Chosen Home – Episódio 6

“Vamos comprar uma casa!”

Passamos da metade de “Chosen Home” e, com um episódio melhor do que o outro, eu acho que já é seguro dizer: é a minha série BL favorita de 2025. O cuidado e a atenção contínua em uma representação verdadeiramente LGBTQIA+ fazem com que “Chosen Home” se destaque semana após semana… se no episódio anterior tivemos uma conversa sincera e realista entre Hatano Genichi, Sakuta Saku e Yoshida Ryota, que passou por vivências, preconceitos, sonhos e estratégias, dessa vez sentimos que Hatano precisa virar uma página de seu passado para que possa começar algo novo: a sua relação com Koito Yutaro, seu melhor amigo da época da escola, seu primeiro amor, e a pessoa que ele magoou por medo e pelo que se culpa a vida toda.

Gosto de como “Chosen Home” está dando passos na relação de Hatano e Sakuta no meio disso tudo… as mãos unidas dos dois proporcionou um momento fofíssimo no fim do episódio anterior e potencialmente cômico no início desse, e quando Hotaru cai da escada velha que dá acesso ao seu apartamento no condomínio que tem 60 anos de idade e precisa de um novo lugar para passar a noite, Hatano oferece a sua casa para a filha, enquanto passa a noite na de Sakuta. E ali, antes de dormir, Sakuta mostra a Hatano um panfleto com o nome e a foto de Koito, sobre um evento no qual ele pode encontrá-lo – houve um quê de ciúmes quando Hatano falou de buscar Koito e conversar com ele, mas também há responsabilidade e sinceridade.

Sakuta quer fazer as coisas do jeito certo.

Hatano não sonha em ficar com Koito nem nada disso, sua missão não é romântica: ela tem a ver com culpa porque Koito foi alguém que ele amou no passado e de quem ele se afastou de maneira brutal por medo da homofobia que ambos estavam começando a sofrer na escola. Como um homem gay adulto, Hatano sabe das marcas que atitudes como a sua deixam – ter coragem de trazer o assunto de volta à tona, no entanto, é outra história. Hatano e Koito se esbarram e Hatano se apresenta como “Hatano Genichi”, e não demora nada para que Koito se lembre que ele é aquele “Gen”. Ainda que (não tão) secretamente esteja com ciúmes, Sakuta incentiva Hatano a ir conversar com ele… afinal de contas, ele tem um motivo para ter ido até ali, não tem?

A primeira conversa entre Hatano e Koito é um dos melhores momentos desse episódio! É extremamente doloroso, ainda que sutil, o fato de Koito fazer questão de contar que é gay e dizer que “espera que isso não seja um problema para ele”, porque isso é fruto de traumas do passado, e Hatano diz que ele também é gay, e mostra Sakuta, o professor de sua filha e o homem por quem ele está apaixonado. Koito, por sua vez, conta a Hatano e à audiência que ele e seu parceiro estão pensando em adotar uma criança, e eu fico muito feliz em conhecer mais sobre Koito e perceber que ele está bem… ele tem um namorado, ele tem vários amigos gays que andam pelas ruas sem medo de serem quem são, e são cenas rápidas repletas de significado!

Embora Hatano não consiga pedir desculpas a Koito sobre as coisas do passado, ele convida Koito para a “festa da batata doce” no condomínio no dia seguinte, e Koito aceita o convite… na verdade, ambos têm coisas a dizer um ao outro, e essa é uma grande oportunidade. Destaco a felicidade que Sakuta não consegue (e nem tenta) esconder quando Koito conta que comprou uma casa com o seu parceiro, com quem está há muitos anos. É como se ele respirasse aliviado. A história de Koito permite que Hatano e Sakuta percebam que, ainda que o casamento entre pessoas do mesmo sexo não seja permitido ali, eles têm direitos e meios de garanti-los e de serem reconhecidos perante a justiça… e uma cena fofa toma um caminho quase inesperado.

Ou não.

