Além do Tempo (2015)
“Palavras ao vento…”
QUE NOVELA
ESPETACULAR! A temática espírita já nos entregou, ao longo da história,
excelentes telenovelas… dentre as mais famosas, destaco “A Viagem”, de Ivani Ribeiro, que contou com uma versão em 1975
pela Rede Tupi e um remake pela Rede
Globo em 1994, e “Alma Gêmea”, do
Walcyr Carrasco, de 2005, além, é claro, das obras da Elizabeth Jhin, como “Amor Eterno Amor”, de 2012, e “Espelho da Vida”, de 2018. Considero,
no entanto, “Além do Tempo” como uma
das melhores telenovelas a explorar o espiritismo, pela amplitude de sua trama,
que se divide em duas fases de tamanhos similares e apresentam duas encarnações não de uma ou duas
pessoas, mas de toda uma cidade… são
muitas almas se reencontrando com a possibilidade de evoluir.
A primeira
fase de “Além do Tempo” se passa em
Campobello, durante o século XIX, e nos apresenta a personagens como Emília
Diffiori, uma saltimbanco que, na juventude, se apaixonou por um nobre chamado
Bernardo Castellini, e cujo romance foi proibido pela mãe do rapaz, a poderosa
Condessa Vitória Castellini, por causa da diferença de classes… vidas foram
arruinadas pelo rancor e pelo ódio, mas beleza também surgiu dela, como a
concepção de Lívia, filha desse amor proibido, que Emília passou anos
“escondendo” em um convento para que ela nunca soubesse da verdade ou
conhecesse a mulher que desgraçou sua vida – e que também é sua avó. Com o
retorno da Condessa a Campobello, os caminhos delas acabam se cruzando…
Lívia também
vive o seu próprio “amor proibido”. Ainda que esteja em um convento, ela nunca
quis ser uma noviça, e a chegada do Conde Felipe Castellini mexe com ela de uma forma que ela não
sabe entender e/ou explicar. Ela até tenta lutar contra esse amor, por tantos
motivos – o fato de eles serem de classes diferentes, de a mãe detestar com
todas as forças qualquer pessoa da Família Castellini e de Felipe estar noivo
de uma mulher chamada Melissa –, mas não consegue, e então eles vivem um
romance breve e intenso, cheio de altos e baixos, que nunca conhece a sua
plenitude, nem mesmo quando parece
que eles podem “viver felizes para sempre”. Melissa e Pedro, o “amigo” de Lívia
que não a aceita perder, estão dispostos a garantir que eles sejam tão infelizes quanto os fizeram.
Sempre digo
que o grande trunfo de “Além do Tempo”
está na mudança audaciosa para a segunda fase. Não é como se ela não fosse uma
novela incrível, com todos os
elementos que adoramos nos folhetins, desde o início, mas a riqueza que o
roteiro explora com maestria quando avança no tempo é quase indizível.
Aproximadamente 150 anos depois, reencontramos aqueles personagens conhecidos
de Campobello agora em Belarrosa, no ano de 2015, e eles estão vivendo a sua próxima vida… dinâmicas são
alteradas, novas relações são forjadas, e há um quê de ironia, mas também de
compreensão, na forma como se desenha esse novo cenário, e como as almas são
convidadas a amar, a se perdoar, a evoluir… algumas
conseguem, outras não.
As primeiras
semanas da segunda fase da novela são uma experiência empolgante! A sensação de
catarse constante é extremamente prazerosa, e adoro as leituras que podemos
fazer… gosto das novas relações e como elas parecem ser ou consequências ou instrumentos – gosto demais de ver
Felipe como irmão de Afonso e Severa, por exemplo, a nova relação de Melissa e
Roberto, os traumas de Mássimo, mas a sua “cura” a partir da chegada de suas
sobrinhas, o amor de mãe e filho de Gema e Francisco, além do Ariel, é claro,
que é um dos personagens mais queridos
da novela e que se torna hilário na segunda fase! Também temos novidades, como
Mateus, filho de Gema bastante sensível à espiritualidade, e Alice, filha de
Rosa e seu ex-marido, Bento.
Nessa
segunda fase, Emília se torna Emília Beraldini – uma mulher rica e poderosa com
a mesma arrogância pela qual julgara Vitória Castellini na vida anterior… e sua
relação com Vitória é curiosa. Antes
arqui-inimigas, aqui elas se tornam mãe e filha separadas durante toda uma
vida, com um rancor construído propositalmente por um pai egocêntrico de
orgulho ferido, e agora Emília quer vingança contra Vitória Ventura. Lívia
Beraldini, por sua vez, está noiva de
Pedro e em um relacionamento tóxico com um noivo possessivo, e se apaixona à
primeira vista por Felipe Santarém, que dessa vez está casado há anos com
Melissa, com quem ele tem um filho, Alex. É ainda mais complicado que antes,
mas eles não conseguem negar o que sentem.
À boa
escrita de Elizabeth Jhin e à boa direção de Rogério Gomes se une um elenco que
dá vida a esses personagens com propriedade. Irene Ravache, que interpreta a
Condessa Vitória Castellini/Vitória Ventura, é a grande estrela, em papéis
repletos de facetas tão bem retratadas. Ana Beatriz Nogueira interpreta sua
arqui-inimiga e sua filha vingativa, Emília. Alinne Moraes e Rafael Cardoso
interpretam os apaixonados Lívia e Felipe, enquanto Emilio Dantas interpreta o
cada vez mais desprezível Pedro e Paolla Oliveira dá vida a Melissa. Cito,
ainda, nomes como Felipe Camargo, Val Perré, Luiz Carlos Vasconcelos, Louise
Cardoso, Nívea Maria, Letícia Persiles, Dani Barros, Júlia Lemmertz, Rômulo
Estrela, Luís Melo, Daniela Fontan, Michel Melamed, Carolina Kasting, Caio
Paduan, Inês Peixoto, Flora Diegues e Mel Maia.
Toda a
experiência de “Além do Tempo” é
enriquecida pelos paralelos entre as duas diferentes fases da novela… há um
jogo que envolve carma, justiça e injustiças, e às vezes é mais fácil se
desprender do que veio antes do que em outros momentos, e essa é justamente a
graça da novela: são as mesmas almas, sim, mas não exatamente os mesmos
personagens… eles mantêm características, mas também ganham novas, abandonam
outras – afinal de contas, é a chance que
eles têm de evoluir. A novela contou com 161 capítulos (87 na primeira fase
e 74 na segunda), que foram exibidos entre 13 de julho de 2015 e 15 de janeiro
de 2016. É um sucesso e uma novela amada pelos noveleiros, e reconhecida como
uma das melhores da década.
Novelão
delicioso do início ao fim!
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