Harry Potter and the Cursed Child, Part 1 – Act 1 (Texto 1 de 2)


“I didn’t choose, you know that? I didn’t choose to be his son”
Os sentimentos durante a leitura de Harry Potter and the Cursed Child são verdadeiramente intensos, ainda mais do que eu antecipava – não sabia o quanto o roteiro ainda me surpreenderia. Trata-se do mais diferente que já lemos sobre Harry Potter. E não apenas pela forma de escrita, porque nós conseguimos reconhecer os personagens de forma belíssima, Rowling ainda está ali, e a genialidade do roteiro é impressionante. E a escrita da peça torna tudo tão visual que garante que entremos na história de uma forma imediata e profunda! Mas é bacana, e um pouco estranho, perceber a reformulação de coisas que criamos há tanto tempo em nossas cabeças. Quando terminamos de ler Harry Potter e as Relíquias da Morte, quase dez anos atrás, nós encaramos o Epílogo como uma provocação e uma ideia de que aquele universo continuaria existindo, conosco como telespectadores ou não. Mas não paramos totalmente para imaginar o QUANTO ainda estaria para acontecer quando aquele Hogwarts Express partisse de King’s Cross. O que seria de Albus Potter em Hogwarts.
E como ele reagiria ao ser, mesmo, selecionado para a Sonserina!
Acredito que haja uma questão de magia e aventura grande que se delineia bem no final do Primeiro Ato, e toda a proposta de viagem no tempo muito me intriga (sempre fui apaixonado pelo tema, e o transtorno do contínuo de espaço-tempo é sempre interessante), mas não é isso que mais me chama atenção num primeiro momento. Harry Potter and the Cursed Child tem uma carga emotiva marcante. A história é marcada, além de toda a aventura e de toda a magia, pela humanidade pungente do roteiro e pelas relações entre as pessoas. A força está aí, inicialmente, nos personagens e na forma como eles são retratados. Profundamente humano e doloroso (e incrivelmente real), a obra é repleta de falas fortíssimas e cheias de significado, que nos marcam eternamente. É uma leitura impactante e que flui depressa. Você vê as coisas acontecendo muito rapidamente, devido ao gênero, e é emocionante acompanhar tudo. Não tinha me dado conta do quanto a escrita em forma de roteiro de peça envolve e viabiliza a intensa recriação das cenas em sua cabeça.
Tudo é muito ágil.
Começamos com uma versão estendida e levemente diferente do Epílogo de Harry Potter and the Cursed Child, com uma bonita relação entre Lily Potter e Ron Weasley, por exemplo (“Uncle Ron! Uncle Ron!”) e um misterioso desaparecimento de Hugo Weasley. Nós ouvimos, novamente, a habitual fala de Harry que tenta convencer o seu filho que tudo bem se ele for para a Sonserina, já que isso parece algo preocupante para Albus Potter. “Albus Severus, you were named after two headmasters of Hogwarts. One of them was a Slytherin and he was probably the bravest man I ever know”. As personalidades das crianças já vão se delineando de forma categórica. James Potter é verdadeiramente atentado. Albus é bastante inseguro. Rose é ambiciosa e inteligente. Mas eu não sabia o quanto eu NÃO gostaria dela no decorrer do primeiro ato. E, claramente, o foco se distrai do trio original para apresentar toda uma nova ideia e um recomeço para o Universo de Hogwarts. Embora a Gina ainda comente: “People always look when you three are together. And apart. People always look at you”. Eles sempre serão celebridades.
E isso é um problema para o Albus e eu o compreendo.
Infelizmente.
