Barbie (2023)

“Humans have only one ending. Ideas live forever”

Com um visual incrível, roteiro moderno, divertido e consciente, e sacadas geniais que brincam com a história da Barbie e com a metalinguagem, “Barbie” é um verdadeiro sucesso! Poderíamos dizer, inclusive, QUE É UM DOS MAIORES EVENTOS DO ANO! A boneca Barbie é, desde o seu lançamento em 1959, uma marca fortíssima, com a qual Greta Gerwig, responsável pelo roteiro ao lado de Noah Baumbach e pela direção do filme de 2023, pôde brincar entregando uma história surpreendente. O filme é um manifesto contra o patriarcado e uma crítica social embasada, sem deixar de ser colorido, pra cima – visuais lindíssimos, números musicais muito divertidos e personagens que transbordam carisma e fazem com que nos apaixonemos por cada um deles!

É realmente um evento! “Barbie” está conseguindo muitos milhões na bilheteria, além de ter conquistado a aprovação da crítica e do público, e quase se torna um clássico instantâneo. Enquanto assistia ao filme no cinema, grande parte do meu cérebro estava pensando: “Como é bom poder estar experenciando isso!” Porque foi um filme que ME FEZ BEM! Toca em assuntos delicados e pertinentes, de uma maneira que vem incomodando os conservadores (o que, para mim, torna o filme ainda mais legal), mas se dedica em promover reflexão sem perder o alto-astral… tá, quer dizer, conhecemos uma “Barbie Depressiva”, é verdade, e ela não entende muito de “alto-astral” quando está na fossa, mas isso não quer dizer que o filme em si fique deprimente.

É, do início ao fim, uma experiência REVIGORANTE.

(Inclusive, minha sessão de cinema aplaudiu o filme assim que ele terminou!)

As escolhas criativas do filme claramente fizeram com que tudo funcionasse… eu gosto muito do tom quase satírico que existe na representação da Barbielândia, e de como isso torna o lugar ainda mais mágico, porque retrata o que conhecemos da Barbie de uma maneira genial. Felizmente, o filme não tenta transformar a Barbielândia em uma versão “mais realista” das brincadeiras das crianças com suas bonecas: é claramente um mundo de bonecas, que se torna hilário quando habitado por “pessoas de verdade”. Me diverti com detalhes muito bem pensados, como os pés da Barbie, que estão sempre na posição do salto alto, o chuveiro sem água e os copos sem líquido, o tamanho da escova de cabelos, ou a maneira como a Barbie sai de casa ou como dirige…

Preciso dizer: A BARBIELÂNDIA É ENCANTADORA. Eu sabia que o filme tinha muito mais a explorar, mas, ao mesmo tempo, parte de mim não queria sair daquele lugar… afinal de contas, tudo é colorido e funciona perfeitamente, não? Pelo menos é como as coisas costumavam ser, até que a Barbie Estereotipada, interpretada por Margot Robbie, comece a perceber mudanças. Tudo começa na festa na Casa dos Sonhos, na qual ela pergunta, no meio de uma dança, se as outras “já pensaram na morte”; na manhã seguinte, tudo está mudando, como a “água” do chuveiro fria, a torrada queimada e mau hálito… a gota d’água é quando o seu pé “achata” e ela não anda mais na ponta dos dedos, o que pega tanto a Barbie quanto as outras Barbies completamente desprevenidas.

O filme é muito rico e, nesse momento, minha cabeça está explodindo de coisas que eu quero comentar todas ao mesmo tempo e sinto que eu posso não fazer jus a tudo o que senti. Como disse, gosto muito do visual da Barbielândia e como tudo nos remete às brincadeiras com bonecas, e eu adoro como a Barbielândia é povoada por Barbies, Kens e alguns poucos outros brinquedos que foram cancelados ou descontinuados… como a Midge ou o Allan. A sequência do “dia perfeito da Barbie” com os infinitos “Hi, Barbie” e “Hi, Ken” é muito boa! Destaque para todas as Barbies, como a Barbie Presidente, a Barbie Escritora, a Barbie Vencedora do Prêmio Nobel, a Barbie Juíza… a Barbie pode ser o que ela quiser. O Ken, enquanto isso, fica na praia o tempo todo e só tem “um dia maravilhoso” quando a Barbie olha para ele.

A transição da Barbielândia para o Mundo Real acontece quando a Barbie Estereotipada resolve procurar ajuda com a Barbie Estranha (uma Barbie com a qual brincaram demais, o que quer dizer que ela tem o cabelo cortado, o rosto riscado de caneta e vive fazendo espacate), e ela descobre que o problema deve vir da humana da Barbie – a garota que brinca com ela. Quando “Barbie” foi anunciado e os trailers chegaram, sempre me perguntei como seria essa vinda da Barbie ao Mundo Real, e se seria algo num estilo meio “Matrix” (a Barbie Estranha dando a Barbie a escolha de saber a verdade ou esquecer EXATAMENTE como em “Matrix” é uma das minhas cenas favoritas!) ou “Encantada” e, felizmente, acaba não sendo nem uma coisa nem outra… é uma vinda ao Mundo Real no estilo “Barbie” mesmo, O QUE É INCRÍVEL. E ter a Barbie e o Ken no Mundo Real traz alguns momentos que são maravilhosos…

