O Exterminador do Futuro: Gênesis (Terminator: Genisys, 2015)

“I’m old, not obsolete”

Um novo John Connor, uma nova Sarah Connor, um novo John Reese… o mesmo T-800 que conhecemos e amamos (mais ou menos o mesmo). Como o nome sugere, “Gênesis” é um recomeço para “O Exterminador do Futuro”, brincando com toda a mitologia da franquia, alterando linhas do tempo e gerando reações diversas… apesar de ser um dos filmes mais mal avaliados da franquia e de eu reconhecer que ele não tem a profundidade e a competência narrativa de “Julgamento Final”, por exemplo, eu não posso dizer que não gosto do filme. Para mim, É UMA AVENTURA E TANTO! Tenho a impressão de que, quando uma franquia começa a se prolongar por muito tempo e passar por diferentes responsáveis, algumas coisas vão mesmo se perdendo…

A dúvida que fica é: ainda vale a diversão?

E, para mim, nesse caso vale.

“O Exterminador do Futuro: Gênesis” tem bastante daquilo que fez com que eu me apaixonasse pela franquia em minha infância, que é a temática de VIAGEM NO TEMPO e, dessa vez, brincando com linhas do tempo alternativas, o que é um meio simplório, mas eficaz, de lidar com um universo já estabelecido e fazer o que quiser com ele sem grandes preocupações. Se “A Salvação” deixou de lado as viagens no tempo, “Gênesis” as traz de volta – assim como resgata o Arnold Schwarzenegger, que é o rosto da franquia. Começamos o filme no ano de 2029, no ataque final da Resistência liderada por John Connor contra a Skynet, e depois o filme se aventura em 1984 e, por fim, em 2017, em uma linha do tempo em que o Julgamento Final não aconteceu em 1997.

A premissa é interessante e subverte algumas coisas – o que pode realmente desagradar a alguns fãs mais puristas… não é o meu caso, ainda que eu ame todos os filmes. Além de mudanças na história de Sarah Connor e de Kyle Reese, que não chegam realmente a mudar as personalidades deles, o filme brinca com a imagem de John Connor, o que é o mais chocante e mais irônico que eles poderiam fazer, na verdade: até então, em TODOS os filmes de “O Exterminador do Futuro”, John Connor foi o rosto da Resistência e “a última esperança da humanidade”… em “Gênesis”, pela primeira vez, John Connor é “a última esperança da Skynet”. Transformá-lo em um vilão e agente da Genisys/Skynet é um ataque calculado e inteligente das máquinas…

Os primeiros minutos do filme ainda casam com o que foi previamente estabelecido na franquia, e parece se encaixar com o que vimos no primeiro “O Exterminador do Futuro”: entendemos um pouco mais da relação de John Connor com Kyle Reese – interessante essa coisa de John Connor o ter salvado e resgatado –, e de como chegamos ao que vimos no primeiro filme apenas do ponto de vista do passado… aqui, no ataque final contra a Skynet em 2029, John Connor tenta impedir que eles usem a máquina do tempo, mas chega tarde demais e, então, ele precisa enviar alguém a 1984 para proteger Sarah Connor… e Kyle Reese se voluntaria para a função. É muito legal ver as peças se encaixando, até o momento em que John Connor é atacado e as memórias de Kyle parecem “mudar”.

Então, nós percebemos que as coisas não serão mais as mesmas…

A chegada a 1984 é uma brincadeira interessante. Em parte, é uma reconstrução do início da franquia, porque é o momento em que tudo começou, com a Skynet enviando o primeiro Exterminador, o T-800, para matar Sarah Connor antes de ela engravidar; por outro lado, aquele 1984 já não é o 1984 que conhecemos. O T-800 do primeiro filme, aquele que encontra a ganguezinha de punks, não é o único Exterminador por ali… existe, também, um T-1000, que ainda não deveria estar ali, e um outro T-800, aparentemente mais velho, que está trabalhando ao lado de uma Sarah Connor diferente daquela que Kyle Reese esperava encontrar. E, a partir da visão desconcertada de Kyle, nós vamos entendendo o que está acontecendo e por que tudo é tão diferente