Como a maior força de Harry Potter and the Cursed Child está na inter-relação das pessoas e a belíssima representação de amizades e frustrações familiares, Albus começa a se distanciar da família quando Rose tem uma atitude de escolher os amigos que terão pelo resto da vida (o que é perturbador), e solta um pretensioso “I’m a Granger-Weasley, you’re a Potter – everyone will want to be friends with us, we’ve got the pick of anyone we want”. Albus se sente puxado a um “lonely blond kid” sozinho em um compartimento do trem: Scorpius Malfoy. E então, bem depressa sim, eu digo: JÁ ME APAIXONEI PELO SCORPIUS! E, até o momento, Scorpius é o meu personagem FAVORITO em Harry Potter and the Cursed Child. Sua apresentação é MARAVILHOSA. Ele parece honesto, e uma boa pessoa. E ele conta, de cara, quem ele é. Um Malfoy. E enquanto a Rose escolhe ser uma mala e vai embora, Albus continua com Scorpius, porque quando Scorpius fala dos “problemas com o pai” que ele tem, alguma coisa acontece entre eles. “SCORPIUS and ALBUS look at each other and something passes between them”.
Eles se entendem.
A amizade surge quase instantaneamente.
Mas a história de Scorpius Malfoy é bastante perturbadora – o rumor que o envolve é terrível, e isso marca sua vida acadêmica. Crianças de Hogwarts estão mais CRUÉIS do que nunca! O rumor é de que Draco não poderia ter filhos, então a mãe de Scorpius foi mandada para o passado com um Vira-Tempo e, assim, Scorpius é filho de Voldemort. Não faz sentido (e ele tem um nariz!), mas é revoltante ainda assim. É terrível pensar nesse tipo de informação rolando, e no quanto isso traumatiza uma criança. É bullying inteiramente. Mas depois disso tudo, o meu amor pela produção só aumentava e aumentava e eu sabia que Scorpius e Albus Potter era muito amorzinho – tipo o Albus “ficando pelos doces”. Eu confesso que, inicialmente, eu estava todo receoso, com medo de que fosse alguma coisa que desandasse depois, mas a cada página que eu lia eu só me apaixonava mais e mais e mais por Scorpius Malfoy.
Então não sei o que dizer.
A seleção de Albus Potter para a Sonserina (Slytherin)
Inicialmente, eu achei que a cena do Chapéu Seletor estava optando pelo óbvio demais, e me frustrei um pouco. Rose Granger-Weasley na Grifinória. Scorpius Malfoy na Sonserina. Mas foi bom ver Albus Potter ser selecionado, também, para a Sonserina. Eu fico pensando que existe a possibilidade de que, talvez o Albus tenha deliberadamente ido para a Sonserina. Antes de seu primeiro ano, em King’s Cross, ele já temia que isso podia acontecer – e o pai lhe disse que não havia problemas, afinal ele havia sido nomeado em virtude de um diretor de Hogwarts que foi da Sonserina, e era um dos melhores homens que Harry já conheceu. Mas Harry Potter também disse ao filho que, se isso lhe importava tanto, o Chapéu Seletor levava em consideração o que ele queria. De forma inconsciente, talvez, Albus não pode ter escolhido a Sonserina como uma forma de afirmar-se independente da imagem do pai?
Afinal de contas, esse é um problema-chave da peça!
A relação conturbada de Harry e Albus
Eu entendo como Albus se torna o garoto que veremos depois, eu entendo o motivo de ele ODIAR Hogwarts e ter uma relação tão difícil com Harry. Ele sofre DEMAIS em Hogwarts por ser filho de Harry Potter. Inicialmente, tudo passa depressa, mas temos um conjunto de cenas que nos mostram o quanto é difícil crescer como Albus Potter, tendo todo o peso de um legado que ele não pediu, sendo julgado o tempo todo e tendo que tentar atender a uma expectativa terrível porque ele é “o filho de Harry Potter”. É pesado demais e doloroso para qualquer um. A criança cresce traumatizada em não poder, nunca, ser ela mesma. Albus Potter não é Albus Potter mais do que é “o filho de Harry Potter”, mas ele quer se assegurar de que ELE NÃO É O PAI DELE. Albus Potter existe como uma pessoa à parte, e não tem como ninguém crescer mentalmente saudável se for para ser constantemente comparado com o pai e cobrado por isso.
Não tem e essa é a verdade.
Pode não ser culpa do pai, mas é compreensível que Albus jogue isso para ele.
