O Labirinto do Fauno


A inocência tem um poder que o mal não pode imaginar

Sabe quando você assiste a um filme e fica se perguntando: como eu não vi isso antes? Foi assim que eu me senti quando assisti a O Labirinto do Fauno, alguns dias atrás. Fiquei daquele jeito: “eu tinha que ter assistido isso antes!”. Lembro-me de como o filme foi comentado na época em que foi lançado, e lembro-me de ficar curioso em assisti-lo quando o vi no Oscar… mas acabei deixando para lá.
Por falar nisso, o filme foi vencedor de três Oscar (Melhor Direção de Arte, Melhor Fotografia e Melhor Maquiagem); é um filme mexicano e espanhol, lançado em 2006, considerado do gênero suspense e fantasia; foi escrito, produzido e dirigido por Guillermo del Toro. Portanto, temos um filme não-americano que ganhou muito destaque no mundo todo e venceu três Oscar… isso é uma grande coisa!
O filme nos conta a história de Ofelia (interpretada por Ivana Baquero), uma garota de 13 anos, que se muda com a mãe para a casa do Capitão Vidal, cruel e que não gosta da menina. O filme se passa durante a Guerra Civil Espanhola, e o Capitão combate rebeldes anarquistas e republicanos, que se escondem nas florestas. O título do filme vem de um labirinto em ruínas, onde mora um Fauno (interpretado por Doug Jones), encontrado por Ofelia.
Aí temos o desenvolvimento do filme. Enquanto acredita-se que Ofelia seja a princesa desaparecida de um reino subterrâneo (cujo portal seria o labirinto), que enfim retornou, ela é obrigada a executar três tarefas até a lua cheia, para se mostrar ainda merecedora de voltar a seu pai. Para isso, ela ganha um livro do Fauno, que a guiará. Em meio a isso, a gravidez de sua mãe começa a dar problemas, o Capitão continua com suas crueldades, e Ofelia fica desprotegida. Assim, o filme mistura perfeitamente a fantasia de um lado, com a realidade e crueldade de uma guerra.
Enquanto alguns podem pensar que o filme pode ser leve e divertido, logo digo que esse não é o estilo de Guillermo del Toro. Apesar de tratar (em parte, evidentemente) de um outro mundo, de “tarefas dadas por um fauno”, o filme não tem nada de leve. É um grande suspense, o clima está sempre pesado, sempre parecendo que algo vai acontecer, e pouca cor se vê no filme (quando mais vemos cor, é quando temos algum personagem ferido, e podemos ver um pouco de vermelho na tela).
O trunfo do filme é a inocência, e o amor. Temos até (antes da primeira prova) uma cena em que Ofelia se veste de maneira quase a lembrar Alice. Apenas para nos darmos conta que não temos nada do universo leve e descontraído de Alice. O filme nos conta uma história triste, com mortes, tortura, agressão. De um lado, temos toda a guerra, e todo o lado forte disso. E isso é trabalhado de maneira brilhante no filme. De outro, temos os mistérios das provas de Ofelia, lugares obscuros, e seres assustadores…
Destaque especial para a segunda prova, que é minha favorita. Simplesmente gosto do Homem Pálido, sem olhos (também interpretado por Doug Jones) e de como seus olhos estão nas mãos. Foi uma cena muito gostosa de se ver, que te deixa um pouco angustiado, nervoso e impaciente. Por vezes queremos brigar com Ofelia, e não podemos culpar o Fauno por gritar com ela mais tarde… e essa é uma das melhores cenas de todo o filme.
Antes de terminar, quero comentar sobre Maribel Verdú, interpretando Mercedes. Acho que ela foi um dos maiores destaques do filme, e uma das melhores personagens. É uma personagem muito mais interessante que a própria mãe da Ofelia, e ela fica com algumas das melhores partes do longa. Por exemplo, sua fabulosa cena com Vidal… impagável. E no final, é com ela que terminamos o filme, e temos vontade de ir lá abraçá-la, consolá-la.
Mas, por falar nisso, de certa maneira, somos nós que precisamos de consolo ao fim do filme. Como eu disse, não é um filme leve. É um filme escuro, é um filme pesado, e é um filme triste. Não o assista esperando por risadas, seres engraçadinhos e aventuras divertidas. Se você começar a vê-lo, e gostar do estilo, não espere por um final feliz… nada disso acontece. A parte mais triste fica para as cenas finais, mas tudo está muito bonito. Ao fim do filme, eu estava lá, de olhos grandes, tentando entender o que eu sentia. Eu só dizia que tinha sido triste. Foi bonito? Eu não sabia dizer ainda, mas sabia dizer que tinha sido triste. Mas agora eu sei. Sim, foi bonito. Foi lindo, é uma história linda, um grande roteiro, grandes atuações. Mas isso não faz com que seja menos triste…
Por fim, destacar algumas cenas de amor que foram lindas, como Ofelia conversando com o irmão, ainda na barriga da mãe, e depois, protegendo-o no fim do filme; os abraços de Mercedes e Ofelia, e uma cena em que a única pessoa que Ofelia pode abraçar é o Fauno. Todas cenas muito bonitas. E eu aconselho todos a verem esse filme. Você certamente irá gostar, porque está muito bom. Você terá que fechar os olhos em alguns momentos, e enxugá-los em outros… ficará com um pesar no coração no final, mas eu posso dizer: vale a pena. Parabéns para Guillermo del Toro, sem dúvida. Grande responsável por esse filme, fez um maravilhoso trabalho… sem mais o que acrescentar, só os aconselho a assisti-lo! Até mais!

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