Primeiro Capítulo de “Anos Dourados” (05 de maio de 1986)

O primeiro baile.

Na cidade do Rio de Janeiro de 1956, entre bailes pomposos, desejos naturais da juventude, pressões familiares por casamentos lucrativos e/ou para conseguir uma carreira e notórias rivalidades políticas, um romance quase impossível está prestes a nascer entre uma garota de família abastada e tradicional e um garoto filho de pais separados e, consequentemente, malvisto pela sociedade da época… mas quem pode deter um romance juvenil que é agraciado por tão bons sentimentos desde o momento em que os olhos se encontram pela primeira vez? Exibido originalmente em 05 de maio de 1986, o primeiro capítulo de “Anos Dourados” nos leva a essa época de relação paradoxal entre a rigidez de uma geração e o desejo de liberdade da próxima.

Conhecemos Marcos, interpretado por Felipe Camargo, estudando no Colégio Militar da Barra da Tijuca, mas os garotos estão muito mais preocupados em encontrar as garotas na saída do colégio do que, de fato, com todas as regras rígidas que enfrentam diariamente dentro daqueles portões. Ao lado de Marcos, conhecemos Urubu, seu melhor amigo, que forma uma dupla interessante com ele… muito solto e dominado por hormônios, Urubu é a representação mais clara da juventude da época, e a dupla se diverte usando um binóculo para espionar uma das vizinhas que se troca na frente da janela aberta, por exemplo. Naquela mesma noite, Urubu ajuda Marcos a “se dar bem” com a empregada da sua casa, mas ainda não é exatamente o que Marcos espera…

Há algo mais que ele quer… ele quer se apaixonar, ele quer amar.

Em paralelo, conhecemos Maria de Lourdes, a Lurdinha, interpretada por Malu Mader. Assim como as amigas, Lurdinha estuda no Instituto de Educação, embora “estudar” seja uma palavra forte demais para o que ela faz, distraída durante toda a aula enquanto a professora fala sem parar lá na frente… assim como os garotos, as meninas querem se divertir, e uma grande oportunidade para isso se apresenta naquele fim de semana: um baile de formatura de um cadete. Lurdinha e as amigas dependem não só da autorização dos pais, mas de uma mãe que as acompanhe até a festa, e Lurdinha quase não consegue, mas uma intercessão do pai lhe garante a passagem para o baile… o mesmo baile ao qual os garotos nem sabem se conseguirão entrar.

O primeiro baile de “Anos Dourados” é importantíssimo para definir algumas coisas da trama… é uma noite para os jovens dançarem, se conhecerem, se divertirem, flertarem entre si… Lurdinha tem muito claras para si as regras que precisa seguir, como só segurar na mão de um rapaz depois de 3 semanas, beijar depois de 1 mês e beijar “de boca aberta”, então, muito mais… o baile é importante, também, para definir “tons”: enquanto os jovens estão apenas querendo se divertir, os adultos veem problemas em coisas que nem passam pela cabeça dos jovens… o comentário sobre “o cheiro de naftalina de smokings alugados”, por exemplo, é um indicativo importante sobre preconceito e classe social – para “piorar” tudo, Marcos ainda é filho de pais separados.

A família de Lurdinha jamais o aceitaria como genro!

O baile também traz algumas discussões políticas meio ofuscadas pelos romances juvenis que estão começando a nascer na pista de dança e/ou em volta da piscina, mas existem divergências notáveis quando um dos personagens defende a democracia e fala sobre Juscelino Kubitscheck ser o presidente eleito daquele país… a história não se passa nem 10 anos antes do golpe que jogou o Brasil em uma ditadura militar, em um dos períodos mais tenebrosos da história recente do país! Em paralelo, também acompanhamos o formando sendo pressionado pela mãe para fazer contatos e conseguir uma boa posição de trabalho, em uma noite na qual ele não queria nada além de se divertir… e tudo isso vai construindo, aos poucos, o pano de fundo de “Anos Dourados”.

Também existe toda uma tentativa dos pais de escolher com quem as filhas dançarão, mas as meninas estão aceitando os convites de quem os tira para dançar – Urubu e Rosemary, por exemplo, formam uma dupla e tanto, como se tivessem sido feitos um para o outro! É quando uma amiga maldosa de Lurdinha faz um comentário horrível sobre alguém com quem ela não quer dançar que Lurdinha vai tentar ver de quem ela está falando e, então, seus olhos encontram Marcos pela primeira vez… e ela fica imediatamente mexida. Aquele primeiro olhar e aquela caminhada de Marcos na direção dela é exatamente o que se espera de produções que se passam na década de 1950, e eu pensei um bocado em “West Side Story” enquanto estava assistindo a essa cena do baile.

Com uma trilha sonora emocionante, Marcos caminha em direção a Lurdinha, com os olhos fixos nela – um olhar recíproco que ambos sustentam incondicionalmente, como se nada mais existisse ao redor deles… clichê e adorável! Amo a suavidade e a delicadeza dos toques quando eles estão se arrumando para dançar juntos, os rostos colados para uma dança lenta e significativa, e a maneira como nada precisa ser dito naquela primeira conexão que representa o “amor à primeira vista” deles. Eles se entendem naquela pista de dança, e só param para conversar mais tarde, à beira da piscina, quando ela se pergunta se eles já não se cruzaram antes, como moram perto um do outro, e ele fala sobre como a conhece porque “vem sonhando a vida toda com ela”.

Os dois se separam, naquela noite, já apaixonados…

E ela pede que ele ligue para ela no dia seguinte. E assim começa “Anos Dourados”!

 

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