Are you therefore suggesting there is no further room for critical thought or interpretation?


 

Escolhi essa frase como título porque é uma das que mais marcam a peça – é quando você ouve essa frase pela primeira vez que você se dá conta: “Melchior é bom!”. A peça é bastante crítica, e incentiva o pensamento, e muito disso nos é passado através do personagem de Melchior, como nesse caso, pouco antes de All That’s Known, na escola. A fala Are you therefore suggesting there is no further room for critical thought or interpretation? (algo como Então você está sugerindo que não há lugar para pensamento crítico ou interpretação? em português) marca o “despertar” do pensamento no telespectador.

Vou falar um pouco da história da criação de Spring Awakening, começando por sua peça original, escrita pelo dramaturgo alemão Frank Wedekind entre 1890 e 1891 (no original, Frühlings Erwachen). Essa peça foi o maior trabalho do autor, e mesmo escrita por volta de 1890 e 1891, só foi levada aos palcos pela primeira vez em Novembro de 1906, quando estreou em Berlim sob a direção de Max Reinhardt. Além do título original, a peça [do gênero tragédia] tinha um subtítulo: A Children’s Tragedy (algo como Uma Tragédia de Jovens).
O enredo da peça original (bem como do musical da Broadway, que estreou em 2006) criticava a cultura que oprimia a sexualidade no fim do século XIX na Alemanha, e contava com dramatizações vívidas das fantasias eróticas contidas no enredo – devido a isso, a peça foi constantemente banida.
A primeira vez que a peça foi realizada em inglês foi em 1917, em Nova York, e a performance foi ameaçada de ser fechada quando o Comissário de Licença da cidade chamou a peça de “pornográfica”, no entanto, a corte permitiu que a peça continuasse em exibição, com público limitado. Em 1955 teve mais uma produção americana, e em 1963 foi produzida na Inglaterra, mas apenas por duas noites, e em uma versão censurada.
A versão musical estreou Off-Broadway em 2006, e logo foi transferida para a Broadway, recebendo oito Tony Awards, incluindo o de Melhor Musical em 2007. A mudança da peça para a versão musical exigiu que algumas diferenças existissem, mas poucas coisas. Na peça musical original (que ainda está em cartaz na Broadway), as cenas de sexo não foram censuradas, nem as fantasias dos alunos (mas as cenas são todas bem tranqüilas, e não pornográficas. Trata-se de arte, não vulgar). O tema central, de maneira nenhuma, foi mudado, e todos os assuntos tratados no original de Frank Wedekind permanecem na versão musical (e em sua grande maioria, tratados da mesma maneira) – a música serviu para intensificar a experiência.
Uma das principais modificações da versão original para a atual versão musical foi o final da peça. O destino dos personagens não foram alterados, mas o fim de Those You’ve Known era um pouco diferente. Na primeira versão (sem música), a cena se desenvolvia bem parecida, porém com um “Homem Mascarado” para guiar Moritz – e Wendla era citada, porém não aparecia na cena. De uma maneira geral, a cena era um pouco mais obscura que o é agora – agora, a cena é mais emocionante que obscura. E depois dessa cena, ainda temos The Song of Purple Summer, apenas para finalizar a peça (e eu julgo desnecessário, acho que Those You’ve Known seria um final mais perfeito à peça, mas tudo bem). Mas outra modificação, é a maneira como acontece a relação entre Melchior e Wendla, bem mais pesada na versão original...

De uma maneira geral, o propósito de Spring Awakening não mudou muito desde o original escrito por Frank Wedekind – em alguns momentos, a abordagem dos assuntos pode ser um pouco diferenciada, mas nada que subjugue a qualidade da peça, incontestável. Vocês precisam assistir ao musical para entenderem o que quero dizer, e como a peça é ótima no que faz… mereceu o Tony Award de Melhor Musical… fica o convite para ver a peça!

Those you’ve known…
and lost still walk behind you…

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