On Broadway – Rent – No Day But Today…


E então, alguém assistiu à peça desde a primeira postagem há duas semanas atrás? Quem ainda não viu, tudo bem, ainda há tempo, mas façam isso, um conselho meu. Como já comentei, Rent é um grande musical da Broadway, lançado em 1996, que conta a história de um grupo de pessoas que tenta sobreviver em Nova York enquanto enfrenta problemas como o pagamento do aluguel (utilizado na discussão do desemprego) e a AIDS.
Um dos musicais mais completos de todos os tempos, pela variedade de boas músicas e ótimos temas para discussão. É um musical que nos traz emoção com tristeza, humor com sarcasmo, e muito protesto, nos chama atenção para vários assuntos polêmicos a todo o momento, como homossexualismo, AIDS, pobreza, desenvolvimento do capitalismo… por esse tipo de temática e pelo tipo de abordagem que a peça adota, é um dos musicais mais desafiadores e ousados que a Broadway já viu.
Os personagens de Rent são admiráveis. É muito bom como a história consegue desenvolver cada um, contar um pouco sobre cada um deles e fazer com que nos aproximemos de todos; o leque de personagens é imenso (um dos maiores núcleos em musicais), e mesmo assim cada um tem sua história desenvolvida e faz com que quem está assistindo consiga conhecer e se afeiçoar a cada um de sua maneira.
Não é fácil identificar um protagonista; cada um tem sua importância de alguma maneira. Mimi nos traz principalmente o problema da droga, Roger fala sobre HIV e droga (mas de um ponto de vista de alguém que superou o problema da droga e se fecha graças à doença), Collins sobre o homossexualismo, como Angel (um dos personagens mais queridos), Joanne e Maureen (também notável por seu protesto no fim do primeiro ato); Benny encarna o interesse por dinheiro, a rivalidade contra os boêmios dos quais uma vez já vez parte; e por fim, Mark, talvez um dos personagens mais importantes, de quem mais nos aproximamos, e de quem menos sabemos… talvez a parte que melhor lhe descreva seja Goodbye Love, em que Roger diz que ele se esconde em seu trabalho e se priva de viver…
Essa é uma das grandes discussões da peça, também: até onde vivemos e quando nos escondemos? Detach from feeling alive. O que fazemos com nosso tempo, como o aproveitamos, e como o deixamos para trás sem dar o devido valor, sem vivê-lo? Temática traduzida perfeitamente em Seasons of Love, uma das músicas mais bonitas e mais icônicas do musical; realmente te coloca a pensar: estou realmente vivendo a minha vida ou meu ano não passa de 525.600 minutos?
Como a maioria dos musicais, Rent também apresenta uma distinção notável entre o primeiro e o segundo ato. O primeiro, como de costume, é um pouco mais leve (tão leve quanto pode ser, levando em conta os temas tratados, logicamente), com um pouco mais de ironia, de humor em alguns momentos; o segundo ato é mais pesado, trata dos assuntos de maneira ainda mais carregada, nos faz pensar em perda, nos faz acompanhar o sofrimento dos personagens, e ficar triste com eles… a peça não acaba de maneira feliz e colorida, como as pessoas podiam pensar, mas também não é algo totalmente melancólico… mas é algo perfeito para a reflexão, é o momento em que você pensa nas emoções sentidas e tenta processar a peça assistida. Ótima divisão, diga-se de passagem.
E por fim, as músicas. O espetáculo é rico em boas músicas, e cada uma tem uma mensagem diferente… umas bonitas, outras mais alegres e descontraídas, outras de protesto; todas puxadas para o estilo rock, que dá um tom mais forte e enfático aos temas. Várias das músicas marcam à experiência de assistir ao musical, como Rent, que nos apresenta muitos personagens de uma só vez, Christmas Bells, Happy New Year e Contact, todas geniais e ausentes do filme de 2005 (realmente acho que Contact é um dos momentos mais perfeitos e mais provocantes de todo o show, culminante na morte de Angel e término de todos os relacionamentos).
Várias músicas marcam a peça de diferentes maneiras, mas a melhor, sem dúvida, é La Vie Bohème, que descreve todo o espírito do musical em uma única canção; é um clássico, é uma cena contagiante, é uma cena que te alegra e te deixa no espírito de Rent, além de ser outra maneira de protesto contra o preconceito… ela fala praticamente tudo o que o musical defende em alguns minutos então é perfeito. Se tivéssemos que eleger apenas um momento, seria esse, e os personagens gritando: “Viva La Vie Bohème”… a ousadia, o deboche dos personagens é impagável. Best scene ever.
Um musical que não pode faltar na sua lista… aconselho tanto a versão Broadway quanto o filme de 2005 (cada um tem seu valor, posso dizer que o filme foi uma boa adaptação – e ter parte do elenco original de volta deu uma grande ajuda), mas o que importa é que vocês entrem em contato com esse universo de Rent… então assistam ao musical e voltem sempre ao blog. Mês que vem, outro grande sucesso da Broadway! Até mais!

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Comentários

  1. como você definiria Roger? Coisas que marcam esse personagem

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    1. Que difícil... estava tentando pensar em algo pra responder.
      Eu acho que o Roger é grande parte de Rent, e representa muita coisa em diferentes fases - como a droga que abandonou, e a doença que vive sob controle... no entanto também representa as perdas, pela ex-namorada e ele perdeu a vontade de viver, a gana por ser feliz. Ele é transformado durante o musical, em uma pessoa solitária, sem esperanças, que volta a viver com o reaparecimento de Mimi, e além de ter essa nova esperança, ela lhe dá motivos para viver, sendo ele o responsável por "salvá-la" também...
      Enfim, acho que é isso kk
      Perguntinha difícil, huh? :P

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    2. "aparecimento"* ali, não "reaparecimento", enfim...

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  2. Onde podemos assistir a peça online e legendada?

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