Doctor Who: Especiais de 60 Anos – Especial 03: The Giggle

“You're gonna be someone else. It doesn't matter who. 'Cause every single one of you is fantastic”

O FIM DE UMA ERA E O COMEÇO DE UMA NOVA! Com um episódio eletrizante, surpreendente e potencialmente controverso (o público está bastante dividido com a história da bigeneração), a jornada iniciada em 2005 com a “nova” versão de “Doctor Who” é oficialmente encerrada em um episódio sensível e emocionante, que tem um gostinho claro de despedida, mas escancara as portas para as novidades que estão por vir com Ncuti Gatwa como o 15º Doctor, em um “Doctor Who” que terá sua contagem de temporadas zerada… e que já reencontraremos no Especial de Natal do próximo dia 25 (inclusive, estou muito feliz com o retorno dos episódios especiais de Natal, algo que não existiu na era do Chibnall, e que é algo que eu sempre gostei muito!).

“The Giggle” é a conclusão dos Especiais de 60 anos. Não é aquele episódio multi-Doctor que muita gente esperava, como tivemos ao longo dos anos para celebrar outros aniversários (começando com “The Three Doctors”, em 1973, e “The Day of the Doctor”, de 2013, sendo o mais recente), mas pode-se dizer que “The Power of the Doctor” fez um trabalho semelhante ao trazer atores clássicos de volta ao papel antes da regeneração da 13ª Doctor, e os Especiais de 60 anos também têm seus acenos à história da série: o retorno de Kate Stewart e da UNIT; Melanie Bush, a primeira companion ruiva do Doctor, que viajou com o 6º e o 7º; uma recordação, embora dolorosa, dos fins trágicos de Amy, Clara e Bill; e, é claro, um vilão da Série Clássica.

Junta-se a David Tennant, o 14º Doctor, e a Catherine Tate, Donna Noble, um personagem que foi visto pela última (e única) vez na série de TV em 1966: o Toymaker. Interpretado agora por Neil Patrick Harris (!), o Toymaker é um ser quase celestial com poderes absurdos e quase invencíveis de manipulação da realidade, e uma paixão assustadora por jogos. Interferindo na primeira transmissão de televisão de 1925 com uma risadinha (!) e, quase um século depois, sendo capaz de controlar toda a humanidade, o Toymaker está aí para fazer um estrago, conduzindo o seu maior “jogo” – e, talvez, por culpa do Doctor, que permitiu a sua entrada em nosso mundo quando “transformou” mitos em realidade usando o sal no fim do universo no episódio anterior.

Preciso dizer algo a respeito do Toymaker: eu gosto da premissa do personagem, mas eu acho que ele não foi bem utilizado em “The Giggle”. Quando ele aparece pela primeira vez, em “The Celestial Toymaker”, o Doctor e os companions precisam enfrentar uma série de jogos curiosos, que foram brutalmente simplificados nesse especial… acho que o maior “jogo” que o Toymaker joga é, de fato, mental. Seus poderes são bem representados, tanto na cena a la “Scooby-Doo” em 1925, na qual o Doctor e Donna tentam escapar de um corredor sem fim, quanto na cena em que ele aparece na UNIT em 2023, vestido de Paquita e dublando “Spice Up Your Life”, das Spice Girls. A maneira como ele molda a realidade ao seu redor a seu bel prazer é realmente assustadora…

Eu só queria mais dos jogos propriamente ditos mesmo.

A ideia do Toymaker é usada tanto para trazer flashes rapidíssimos de quando o Primeiro Doctor o enfrentou (até porque o arco está quase inteiramente perdido, então a BBC não poderia se prolongar em flashbacks nem se quisesse), quanto para assustar Donna Noble em relação aos destinos trágicos das companions que viajaram com o Doctor depois dela… Moffat realmente não deixou barato para as personagens que escreveu. Relembramos Amy Pond, embora ela tenha realmente morrido de velhice; relembramos Clara Oswald, morta por um pássaro, embora também esteja viva no seu último segundo de vida; e relembramos Bill Potts, embora sua consciência tenha sobrevivido. E o Doctor fala sobre isso tudo, ao que o Toymaker responde da maneira mais hilária possível…

“Well, allright then!”

