Anos Dourados – Desejo, repressão e desentendimento

Caos e infelicidade!

Nem só de flores vive um romance proibido… jovens são complicados. Marcos e Lurdinha enfrentaram seus problemas para estarem juntos. Eles começaram a namorar às escondidas, porque a família de Lurdinha não suportava a ideia de ela namorar “o filho de uma separada”, e eventualmente ganharam uma “autorização” que visava permitir para que Lurdinha se decepcionasse, mais cedo ou mais tarde, por conta própria e deixasse o Marcos, e foi assim que o romance durou mais de um ano… até o momento em que as coisas dão errado, e tudo por causa de uma sociedade conservadora que via o desejo como algo “proibido”, “indecente” e “pecador”. É daí que vêm os problemas de Marcos e Lurdinha, e as coisas escalam de forma absurda!

Precisamos entender que o desejo é natural, e não algo a ser condenado – mas sabemos que, na sociedade dos anos 1950, não se pensava assim… muitas vezes, ainda vemos pensamentos e discursos conservadores nesse sentido HOJE, imagina?! Marcos e Lurdinha estão percebendo os beijos ficando cada vez mais quentes, e coisas despertando dentro deles. Marcos confessa a Urubu que “está ficando igual a ele”, porque só pensa em sexo 24 horas por dia; Lurdinha, por sua vez, passa a demorar mais tempo no banho, e as conversas com a mãe não ajudam em NADA para amenizar o que ela está sentindo, porque a mãe acentua a repressão que faz com que Lurdinha se sinta “impura” e “errada” por sentir o que sente, o que gera todo um conflito interno e uma dor inegável…

Celeste diz à filha que “o homem é um bicho com quem elas têm que tomar muito cuidado”, porque “nenhum homem vai querer se casar com uma mulher que ‘se perdeu’”, e embora Lurdinha esteja visivelmente incomodada com suas dúvidas e com suas dores e Celeste diga que “se ela tiver dúvidas pode vir falar com ela”, quando Lurdinha começa a falar alguma coisa a respeito de suas dúvidas, Celeste encontra qualquer desculpa para tentar escapar… é uma cena REVOLTANTE. Celeste não quer falar de verdade sobre as dúvidas de Lurdinha… ela só quer dizer que “ela deve ficar pura até o casamento”. Embora Lurdinha pergunte diretamente à mãe se “uma mulher deseja como um homem”, a mãe só diz que ela tem que “esperar sua hora” e tenta acabar a conversa com “Que assunto, Lurdinha!”.

É desesperador pensar em tantas gerações que viveram podadas, sem poder falar sobre sexo, porque era um tabu muito grande, e sendo “impedidas” de sentir algo tão natural como o desejo, e a conversa de Lurdinha com a mãe é a representação perfeita de todos os danos que esse tipo de criação geram em uma pessoa. Celeste faz com que Lurdinha se sinta ainda mais culpada e ainda mais pecadora (“Quem faz patifaria, Lurdinha, é vagabunda”). E “Anos Dourados” faz um paralelo interessante do que está sendo dito a Lurdinha, uma mulher, e do que é dito a Marcos, um homem. Ele também está cheio de sentimentos e de dúvidas… ele se pergunta se “sozinho faz mal” e fala sobre como ele está apaixonado e seria capaz de se deter até o casamento…

Mas ele quer ENTENDER porque “as coisas são assim”.

Lurdinha e Marcos brigam quando Lurdinha acha que Marcos “passou do limite”, mais porque foi colocada essa ideia de “pecado” e de “pureza” em sua mente do que porque ela também não quisesse, e Marcos é levado para uma “casa” pelo pai de Urubu, porque ele diz que “o homem precisa de uma válvula de escape”. Eu gostaria de dizer que esse era um discurso comum nessa época, mas, infelizmente, me entristece saber que esse discurso ainda é bem presente hoje em dia. Pensando em Lurdinha o tempo todo, no entanto, Marcos não consegue fazer nada e, agora, ele fica se sentindo ainda pior! Ele está triste pelo que sente, ele está triste pela briga com Lurdinha, e agora ele está triste porque “não se sente homem” – é surpreendente a cena em que ele chora e abraça Urubu.

Todo o episódio de “ele não conseguir” faz com que ele duvide de si mesmo e queira uma “prova” de que foi só dessa vez e de que o “problema” não é ele – todo um comportamento que também é fruto da cidade conservadora em que ele está inserido. E é aí que o problema se agrava. Lurdinha chora pela ausência de Marcos, decide que a briga foi sua culpa e pergunta à amiga, Marly, se ela acha que o Marcos voltaria com ela se ela pedisse, então ela decide ir atrás dele, mas ela o faz justamente quando Marcos está cometendo o pior de seus erros, que é finalmente ceder às insistentes investidas de Rosemary… nessa tentativa de “se provar”, Marcos beija Rosemary e Lurdinha os vê juntos. É um verdadeiro caos, e sabemos que, agora, deu tudo errado de vez.

Marcos chama por Lurdinha e corre atrás dela, mas ela diz que não quer ouvir, que o que ele fez não tem explicação e que ela nunca mais quer olhar na sua cara (amo a briga de Lurdinha e de Rosemary na escola depois e toda a energia de Lurdinha de “Eu vou dar na cara dessa menina!”). Da mesma maneira, quando Marcos tenta ir atrás de Lurdinha, ele a vê em um encontro com outro, e ainda que eles não estejam se beijando e, na verdade, Lurdinha esteja dispensando o rapaz dizendo que ela ainda gosta de Marcos, Marcos fica bravo e investe oficialmente em Rosemary. Então, Marcos e Lurdinha passam a se machucar continuamente. Marcos está mesmo namorando a Rosemary, e transa com ela, enquanto Celeste aproveita a oportunidade para tentar jogar a filha para “um moço de boa família”.

E todo mundo está infeliz!

 

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