Terceiro Portão – A Chave de Cristal


EU NÃO LERIA ESSE TEXTO SE EU AINDA NÃO TIVESSE LIDO O LIVRO, CONTÉM SPOILERS. ESTOU AVISANDO! KK
A terceira parte de Jogador Número 1, diferente das duas primeiras, utiliza-se de uma série de planos extraordinários, muita maluquice e uma pitada de mundo real – tudo regado a revelações surpreendentes. A Parte 3 já se inicia com A Chave de Cristal em posse dos maiores caça-ovos e de um elevado número de Seis, e a localização do Terceiro Portão não é o maior segredo, mas sim como abri-lo… e como chegar até ele para que possam tentar. E Ernest Cline faz com que Parzival tome atitudes impensadas…
Aqui, o livro atinge seu ápice. O grande clímax se aproxima, a narrativa é mais grandiosa e os planos são “gigantescos, malucos e definitivos”, como eu marquei em meu caderno. Envolve loucuras sozinhas de Wade Watts no mundo real, se entregando para ser prisioneiro da IOI e posteriormente um bonito trabalho em equipe dentro do OASIS, pensado desde sempre para ser dessa maneira por James Halliday. O mundo real não se limita apenas aos planos de Wade na IOI, mas também ao momento tão esperado em que as “identidades reais” são reveladas…
E uma série de revelações surpreendentes. Dentre elas, algumas já esquecidas, mas colocadas por Ernest Cline lá no começo do livro, na Primeira Parte. Como a estante de gibis caindo no Porão de Aech e o Cataclisma comprado pelos Seis muito tempo atrás. Quem é que ainda se lembrava continuamente desses dois elementos até que os dois fossem trazidos à tona novamente? Um nos enchendo de esperança, e outro nos destruindo novamente, quase nos fazendo fechar o livro para nunca mais abrir…
Quando demos um passo à frente, preparando-nos para entrar no portão, ouvi uma explosão muito alta. Parecia que o universo todo estava se desfazendo. E então nós morremos.
E é então que o jogo de PacMan realizado por Parzival tanto tempo atrás também faz sentido. Desde que ele ocorreu, na segunda parte do livro, não achei que Cline o teria colocado ali apenas como uma homenagem ao clássico jogo, sem ter uma boa explicação para sua importância. Aplaudi quando todas as peças se encaixaram. E o final foi épico, com uma combinação espetacular entre o Primeiro e o Segundo Portão e um desafio final emocionante que me fez vibrar junto com Parzival, louco de vontade de poder assistir ao vivo aquele jogo de Adventure
A terceira parte do livro, como um todo, é a mais grandiosa, mas é uma combinação das outras duas, e é bom ver como a narrativa toda nos guia até esse ponto. Se inicia como um eco da Segunda Parte, melancólica, repleta de desesperança e tristeza… passamos páginas atrás de páginas nos perguntando o que tinha acontecido, e onde Cline estava com a cabeça escrevendo aquilo, novamente desorientados pelo salto de tempo que o livro parecia cobrir. Então tudo se encaixa num dos planos mais absurdos e loucos da história da ficção (resumido por Aech: “Z, você é um maluco filho da mãe”). Que é delicioso de ler por sua grandiosidade, pelo tamanha da inteligência de Wade, pelo isolamento fora do OASIS, e pelas proporções que tudo aquilo atinge.
Os arquivos são geniais!
E então, quando adentramos novamente o OASIS (e sentimos certo alívio de podermos ver Parzival novamente em um cenário conhecido nosso) temos uma versão estendida da Primeira Parte, grandiosa e cheia de esperança. Ainda que os planos continuem gigantescos. E os personagens todos (Aech, Art3mis, Parzival e Shoto) se unem em um plano de James Halliday e juntos conseguem desvendar mistérios, derrubar os Seis (não sem a ajuda de o que parece ser todos os caça-ovos do mundo) e chegar até o Terceiro Portão… que ainda conta com um desafio extra quando o Cataclisma é detonado, mas isso não interfere no final… apenas no fato de que Wade parece mesmo ser o Jogador Número 1.
Amei a narrativa da terceira parte, a maneira como Ernest Cline organizou tudo. O começo sem explicações nos deixa loucos com o cérebro fritando, tentando entender tudo. E o que poderia ser o lado mais sombrio da narrativa, meio que se torna divertido ao ver Wade trabalhando para a IOI, tendo que atender avatares com os nomes mais absurdos e dando respostas que são sonhadas por qualquer pessoa que trabalhe com o público, em algum momento. Eu me diverti bastante, ri, e até copiei algumas de suas respostas mais mal criadas, filtradas pelo sistema.
Lembra como eu falei que muitas vezes parecia estar dentro do livro e sentindo a emoção dos personagens. A página 394 e várias depois me deixaram com a mesma sensação. A mesma ansiedade e aflição por todos se conhecerem pessoalmente, caminhei para fora do aeroporto com Wade no mesmo terror e nervosismo, pronto para conhecer Aech e confirmar aquilo que eu já desconfiava.
Em um final emocionante e diferente de tudo o que eu tinha imaginado, conhecemos um pouco mais de Anorak, o avatar de Halliday dentro do OASIS, e Parzival passa a ser o novo dono do Castelo e do roupão… com essas finalizações todas e com as surpresas que já tivemos antes (como a verdadeira forma de Aech, que foi algo que eu já tinha previsto muito antes de acontecer de fato – o que explica a razão de ele ter ficado bravo lá no começo, quando Wade sugeriu que eles se conhecessem pessoalmente), temos um terno momento em que Samantha e Wade (Art3mis e Parzival) se conhecem e compartilham duas páginas românticas, nerds e emocionantes (“Oi, Samantha. Eu sou o Wade”)… ótima finalização para o livro!
O livro, afinal, tem uma ótima mensagem final sobre amizade, sobre confiança, sobre trabalho em equipe, sobre preconceito. Também valoriza o mundo fora dos videogames, e não apenas dos videogames, mas de tudo o que o OASIS representava naquela época – ou seja, valoriza o mundo fora da tecnologia, e sim as pessoas que vivem nele e que o tornam especial. Um livro completo, com uma narrativa deliciosa que nos faz viajar no mundo da imaginação de diversas maneiras diferentes, passando por tantas emoções até difíceis de explicar. Um ótimo livro, precisa ser lido e apreciado. Até mais!

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