On Broadway – Les Misérables – To love another person is to see the face of God!


I dreamed a dream in time gone by.
Tentar escrever sobre a emoção de assistir Les Misérables é confuso. Confesso que no início eu estava um tanto quanto cético: era diferente de qualquer coisa que eu vi, diferente de qualquer coisa que eu idolatro. Não tem as músicas hits que você vai sair do teatro cantando, e que você vai querer o CD para tal. Ao invés disso, o que temos são canções fortes interligadas, em um tom clássico quase de ópera, em um musical que é inteiramente cantado. O musical baseado na obra de Victor Hugo conta a história de Jean Valjean – um ex-prisioneiro que foge, depois de 19 anos servindo por ter roubado um pão, e passa sua vida tentando ser uma pessoa diferente, depois de um ato de misericórdia, salvando e ajudando pessoas em seu caminho, enquanto é perseguido pela polícia, e se vê preso no meio de uma revolução na França do século XIX, com jovens idealistas lutando por liberdade.
Eu gosto da grandiosidade de Les Misérables. E não estou falando apenas do número imenso de atores no elenco, ou dos elaborados cenários e maravilhosos figurinos. Também estou falando de história mesmo. Eu gosto da abrangência disso tudo, e como começamos em um prólogo em 1815, com uma belíssima apresentação de Jean Valjean, mas depois os anos se passam depressa, várias fases vão passando, e as histórias vem e vão depressa. E é muito bonito ver uma música se tornando outra, ver cada personagem de determinada parte da história ter seu momento marcante, e ver as coisas seguindo adiante enquanto Jean Valjean envelhece, ainda ajudando pessoas e fugindo da polícia. Também é impressionante como uma coisa puxa a outra... como a história de Fantine (Caissie Levy) traz Jean Valjean (Ramin Karimloo) de volta, e as cenas com a pequena Cosette (Angeli Negron) fazem os anos passarem até Cosette (Heidi Giberson) conhecer Marius (Chris McCarrell).
Particularmente, eu me emocionei demais com as cenas de Jean Valjean encontrando a pequena Cosette no meio da floresta, quando ela foi buscar um balde de água – mais ainda do que a belíssima interpretação de I Dreamed a Dream. Mas essas crianças nesse estilo de musical trazem um tom completamente diferente – e emociona! É lindo vê-lo lutar por ela, e carregá-la nos braços enquanto a protege daquela maneira! Castle on a Cloud é uma coisa perfeitamente bonita, depois de Fantine's Death, que é uma cena nos mesmos acordes de I Dreamed a Dream, na qual nos despedimos da personagem... e eu acho muito bonita essa relação de Jean Valjean com Cosette, como um amoroso pai. Ele não é realmente o pai dela, mas ele a criou como se fosse, e a ama incondicionalmente. Enquanto ela retribui esse amor da mesma maneira; e nos tornamos agradecidos por essa vida que ele conseguiu mudar, essas oportunidades que ele deu àquela fofa menina maltrapilha.
Em 1832 é onde conhecemos dois personagens que eu realmente gosto. Primeiramente, Gavroche (Joshua Colley), que é a luz desse espetáculo. Um garoto tão simpático, um personagem tão bonito, e um soprano belíssimo! Tudo para uma pequena criança. E depois, claro, Marius, representando os estudantes. Não vi com o Andy Mientus (e vocês sabem o quanto eu amo o Andy Mientus), mas Chris McCarrell estava maravilhoso nesse papel! Amo as músicas que temos aqui, como por exemplo In My Life (que é de Valjean, Cosette, Marius e Éponine), A Heart Full of Love, e o belo trabalho emocionante de Nikki M. James como Éponine, aquela apaixonada por Marius que não recebe esse tipo de atenção por parte dele – é de partir o coração escutá-la cantar On My Own. Assim como é terrivelmente sofrido ver A Little Fall of Rain, enquanto ela morre nos braços daquele que amou.
Triste.
Mas ainda nada comparado ao destino de Gavroche – porque nós o adoramos. Não tem como não adorar aquele menininho! E enquanto ele ajuda na barricada, nós não podemos deixar de temer por ele. E ficar horrorizados quando ele é brutalmente morto. Aquilo machuca mais que todo o resto. Também na barricada, temos cenas muito fortes e bonitas de Jean Valjean com Marius, como Bring Him Home, e a maneira como ele o salva e cuida dele, levando-o de volta para Cosette. Todas essas cenas do segundo ato são bastante impactantes – como Empty Chairs at Empty Tables, que é um solo de Marius depois de todos esses ideais e essas lutas da Revolução Francesa, e é realmente comovente. Adoro a maneira como Jean Valjean entrega a filha para que ele cuide dela, e aquele casamento...
Ainda temos, por fim, aquele belíssimo Finale. Eu não sei o que eu estava esperando. Certamente nada “feliz”, porque tanta melancolia não podia acabar de maneira diferente, mas a maneira como finalizaram a história de Jean Valjean? Não podia ter sido mais bonito! Como ele mistura, em sua música, um pouco de I Dreamed a Dream, Bring Him Home (enquanto se entrega para a morte) e termina no ritmo de On My Own. Se despedindo de uma Cosette e um Marius em prantos na frente do palco, enquanto se entrega de bom grado a um caminho com Fantine e Éponine. Tão bonito! E ainda temos aquele bonito ensinamento, de que “amar outra pessoa é ver a face de Deus”. É um musical realmente comovente, e feito para aqueles que adoram um estilo mais clássico e uma história triste. Um belíssimo drama. Grandioso, incrivelmente bem produzido, um evento inesquecível, com toda a certeza.

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