Doctor Who: Season Five (2010) – Part 1


“The Universe is cracked. The Pandorica will open. Silence will fall”
É um verdadeiro choque começar a assistir a quinta temporada de Doctor Who com Matt Smith. Trata-se de um novo Doctor, e podemos estar habituados a isso, mas ainda assim é interessante – temos, a princípio, um Doctor jovial e brincalhão, com suas divertidas cenas com a pequenina Amelia Pond, que acha ele “engraçado” por causa das suas ótimas reações a diferentes comidas. Como fãs, é um baque gritante. Nós não só temos um novo Doctor, como também temos uma nova companion, o que estabelece um recomeço para a série, mas, como se não bastasse, temos também um novo interior para a TARDIS e uma nova chave de fenda sônica. Tudo se “regenerou”, sendo quase um reboot para a série como um todo. Mas acho que nada choca mais, em um primeiro momento, do que sentar-se para ver o episódio e observar a nova abertura, totalmente reformulada, com nova versão do tema clássico, nova versão do Vórtice Temporal, novas maneiras de apresentar os nomes e novo logo.
Tudo é, de verdade, muito novo. Tem um pouco de cara de primeira temporada.
O primeiro episódio de Matt Smith, The Eleventh Hour, funciona para estabelecê-lo como o Eleventh Doctor – culminando no belíssimo discurso que ele fará, afinal, e que sempre me arrepia! Temos um episódio no qual ele ainda tem um pouco da TARDIS antiga, ainda usa a chave de fenda sônica antiga e ainda anda nas roupas esfarrapadas de David Tennant depois da colisão. Até que ele assuma sua identidade. É uma transição. E a apresentação de Amelia Pond é uma das melhores apresentações de companions, porque ela aparece ainda pequena, ainda criança, e ela passa a vida esperando pelo Doctor. The girl who waited. Eu entendo o quanto era perigoso para ela estar na TARDIS naquele momento, e ela está tão habituada a ser abandonada, como uma garota sofrida, que é doloroso ouvir a desesperança na voz dela. Mas o Doctor promete voltar. Em cinco minutos. “Am I people? Do I even look like people? Trust me, I’m the Doctor”. Mas ele não volta.
Não em 5 minutos.
Só posso imaginar o quão doloroso tudo aquilo é. Porque, como adultos, nós somos fascinados pelo Doctor e pela vida de aventura que ele representa. Imaginem só uma criança! Amelia sorri quando a TARDIS desaparece, e entra animadamente em casa para arrumar sua malinha, empolgada com a aventura que está à sua frente. Que dó vê-la sentadinha em cima da mala, toda agasalhada, esperando o Doctor voltar! E ele realmente não queria ter se atrasado tanto! “But what are you doing here? Where’s Amelia? […] Yeah, Amelia. Little Scottish girl. Where is she?” But he did. Quando o Doctor retorna, 12 anos depois, ele encontra uma Amy crescida, com uma profissão que ele acha duvidosa (“I’m the Doctor, I’m worse than anybody’s aunt!”), a ameaça do Prisioneiro Zero que fugiu pela fenda no tecido da realidade e os Atraxi ameaçando queimar todo o Planeta Terra caso o Prisioneiro não se revele. “20 minutes til the end of the world”. Adoro particularmente a Amy prendendo o Doctor a um carro, pela gravata, e ele pedindo que ela acredite nele, por 20 minutos, provando com a maçã que ela tinha acabado de dar para ele. 12 anos atrás.
“Why did you say six months?”
“WHY DID YOU SAY FIVE MINUTES?!”
O Doctor aparece como uma antiga fantasia infantil que se tornou realidade. Amy Pond desenhava o Doctor Maltrapilho o tempo todo. Passou por quatro psiquiatras que insistiam que ele não era real. Mas ali está ele. Atrasado, mas ali. Para toda uma coisa contra o Prisioneiro Zero que é uma ótima introdução de Matt Smith ao papel. Adoro vê-lo assumindo sua própria personalidade, sua marca registrada nas roupas (a gravatinha borboleta – “Yeah, it’s cool. Bow ties are cool”), mostrando aos Atraxi que aquele mundo, além de não apresentar ameaça a eles, ainda é protegido, como sempre foi, pelo Doctor. Como é emocionante ver aquela projeção dos outros 10 Doctors antes de Matt Smith, e a saída de Matt Smith, em pessoa, com gravata borboleta e tudo: Hello… I’m the Doctor. Basically? Run!Depois de salvar a Terra e sair curtindo sua TARDIS novinha em folha, o Doctor retorna, mais dois anos atrasado, na noite anterior ao casamento de Amy para levá-la como sua companion“So. All of time and space. Everything that ever happened or ever will. Where do you want to start?”