A sinceridade de “Chosen Home” é o que me fascina na série. Koito é uma pessoa legal, mas é uma pessoa real… tantos anos se passaram desde a sua história com Hatano na escola, mas ele ainda se lembra, como fica evidente no momento em que ele diz que “está feliz que ele tenha encontrado alguém que não lhe dá nojo”. Aquela fala de Koito me atingiu como um soco, e só posso imaginar o que foi sentido por Hatano… Koito quase se arrepende de como ele disse aquilo, mas era importante que os dois se dirigissem ao elefante na sala em algum momento, e eles finalmente falam abertamente sobre o passado, o que nos leva a um flashback dos dois na época da escola, e podemos ver acontecer aquela história dolorosa sobre a qual já ouvimos falar.

Genichi fez o que fez por medo. Ele era um adolescente assustado em uma sociedade preconceituosa, e ele se culpou a vida toda por ter se juntado aos garotos que riam de Koito. Ele pede desculpas pelo que dissera, por como o tratara e por ter se afastado, mas Koito reage dizendo que a culpa não foi só dele e ele também tentou afastá-lo e tem motivos para pedir desculpas… naquele momento, Hotaru pergunta se Koito gostava de Hatano, e ele diz que sim, e Hatano responde dizendo que ele também gostava de Koito, que ele foi seu primeiro amor… é muita dor envolvida, muito sentimento guardado e não concretizado – possibilidades não vividas que agora são memórias do que nunca aconteceu, e há beleza e melancolia em toda essa cena.

Ri muito com o Sakuta interferindo: “No passado, pra deixar claro!”.

Sinto que, de alguma maneira, Hatano e Koito recuperaram uma amizade – muitos anos se passaram, é verdade, mas o que eles sentiam um pelo outro era sincero e eles passaram todos esses anos presentes um na vida do outro porque ambos compartilhavam certa culpa. É bonito ver essa ferida finalmente se fechando e permitindo que eles sigam em frente em sua história… não é uma história romântica, porque esse tempo já passou e seria irreal se fosse diferente, mas a possibilidade de uma amizade dali em diante é bem-vinda. Inclusive, eu sinto que tanto Hatano quanto Sakuta precisam encontrar essa comunidade, para que eles não sintam que eles estão sozinhos e “se escondendo” o tempo todo, como por tanto tempo se sentiram.

E a despedida ali de Hatano e Koito, com a cena do óculos, é linda e sensível.

Depois de toda essa trama que envolvia o passado de Hatano – e nos perguntamos qual será a participação de Yoshida nos próximos episódios, já que ele acabou de descobrir que não consegue esquecer Sakuta –, “Chosen Home” nos conduz pelo retorno brevíssimo de Tomoe. Ela está por perto, visitando lugares que significam algo para ela e para a filha, e termina o dia no condomínio, para ver Hotaru, que a recebe jogando nela todos os chaveiros que ela mandara através da proprietária. Eventualmente, no entanto, aquilo vira uma grande reunião presidida pela proprietária, e conta com Tomoe, Hotaru, Hatano, Sakuta e Jin, e aqui eles falam sobre sonhos grandes e pequenos e sobre começar algo novo… algo que Hatano é quem melhor entende.

Tomoe não vai ficar, não ainda… ela precisa completar a sua busca pelos 47 chaveiros de uma coleção para “realizar um pequeno sonho de criança”, mas é meramente simbólico: é o que vai lhe mostrar que ela consegue, para que ela possa se lançar a algo novo. Ela se despede da filha, e dessa vez é diferente da outra. Hotaru pergunta se ela a ama, e Tomoe responde que sim, e talvez fosse isso o que Hotaru precisasse ouvir – por ora, ao menos. Gosto muito da conversa de Hotaru com Hatano depois da nova partida da mãe, quando ela se pergunta se ela deve odiar a mãe pelo que ela fizera, porque tudo está muito confuso dentro dela, e Hatano diz que ela não precisa decidir isso agora. É uma cena linda sobre amar, sobre envelhecer, sobre chorar…

Que episódio perfeito!

 

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Comentários

  1. Olá! Um bom dia, boa tarde ou boa noite. Queria muito ler uma resenha sua sobre o filme The Man From Earth. Fica aqui a recomendação, muito obrigado.
    Achei muito maneiro você ainda manter o blog ativo!!

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