Naquela linha do tempo, a Skynet enviou um Exterminador para matar Sarah Connor quando ela tinha 9 anos de idade, e foi quando ela conheceu o T-800 que agora ela chama de “Pops”, porque foi a única figura paterna que ela teve nos últimos 11 anos… a única pessoa que a protegeu e que não deixaria que nada de ruim lhe acontecesse. Assim, ao invés da Sarah Connor desavisada original, temos uma Sarah já guerreira – e que, inclusive, sabe que supostamente engravidaria de Kyle Reese e daria à luz ao líder da resistência humana, John Connor. Uma Sarah Connor que planeja viajar no tempo para 1997 e impedir o dia do Julgamento Final, no qual as máquinas se rebelam e tomam o mundo… um plano que, agora, Kyle Reese pretende alterar graças às suas novas memórias.

Talvez seja um pouco de exagero, é verdade, mas eu gosto de como “O Exterminador do Futuro: Gênesis” brinca justamente com toda a questão da viagem no tempo e se aproveita dela… partimos de 2029, chegamos a um 1984 diferente do que esperávamos e, agora, ao invés de partir para o Dia do Julgamento Final em 1997, partimos para um 2017 onde o Julgamento Final nunca aconteceu – mas onde a Skynet está prestes a nascer quando a Genisys ficar online… é esse lançamento que precisa ser impedido. E temos sequências de ação muito interessantes com Kyle, Sarah e “Pops”, bem como toda a questão das digitais de Kyle coincidirem com a do outro Kyle Reese, de 12 anos de idade, que vive naquele ano, e a chegada inesperada de John Connor.

Outrora líder da Resistência Humana. Agora, nem mais inteiramente humano, e quase o avatar da Skynet dentro do filme… o vilão que pretende garantir o lançamento da Genisys e que precisa ser detido de qualquer maneira. Inclusive, é interessante assistir a esse filme e pensar sobre como nós estamos realmente à mercê de tecnologias como a Genisys – se as máquinas realmente ganhassem consciência de alguma maneira e se voltassem contra os humanos, nós não teríamos a menor chance. E o trio corre contra o tempo para impedir o lançamento da Genisys e para derrotar o “novo” John Connor e, como sempre, eles precisam de estratégias que possam vencê-lo, porque ele é muito mais poderoso do que um T-800, e força bruta não bastará contra ele.

Em parte, muito do filme é construído sobre as relações que se estabelecem entre os personagens, e isso é bacana. Gosto da relação de pai e filha que Sarah Connor e aquele T-800, o Pops, criaram, e de como isso reflete na relação do Pops com Kyle Reese… afinal de contas, Kyle Reese nasceu em um mundo depois do Julgamento Final, e ele só sabe ver um T-800 como uma máquina exterminadora, e não como essa figura paterna que Sarah Connor vê. Grande parte da jornada de Kyle Reese ao longo do filme é aprender a enxergar além das aparências… de um lado, ele tem a imagem de John Connor, o homem que sempre respeitou e seguiu, e que agora não é mais de confiança; de outro, um Exterminador que ama Sarah Connor e está disposto a se sacrificar por ela.

Se for preciso.

Felizmente, não é necessário… quer dizer, existe uma batalha gigantesca no prédio da Genisys, Sarah Connor sofre ao deixar Pops para trás enfrentando John Connor/T-3000, mas eles parecem se livrar da Skynet (ou assim acreditam) e Pops sobrevive, transformado em algo mais do que o T-800 de outrora. Assim como “Julgamento Final”, “Gênesis” tem uma conclusão com gostinho de “final feliz” – depois de visitar o pequeno Kyle Reese e dar a ele o recado de que “Genisys é a Skynet”, que é a mensagem que os levou a 2017 para começo de conversa, Sarah, Kyle e Pops rumam ao desconhecido… pela primeira vez, no entanto, não preocupados com exterminadores, julgamentos finais ou a Skynet. Pela primeira vez, podendo escolher o que eles querem fazer.

 

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