Sandman, Volume 5 – Um Jogo de Você (O Nascer da Lua Má / Começando a Ver a Luz)

“É como se a gente tivesse caído pelo buraco do coelho, acordado lá no… sei lá… no porão do Stephen King”

Definitivamente, “Sandman” tem uma galeria de personagens fascinantes – e “Um Jogo de Você” é uma prova clara disso. Depois de trazer de volta Barbie (ou “Princesa Bárbara”, como ela é chamada enquanto está sonhando), o novo arco da HQ de Neil Gaiman também apresentou personagens perfeitamente únicos e interessantes, como a Wanda e a Thessaly, enquanto a trama se desenvolve em mais de um núcleo novamente. Bárbara foi convocada para a “Terra”, em uma missão contra o Cuco, alguma criatura perversa que quer lhe fazer mal, enquanto ela ganha uma ajuda externa (Thessaly liderando uma “equipe de resgate”, Wanda ficando do lado de fora, cuidando do seu corpo adormecido) e o olhar atento do Senhor dos Sonhos sobre ela, até que, talvez, seja necessário interferir.

O terceiro capítulo de “Um Jogo de Você”, intitulado “O Nascer da Lua Má”, não traz nada da “aventura” de Barbie, apenas uma visão externa do que está acontecendo, quando Thessaly bate de porta em porta do prédio que acabou de ser atormentado por pesadelos simultâneos, reunindo Foxglove, Hazel e Wanda para irem ao resgate de Barbie – porque sabe que alguma coisa está acontecendo com ela, embora ela ainda não saiba bem o quê. Thessaly é uma personagem no mínimo intrigante: extremamente direta, não muito boa com brincadeiras, segundo ela mesma, ela fala com naturalidade sobre ter matado o George, por exemplo, o que deixa as meninas cabreiras, e com toda razão. Afinal de contas, Thessaly acabou de confessar um assassinato.

Uma das sequências mais sinistras de “Um Jogo de Você” até agora vem justamente graças à Thessaly, que pede que Foxglove, Hazel e Wanda levem Barbie com cuidado até o apartamento de George no andar de cima. Enquanto Barbie dorme (e sonha) com a Porpentina sobre o peito, Thessaly prepara uma maneira de descobrir exatamente o que está acontecendo: ela só precisa conversar com George. Aparentemente, ela é do tipo que “mata primeiro e faz perguntas depois”. Assim, Thessaly retira a pele do rosto do cadáver de George, os olhos e a língua, e os prende com pregos na parede e o convoca de volta para que possa responder às suas perguntas – algo extremamente macabro e assombroso, que Thessaly faz com uma naturalidade indizível e que assombra às demais.

Sabendo a respeito do Cuco, então, a quem George servia, e que ele devia estar tentando usar alguma das mulheres do prédio como sua marionete (por isso os pesadelos) para roubar de Barbie a Porpentina em seu pescoço, Thessaly tem informação o suficiente para fazer o que precisa ser feito a seguir: ela desce a lua do céu para pedir (ou melhor, ordenar) que ela as leve até o sonho de Barbie – Wanda fica para trás, para cuidar do corpo físico de Barbie, e tem uma conversa breve e intensa com o cadáver de George, que vemos durante o quarto capítulo do arco, “Começando a Ver a Luz”, enquanto Thessaly, Fox e Hazel caminham pela Estrada da Lua. São duas páginas, mas duas páginas fortes, angustiantes e cheias de informações e de perigos futuros.

E mesmo descobrindo que pode sair do apartamento agora, se quiser, Wanda não o faz.

Ela vai ficar porque Barbie precisa dela.

Barbie, a Princesa Bárbara, tem vários olhos cuidando dela. Enquanto Thessaly e as demais tentam chegar até ela depois de terem colocado o mundo em perigo convocando a lua ou algo assim (George fala sobre como isso deve ter mexido com as marés e com o clima, algo com que eles deviam se preocupar agora), e Wanda fica cuidando de seu corpo adormecido no “mundo real”, o Senhor dos Sonhos também colocou alguém para vigiar cada passo de Bárbara, e até diz a Nuala que “ela fez bem” ao interferir, tentando avisar Bárbara de que “alguma coisa estava errada”. Bárbara, por sua vez, caminha pelo que chamam de “Terra”, um lugar presente em seus sonhos, mas que existia muito antes de ela sonhar com ele. Um lugar de mistérios e perigos que ela ainda não entende.

Ela só espera saber o que precisa ser feito quando chegar a hora.

A Terra precisa dela.

Gosto de como há algo de medieval, de épico e algo de inerente às grandes jornadas heroicas que sagas famosas da literatura, como “O Senhor dos Anéis” – em algum momento, a narração de Bárbara chega a falar sobre como se sentiu como o Bilbo na Floresta das Trevas, “naquele trecho em que as aranhas gigantes atacam”, por exemplo. A primeira parte da jornada da Princesa Bárbara (vestida com roupas parecidas com as que ela imaginava, quando era criança, que as princesas usariam) acontece na neve, e conta com informações que podem ser úteis a respeito do “Cuco Europeu”, além do reencontro com Tantoblin, morto recentemente tentando entregar para Bárbara uma mensagem que, infelizmente, ela ainda não consegue entender quando abre o pergaminho.

E que logo se perde.

Depois da neve, a Princesa Bárbara acorda aquecida na floresta que é a segunda parte de sua jornada – algo menos inóspito, mas cuja sombra é garantida pela sensação de olhos que a observam o tempo todo, enquanto ela caminha ao lado dos companheiros durante dias e dias e dias exaustivos e intermináveis. Prinado é o próximo companheiro da Princesa Bárbara a ser morto numa das vezes que sobe ao topo das árvores para ver ao longe. Acreditei que depois seria a vez de Luz, que se afasta “em busca de amigos”, mas é mais surpreendente do que isso, porque Bárbara precisa enfrentar a traição de Luz, que estava trabalhando fielmente para o Cuco, durante todo esse tempo, levando a princesa para a Cidadela do Cuco – que se parece à cidade de infância de Bárbara.

Agora, ela precisará enfrentar seu destino.

 

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