“Meu vício é você...” – O Despertar da Primavera


Meu rumo eu não sei… nem meu lugar
Meu vício é você, e não vai passar…

A peça Spring Awakening chegou ao Brasil em 2009 numa nova roupagem e sob o nome de O Despertar da Primavera. Foi aclamada por todo o público, conquistando uma multidão de fãs e recebendo o Prêmio Arte Qualidade Brasil 2009. Estreou no Teatro Villa Lobos, no Rio de Janeiro, em 21 de Agosto de 2009, e me sinto culpado de não ter visto. Acontece que em janeiro de 2010 eu estava no Rio, para assistir Hairspray, e até passei em frente ao teatro Villa Lobos… como me arrependo de nunca ter entrado…
Mas que seja. O musical foi trazido para o Brasil por Charles Möeller e Claudio Botelho, que fizeram suas próprias adaptações no musical. Não temos nenhuma música acrescentada nem nenhuma música tirada – a história da peça em nada foi alterada, tudo está lá como deveria estar, mas algumas cenas foram um pouquinho modificadas… algumas ficaram realmente boas, outras nem tanto assim. Foi a primeira versão não-réplica do original – a única exigência da Broadway foi que os atores que fossem interpretar os personagens fossem jovens…
Os fãs mais puristas podem não gostar da versão não-réplica, mas no geral foi bem recebida pelo público. Eu mesmo gosto bastante da versão nacional, acho que muitas cenas ficaram ainda mais interessantes, e algumas músicas ficaram bem boas em nossa língua. Mas é claro que nem tudo é perfeito. Teve algumas músicas de que realmente não gostei, e teve algumas cenas que eu realmente preferia a original, achando que o encanto foi menor no Brasil, mas sei lá… e não sei bem o que pensar de Wendla vestida de preto em "Those You've Known"... será só eu que acha isso ao menos um pouquinho bizarro? E sua roupinha branca?
Charles explicou dizendo: “Só monto um espetáculo se puder dar a minha opinião sobre ele, não faço réplicas, pois para isso minha função seria praticamente desnecessária. No original da Broadway, as músicas são apresentadas como um grande show. Na hora em que cantam, os personagens se transformam em ídolos de rock, com o microfone nas mãos. Entendemos as canções como as projeções do pensamento dos personagens. Em nossa versão, tudo acontece apenas na cabeça deles. Não é o que eles estão vivendo, mas o que gostariam de expressar”.
Concordo com ele, e gosto de sua declaração, mas não posso deixar de discordar um pouquinho. Na acho que necessariamente eles “se transformem em astros de rock” quando estão cantando. Em alguns momentos até talvez, mas nem sempre… por exemplo, The Guilty Ones, eu não diria que Wendla e Melchior sejam astros nem nada assim naquele momento… e eu sempre penso em Spring Awakening com microfones nas horas das músicas – como Moritz tirando do nada seu microfone e cantando The Bitch of Living… e aquela famosa foto (em várias versões) de Moritz pulando com seu microfone? Pois é…
Mas passado isso, tenho que reconhecer que algumas cenas ficaram muito interessantes na visão de Möeller e Botelho… como Venha (Touch Me), que é uma cena que eu gostei bastante na versão nacional, além de Se Fodeu (Totally Fucked) e Canção de um Verão (The Song of Purple Summer). Agora algumas cenas eu realmente não fui muito com a cara… foram os casos de A Carta (And Then There Were None), não gostei porque gostava demais da versão original e acho que funcionava melhor daquela maneira, Não Tem Tristeza/Vento Triste (Don’t do Sadness/Blue Wind), simplesmente porque acho que a simplicidade daquela cena era tudo, o diálogo era mais importante que qualquer movimento, as músicas eram tão boas que não precisava de contato algum entre os atores… sei lá, gosto bem mais da versão original.
O elenco brasileiro é formado, especialmente, por Malu Rodrigues (como Wendla), Pierre Baitelli (como Melchior), Rodrigo Pandolfo (como Moritz), Letícia Colin (como Ilse) e Thiago Amaral (como Hänschen). Eles fazem um bom trabalho (e me desculpem os fãs da versão brasileira), mas não acho que a interpretação deles seja tão boa quanto as originais… em alguns momentos, sinto o diálogo meio forçado, como se não fluísse… sei lá, mas fazer o quê? Ainda assim é uma peça que vale a pena, porque tem muitos lados positivos. É aquela velha questão da comparação… sempre rola comparação com o original, e daí a situação fica complicada para a adaptação.
A adaptação brasileira ficou em cartaz de 21 de Agosto de 2009 até 31 de Janeiro de 2010 no Rio de Janeiro. Depois estreou em São Paulo, em 13 de Março de 2010 até 2 de Maio; voltou a abrir em 10 de Julho e ficou em cartaz até 15 de Agosto – um CD com a trilha sonora nacional foi lançada em Janeiro – e infelizmente não pode mais ser comprada, mas você pode fazer o download no site oficial da peça.

E você me machuca, maltrata outra vez
E eu tremo por dentro, eu gosto é assim

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