É o Doctor quem primeiro desafia o Toymaker para um jogo, da carta mais alta, que ele perde em questão de segundos… então, a próxima partida, no melhor estilo “melhor de três”, vai acontecer em 2023, na UNIT, e é aí que as coisas ficam interessantes – e novas. Fascinado com a humanidade e querendo fazer desse mundo seu playground eterno, o Toymaker diz que jogou um jogo, há muito tempo, com um Doctor, e o segundo, em 1925, com outro Doctor… o terceiro deveria ser com um Doctor diferente ainda. Então, ele atira no 14º Doctor e, novamente, David Tennant se prepara para uma regeneração, em uma cena emocional e muito menos traumática que “I don’t wanna go”. É uma fala simples, que termina com “Allons-y!”, e a presença e apoio de Donna e Mel deixam tudo mais perfeito.

Dessa vez, no entanto, é diferente.

Até para o Doctor.

Assim, chegamos ao conceito de BIGENERAÇÃO – o motivo pelo qual os fãs de “Doctor Who” estão divididos e brigando na internet. É meio chocante, inesperado e eu não sei bem o que o conceito de bigeneração faz com a história de “Doctor Who”, mas duas coisas precisam ser ditas: 1) foi ÓTIMO ver o David Tennant e o Ncuti Gatwa interagindo como o 14º e o 15º Doctor, respectivamente; 2) o roteiro dá certa “explicação” para o que aconteceu. Afinal de contas, a “bigeneração” é uma espécie de “mito” entre os Senhores do Tempo e não tinha acontecido, não com o Doctor, até então… mas o que aconteceu em “Wild Blue Yonder” permitiu que “mitos invadissem a nossa realidade” ou qualquer coisa assim: foi o que aconteceu com o Toymaker e é o que acontece agora com a bigeneração.

Não quer dizer que sempre será possível. Eu acho.

O 15º Doctor ganha, então, uma entrada inusitada e inédita em “Doctor Who”, quando o que deveria ter sido a regeneração chega ao fim e o Doctor pede que Donna e Mel o puxem em direções opostas – e, assim, ele se divide em dois Doctors. Dois Doctors, a mesma pessoa, as mesmas memórias, as mesmas histórias, mas coexistindo. Achei divertido o lance de eles “dividirem as roupas” durante a bigeneração, e a dinâmica deles funcionou muito bem, com ambos desafiando, juntos, o Toymaker para um terceiro e derradeiro jogo… que, nas ideias simplistas dos jogos de “The Giggle”, acaba sendo um jogo de bola, mas que funciona muito bem. O Toymaker é derrotado, a “risadinha” chega ao fim, a humanidade parece estar salva desse problema…

Mas e aquela mão pegando o dente de ouro?

Ncuti Gatwa ESBANJA CARISMA – o que, é claro, não é nenhuma surpresa para quem já conhece o ator. Com uma presença impressionante, uma risada contagiante e grande energia, o 15º Doctor já começa a nos conquistar. E a maneira como ele literalmente cuida do seu outro eu é realmente peculiar e nova: gosto da maneira como ele acolhe o 14º Doctor, como ele o abraça, como parece tentar tirar um peso de suas costas por todas as culpas que ele carrega… e quando eles trilham caminhos separados, o 15º Doctor também “divide” a TARDIS. Algo nunca feito, que poderia ser impossível, mas a bigeneração também era até agora pouco, não? Então, temos dois Doctors simultaneamente atuantes nesse momento, mas apenas um deles representa o futuro de “Doctor Who”.

E o reencontraremos no Natal.

Com jukebox na TARDIS e tudo!

Acho bonito como o 15º Doctor fez sua estreia, nos conquistou, mas como seu futuro ainda é um mistério, porque o acompanharemos em uma nova série… “The Giggle”, o último especial dos 60 anos de “Doctor Who”, dedica seus minutos finais a um “encerramento” da história que se iniciou em 2005, quando uma das versões do Doctor encontra uma família da qual fazer parte e para pela primeira vez na história. Fico muito contente por Donna Noble, que teve um retorno lindo a “Doctor Who” e teve a oportunidade de ter um final muito mais feliz do que aquele que ganhara na quarta temporada, e é bom ver o Doctor tão em paz e tão feliz. E ele tem uma TARDIS, não quer dizer que ele vai ficar “sem fazer nada”… a diferença é que, agora, ele tem para onde voltar. Uma casa. Uma família.

Seria esse Doctor o curador interpretado por Tom Baker em “The Day of the Doctor”? Talvez.

Nos despedimos do 14º Doctor e abraçamos o 15º. QUE VENHA O FUTURO!

 

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