A proposta chega a me arrepiar! Amy Pond tem uma das cenas mais bonitas como companion no início de The Beast Below, flutuando no espaço do lado de fora da TARDIS, segurada pelo pé pelo Doctor, com seus cabelos vermelhos esvoaçando enquanto ela faz uma bela narração. É bonito, é tocante. Mas Amy Pond não se consagrará, nessa temporada, como uma das melhores companions. Chegamos ao século XXIX, onde o Reino Unido da Bretanha flutua, também, no espaço, em busca de um lar, comandados pela Rainha Liz Ten (Elizabeth the Tenth), em uma proposta macabra onde os smilers levam crianças que não vão bem na escola e cidadãos que escolhem protestar contra as escolhas das autoridades para serem devorados pela criatura que mantém o “país” flutuando em busca de lar. Amy Pond deixa seu casamento, sempre a aguardando na manhã seguinte (“A long time ago. Tomorrow morning”), e se torna a companion topetuda que faz o que quer e como quer, simplesmente porque quer. É a minha primeira impressão de Amy, quando ainda não a conhecíamos de verdade e estávamos tentando descrevê-la.
“Oh, Amy. We should never have come here”
Foi um episódio muito bonito que pareceu passar bastante depressa. A gravação de outra Amy, pedindo que ela tire o Doctor daquela nave, dá um tom de mistério ao episódio. As votações nas quais todo mundo escolhe ESQUECER o que viu ao invés de PROTESTAR também é uma alegoria interessante, enquanto o tema do “esquecer” é veemente implantado na temporada, o que vai ser bem recorrente até o maravilhoso Season Finale. Não é um episódio amplamente elaborado, beirando o simples, mas tocante e profundo. Amy empreende um paralelo entre a baleia espacial que mantém a nave andando com o próprio Doctor, último de sua espécie, velho, e que não suporta ver crianças chorando, porque a dor, o sofrimento e a solidão os tornaram bondosos e, desse modo, perigosamente salva a baleia das torturas diárias que a atormentavam enquanto a nave continua intacta. Mas foi prematuro, foi impensado e quase irracional. Amy jogou e, ao jogar, jogou alto demais, quase fazendo com que o Doctor a levasse de volta para casa, porque ela não podia tomar esse tipo de decisão por ele.
Mas ele não podia.
Ele não podia porque escolher Amy não foi por acaso.
Nunca é.
Amy, a garota que esperou, é a garota cuja parede ostentou a rachadura no contínuo de espaço-tempo pela primeira vez. O rasgo no próprio tecido da realidade. O grande mistério e mote de toda a temporada, e havia um motivo para ele estar lá, no quarto de Amy. Inclusive para quem ela é. Eu adoro como as temporadas de Doctor Who são estruturadas de forma elaborada com dicas que só fazem sentido lá no final, mas bem encaminhadas para se conectarem de forma inteligente. O negócio da rachadura em paralelo com o negócio do esquecimento, colocado no segundo episódio, são essenciais, como veremos nos episódios seguintes, para a construção de todo o sentido, e para a construção da própria Amy como personagem, uma garota que mora com a tia porque não tem pais. E por que ela não tem pais? O mesmo acontecerá com Rory Williams e com o próprio Doctor, finalmente. Se fechando em um perfeito ciclo completo.
O episódio seguinte traz os Daleks, com um misterioso telefonema de Winston Churchill, Primeiro Ministro do Reino Unido, e um Dalek espreitando. Victory of the Daleks não é dos meus episódios favoritos na temporada, mas é instigantemente inovador. Ele traz uma nova proposta de Daleks em um plano que culmina em uma vitória temporária, o que é diferente. E, claro, temos o Doctor saindo do controle, porque sempre foi, desde a primeira temporada com Christopher Eccleston, os momentos em que o Doctor mais foi ao extremo, capaz de qualquer coisa. Os Daleks, inimigos mortais dos Time Lords, protagonistas da Time War. Retomando toda a questão da memória, que só ao fim da temporada percebemos o quão grande e presente se faz, Amy, por algum motivo, não se lembra da grande invasão Dalek de 2008, que levou o Planeta Terra para outro lugar completamente diferente, enquanto o Tenth Doctor, Donna Noble e Rose Tyler precisavam encontrar uma maneira de resolver toda a confusão.
O Doctor do Eleventh demora demais para assumir, de fato, a personalidade pela qual ele será mais relembrado futuramente: de carinhoso, querido, brincalhão. Ele é bastante antipático no começo, a meu ver, e grosso demais em inúmeras ocasiões. Bastante questionável, de fato. Como quando ele manda a Amy calar a boca ou manda Churchill “exterminar” os Daleks. O Dalek é apresentado, nesse episódio, como uma maneira encontrada por Winston Churchill de vencer a Segunda Guerra Mundial contra o Nazismo, e o Doctor começa a perder o controle porque é esse quem ele se torna perto de um Dalek, derrubando, com raiva, a bandeja de um Dalek, chutando outro, brutalmente gritando com eles. Muita tensão envolvida. Ali implanta-se, quando o Doctor é o responsável por seu reconhecimento, a Restauração dos Daleks, quando surgem os Daleks coloridos marcantes da era de Matt Smith. O episódio não é memorável, mas traz uma bonita reflexão a respeito da dor que significa que você está vivo e é humano. É bonito. Por fim, os Daleks vencem e fogem, e o Doctor se preocupa que Amy não reconheça-os da invasão de 2008.
A rachadura continua, dessa vez em 1941, na parede atrás da TARDIS.
Sempre presente.

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