Addams… não tem muito como descrever uma cena tão perfeita!

Amei as cenas de Laura Lobo como Wandinha, e as melhores músicas são dela – como Bom Caminho, simplesmente genial (e Nicholas Torres foi fantástico no papel de Feioso; na minha sessão, o papel estava com Nicholas, não sei nada sobre a interpretação de Gustavo Daneluz). Só Dessa Vez, que em breve será Música da Semana. A música é perfeita, a cena toda é magnífica, e Wandinha (Laura) e Lucas (Beto Sargentelli) a liderando funcionam perfeitamente – dois grandes talentos que se encaixam super bem.

E Se merece destaque principalmente para a parte de Nicholas (Feioso). Ele arrasou, e não podemos deixar de admirar o talento de alguém tão novo. Toda a plateia sentiu necessidade de aplaudir esse seu solo, e esse seu ótimo trabalho. Eis o Jogo encerra o primeiro ato muito bem, com uma coreografia divertida e gostosa… é ótimo ver as expressões diferentes de cada um, fazendo exatamente o mesmo gesto (destaque para o susto de Wandinha e a felicidade boba de Lucas).

A Lua e Eu merece aplausos pelos incríveis efeitos – Fester flutuando até a lua, as estrelas, tudo muito bem feito que te encanta. E a melhor de todas as músicas da peça, com toda a certeza: MAIS LOUCO QUE VOCÊ. Eu fiquei totalmente eletrizado na cena; a música era incrível (que ritmo, que ritmo; que letra, que letra), a cena era maravilhosa, e como eu já disse, Laura e Beto são ótimos juntos. Exatamente como a da tour, e não como a da Broadway, tenho umas considerações: o figurino de Lucas assim é bem melhor, e a interação entre os atores é muito mais interessante do que da primeira versão, com um Lucas mais rapidinho, mais agitado no refrão... mas Alice e Mal cantando essa música realmente não combina... é um momento de Lucas e Wandinha, e que ficaria muito melhor apenas com os dois, como na versão original da Broadway.

Continuando sobre os atores, vou começar falando de Laura Lobo e Beto Sargentelli, como Wandinha e Lucas, respectivamente. Me apaixonei pelo trabalho dos dois; são dois grandessíssimos talentos, que funcionam com perfeição juntos. As cenas dos dois, as músicas (as voz dos dois, uma após a outra, incrível). Os atores têm química no palco, e mostram um casal convincente – e eles ficam lindo s juntos, sem mais. Claudio Galvan é ótimo e divertido como Fester; e Nicholas é ótimo como Feioso, como já comentei. Wellington Nogueira (Mal), Paula Capovilla (Alice), Rogérgio Guedes (Tropeço), Iná de Carvalho (Vovó)… todos ótimos, com belas piadas e maravilhosos momentos. E Marisa Orth (Morticia) e Daniel Boaventura (Gomez) são bons, mas não vá ao teatro esperando apenas por eles, e achando que eles vão ser a melhor coisa do musical… porque Laura e Beto conseguem roubar muito a cena, e eu gosto mais deles.

O musical é simplesmente maravilhoso. Uma experiência revigorante. Para todos que tiverem a oportunidade de comparecer ao Teatro Abril, em São Paulo – SP, o musical está em cartaz de quinta a domingo… não vejo a hora de poder ver mais musicais (meus próximos devem ser Rent, O Mágico de Oz e acabo de acrescente Fame à lista), e esperar por novas produções no Brasil… é demais esperar por Ghost? Até mais!

-Você está infeliz, querida?

-Oh, sim, sim! Completamente!

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