As coisas mudam depressa. O choque toma conta da escola em uma cena de silêncio quando Albus é selecionado para a Sonserina. Rose Granger-Weasley se afasta do primo por isso e por ele insistir em ser amigo de Scorpius, “o filho de Voldemort”. A aula de voo de Madame Hooch evoca falas de Harry Potter e a Pedra Filosofal como “Sitck out your hands out over your broom, and say, ‘Up!’”, mas temos uma visão inovadora agora. Não é o “todo-poderoso Harry Potter”, que consegue fazer tudo o que quer, mas Albus Potter, o seu filho que vive sob a sombra do pai e não consegue atingir as expectativas de todo mundo ­e talvez nem queira mais. Se Yann e Rose conseguem pegar a vassoura de primeira, todo o restante da turma o faz na tentativa seguinte. Menos Albus Potter. E é humilhante para ele. Mas mais do que humilhante para ele, é revoltante a maneira como os outros alunos de Hogwarts se portam, e eu não posso deixar de ODIÁ-LOS.
“He really isn’t like his father at all, is he?”
“Albus Potter, the Slytherin Squib”
É difícil suportar a dor das cenas. Eu confesso que isso foi o que mais me marcou durante a leitura – a incrível e dolorosa maneira como tudo se desenvolve de forma tão real e nos machuca. O Harry, às vezes, tenta ser um bom pai, mas com todos seus defeitos e seus comentários impensados. Eu entendo como Albus se sente. No segundo ano, Albus já quer que o pai se afaste dele. “It’s just – you’re you and – and I’m me and –” e se refere aos dois como “Harry Potter and his disappointing son”. Albus tenta refutar a pressão e a expectativa que não pode atender, mostrando que não é o pai dele, mas nada é o suficiente. E Albus vai crescendo cada vez mais amargurado. A mágoa pelo peso todo sob o qual cresceu molda sua personalidade. No terceiro ano, ele se recusa a ir para Hogsmeade, porque ele sabe que vai odiar o lugar, porque vai estar cheio de alunos de Hogwarts. E ele tem razão, afinal eles ficam fazendo comentários maldosos como “Albus Potter. An irrelevance. Even portraits turn the other way when he comes up the stairs” e “Leave him and Voldemort’s child to it, I say” que só me enervam e me fazem perder as esperanças neles.
De verdade.
Alguns momentos são conclusivos em relação à maneira como Albus e Harry se relacionam. Depois que Albus queima a autorização que o pai tenta lhe dar para ir para Hogsmeade, ele age sarcasticamente sobre como ele nem é bom nesse feitiço. E dói quando Harry Potter começa a falar sobre a correspondência que vem trocando com a Professora McGonagall sobre como Albus está se isolando e não coopera nas aulas. Chocou-me intensamente quando Albus responde a essas “preocupações” com um poderoso “So what would you like me to do? Magic myself popular? Conjure myself into a new House? Transfigure myself into a better student? Just cast a spell, Dad, and change me into what you want me to be, okay? It’ll work better for both of us. Got to go. Train to catch. Friend to find”. Uma das falas mais FORTES da peça toda. Tão intensamente angustiante que me deixa com um nó terrível na garganta.
Não sabia se estava preparado para isso.
No entanto, a amizade de Albus Potter e Scorpius Malfoy é LINDÍSSIMA. Enquanto ele perde a prima e ele e Rose se afastam (embora eu não goste dela mesmo!) com “As soon as the train leaves you don’t have to talk to me” e “I know. We just need to keep the pretense up in front of the grown-ups”, o Scorpius mantém uma fofura irredutível, uma esperança de que Rose esteja se abrindo lentamente, e até a aplaude quando ela entra para o time da Grifinória – coisa que Albus não faz. Foi intenso também ler a morte de Astoria Malfoy, a mãe de Scorpius e a maneira como ele está triste no trem quando Albus chega e então ele só pede: “Come to the funeral. […] And be my good friend”. É uma amizade verdadeira e uma amizade muito bonita. Isso existe, sim, na Sonserina, e eu acho que o Albus teve muito mais sorte de estar ali com Scorpius do que estaria se estivesse na Grifinória com a idiota da Rose. Minha opinião!

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