Quase Normal – O elenco brasileiro


Muito talento.
Interpretar Quase Normal não é nada fácil. Numa história tão grande com 6 atores sobre uma mãe bipolar/esquizofrênica e todos os problemas que afetam a família, nenhum personagem é simples. Cada um é bastante distinto entre si (embora haja alguns paralelos importantes) e cada um apresenta uma dificuldade única que o caracteriza. Todos enfrentam um trabalho árduo. Eu tentarei fazer o texto com o menor número possível de spoilers, mas certamente alguns escaparão. Se não quer conhecê-los, não leia o texto.
Eu vou começar lá pelos médicos. O Dr. Fine e o Dr. Madden foram interpretados por ninguém menos que André Dias (que muitos anos atrás – muitos mesmo – foi Angel na versão nacional de Rent!). E ele é ótimo. Consegue ser extremamente engraçado como qualquer um dos dois (muito bem representado pelo psicofarmacologista fanático por remédios x o terapeuta rockstar), e tem uma profundidade imensa quando necessário, transmitindo uma emoção genuína. Alguns dos momentos mais reveladores são dele, e ele sempre se sai muito bem. Como o final da reprise de You Don’t Know que é um de meus momentos favoritos…
A Carol Futuro criou uma Natalie Goodman própria dela. Não digo realmente que ela se distanciou da Broadway, afinal suas falas são exatamente as mesmas, e as reações basicamente também, mas de alguma maneira ela deu sua própria identidade à personagem, e eu amei a Natalie brasileira. Impetuosa e explosiva. Aplicada e insegura. Apaixonada e “elétrica”. Além de uma voz esplêndida e uma atuação engraçada se necessário, mas emocionante nos melhores momentos. Nos leva às lágrimas nas suas interações com a mãe.
O Henry de Victor Maia me pareceu levemente mais romântico e menos louco do que na versão da Broadway. Gostei dele. Sua atuação é impecável, sua música com Natalie (Perfeito pra Ti) fez toda a plateia suspirar e sorrir, e o ator é extremamente carismático. Ou o personagem, ou os dois. Mas é ótimo vê-lo reagir às ações tanto de Dan quanto de Diana, e ver como rouba a cena mesmo quando no original ele não estava – trabalho maravilhoso! Amo o paralelo dele com o jovem Dan… são dois momentos que fazem isso, mas é simplesmente genial!
Cristiano Gualda fica com um personagem bastante difícil. Ser o Dan Goodman não é fácil, e quando nos colocamos no lugar dele por segundos entendemos tudo: com um sofrimento traumatizante que ficou guardado dentro de si, uma esposa à beira de um penhasco e a necessidade e a esperança de manter aquela família unida. É de partir o coração vê-lo sofrer, vê-lo se cansar de tudo, vê-lo nas cenas finais… e Gualda fez o trabalho tão bem feito que é sempre muito emocionante! Além de uma voz maravilhosa, huh?
Podemos dizer que Olavo Cavalheiro seria o que mais teria dificuldade comigo, afinal minha imagem de Gabe ainda era muito de Aaron Tveit. Mas ele foi tão perfeito no papel que agora ele compartilha com Aaron minha concepção de Gabe. Que não é exatamente a mesma. Sempre colocam um ator bonito fisicamente para interpretá-lo, pela necessidade de ser sensual e sedutor; mas Gabe é um personagem confuso, com muito mais do que isso: por vezes gentil, educado; depois determinado, convincente, sedutor; e então hostil, cruel, mau; e frágil, repleto de sofrimento. Agora imagina o trabalho do ator para fazer tudo isso?
Mas Olavo tira de letra. Sua interpretação é impecável e não há do que reclamar. Eu amo a intensidade que ele colocou no personagem. Ele conseguiu fazer isso através de suas falas e através de suas músicas. Amei como ele interagiu mais diretamente com o pai em Sou Eu e Sou Real, que ficou incrível, afinal alguns trechos da música eram diretamente ligados a ele. E também amei a mudança na sua voz para a interpretação de Aftershocks, que é arrepiante! Interpretação perfeita. Mais suave mas ao mesmo tempo mais intensa; mais alta e mais rouca; um sussurro de uma sombra vinda do nada lutando para sair… perfeito! Conseguiram se livrar de mim, nem rastro meu ficou…
Mas não… ele ainda se destaca pela sua maravilhosa interpretação corporal e facial. É incrível e evidente em seu olhar cada um dos sentimentos. E é ótimo como ele colocou isso e pareceu tão Gabe. Amei essa jogada diferente em colocá-lo debilitado para cantar Estou me afundando (Catch me I’m falling), e os olhares e sorrisos malignos que acompanharam cenas como o jogar fora os remédios da mãe ou dá-los a Natalie… e sua entrada para Superboy… ou ainda o brilho em seu olhar ao ouvir a mãe falando em “morrer”; ou ainda a emoção palpável na partida da mãe e na conversa com o pai… genial.
E claro, a talentosíssima Vanessa Gerbelli desempenhando um papel impecável como Diana Goodman. Porque convenhamos que é uma personagem dificílima. Com o caso clínico que apresenta, é muito complicado apresentar as oscilações de humor. As músicas colaboram muito para isso, cada uma com uma entonação diferenciada para qualquer momento da vida de Diana e seu estado emocional na cena… e Vanessa arrebenta cantando cada uma delas, porque que voz é aquela! Perfeita.
Mas é muito bom ver como ela é convincente em todos os momentos. Seja como a divertida e irreverente mãe que ama a família do começo. Seja como a fogosa paciente que vê um rockstar no terapeuta. Seja como a depressiva mulher que canta I miss the mountais com todo o coração. Seja como a explosiva mulher que nos choca e nos comove tanto em Você Não Sabe (You Don’t Know). Sensual, divertida, triste e emocionante… essa é Diana, essa é a difícil personagem que Vanessa interpreta tão bem! Eu amo ver sua relação com Gabe, que é tão intensa, verdadeira – de proteção, de refúgio. De necessidade, de doença. Ótimo.
Posso comentar outra coisa rapidinho? Já que eu estava falando sobre as diferentes reações e expressões faciais de Olavo Cavalheiro (com destaque para seus sorrisos malignos), gostaria de falar rapidamente sobre Eu vi um filme assim (Didn’t I see this movie?). É incrível a competição de Gabe com o Dr. Madden, e como cada um reage a cada fala da mãe, os sorrisos e crenças. Mas também é fascinante ver como a própria Diana está reagindo a tudo isso, de maneira muito intensa e verdadeira… e ver, com a chegada de Dan com os papéis, como ela também sofre com tudo isso…
É muito forte. Eu acho que não tem como assistir Quase Normal e não se emocionar, não ser marcado por essas histórias. São coisas que viverão dentro de você para sempre. É muito intenso, o volume alto da instrumentação toma conta de nós, nos envolve, nos preenche, e a história passa a viver dentro de nós. Uma história belíssima contada de maneira eficaz e emocionante. É uma obrigação de todos os fãs de musicais, embora tenha certeza de que vá agradar mesmo aqueles que não são fãs. Até mais, confiram no Teatro FAAP, São Paulo – SP.

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Comentários

  1. Todos são geniais. É uma equipe em que ninguém escapa da genialidade da sua especialidade. Ivan Lima

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  2. Se vcs não assistiram, corram! Estão perdendo uma peça magnifica emocionate,com atores fantásticos, que nos leva a reflexão e e muitas lagrimas.. Super recomendo... Abraços Carla Pimentel

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