Tudo é surpreendentemente mais rápido do que eu imaginava… porque a Barbie se dá conta de que o Mundo Real não é nada do que ela imaginou. Essa é uma “brincadeira” inteligente do roteiro que se torna uma verdadeira crítica ao Mundo Real, e ainda traz um pouquinho da história da criação da Barbie, da Mattel. Amo como o filme consegue trazer a história da boneca com a aparição de Ruth Handler, e de sequências como a introdução do filme, que é uma referência incrível a “2001: Uma Odisseia no Espaço”, mostrando como o lançamento da Barbie foi, de fato, uma revolução… afinal de contas, até então as meninas só brincavam com bonecas bebês e, consequentemente, só aprendiam “a ser mães”. Com a Barbie, elas podiam ser o que quisessem.

Advogadas. Astronautas. Médicas. Presidente.

Eu acho SENSACIONAL como as Barbies acreditam, de fato, que elas solucionaram todos os problemas das mulheres no Mundo Real, mas a Barbie descobre rapidamente que as coisas não são bem assim… na verdade, os homens parecem mandar no mundo, várias garotas detestam a Barbie (ela é chamada de “fascista”, o que a deixa transtornada), e nem mesmo na Mattel tem mulheres em posições de liderança – que Mundo Real horrível é esse no qual a Barbie vai parar? Ah tá, desculpa, é só o nosso Mundo Real mesmo. Ken volta para a Barbielândia sozinho, maravilhado com as suas descobertas, enquanto Barbie consegue fugir dos caras da Mattel, que estão tentando colocá-la dentro de uma caixa (a simbologia disso!!!), com a ajuda de Gloria e Sasha.

A relação da Barbie com Gloria, a humana que brincava com ela (e que é a responsável por seus pensamentos de morte e ansiedade), é muito bonita. E eu amo toda essa outra parte do filme, quando Gloria e Sasha são levadas para a Barbielândia e elas descobrem que as coisas já não são mais como costumavam ser ali… porque o Ken conheceu o “patriarcado” no Mundo Real e transformou a “Barbielândia” no “Reino do Ken”: um lugar comandado por Kens, no qual as Barbies descem de suas posições empoderadas de liderança e independência para servir cerveja a Kens e “não precisar pensar”. É maravilhoso como “Barbie” se torna, então, uma grande sátira do mundo real – e é desesperador justamente porque nós sabemos o quanto tudo aquilo é real para tantas mulheres diariamente.

É necessário dizer: assim como a Barbie Estranha é um destaque incrível do filme, a BARBIE DEPRESSIVA é um momento que me fez dar verdadeiras gargalhadas… a Barbie Estereotipada, a protagonista do filme, está arrasada depois de descobrir que o Mundo Real não é como ela pensa, que as Barbies não resolveram todos os problemas das mulheres, e ainda por cima ter que lidar com o Reino do Ken e o fato de que as outras Barbies, outrora empoderadas e independentes, sofreram uma espécie de “lavagem cerebral” – então, ela entra em uma crise existencial perfeitamente compreensível com direito a não se sentir bonita (o comentário da narradora sobre como “a Margot Robbie não é a melhor escolha para nos convencer disso” é HILÁRIO!) e um comercial para a “nova Barbie Depressiva”.

Que genial.

Mas a presença de Gloria é a solução para todos os problemas – da Barbielândia, pelo menos. Afinal de contas, ela viveu sua vida inteira em um mundo comandado pelo patriarcado, exaustivo, incompreensivo e injusto, e o que ela tem a dizer sobre isso pode tirar as Barbies do “transe” no qual elas estão desde a implantação do Patriarcado do Ken. E eu ADORO o significado que isso traz: além de ser a oportunidade perfeita para ouvirmos a voz de uma mulher falando sobre misoginia, ainda é genial que sejam as palavras de Gloria que fazem as Barbies “despertarem”… afinal de contas, como é que se luta contra o patriarcado e as injustiças sociais? Através do conhecimento, da tomada de consciência e do desenvolvimento do pensamento crítico.

É o que Gloria está proporcionando às Barbies.

E, assim, elas voltam a ser o que eram. E os Kens não têm a menor chance.

O QUE É ÓTIMO!

Também é necessário comentar a respeito dos Kens (e como Ryan Gosling e Simu Liu estavam lindos como os Kens principais), e como eles entregam um dos melhores momentos musicais do filme com “I’m Just Ken” (toda a sequência da dança é MARAVILHOSA, sei nem como colocar em palavras o que eu senti, mas a coreografia é muito engraçadinha e o Simu Liu estava perfeito!), e, é claro, o Allan. AH, COMO EU AMEI O ALLAN! Allan é um boneco que foi criado pela Mattel em 1964 para ser “o amigo do Ken”. Se o Ken já não tem muita função a não ser “ser o namorado da Barbie”, imagine o Allan, que é “o amigo do Ken”. É impressionante como o roteiro do filme e a atuação de Michael Cera transformaram o personagem em um dos maiores marcos de “Barbie”.

Allan é absolutamente fofo e extremamente carismático… eu simplesmente AMEI todos os momentos em que ele estava em cena. Propositalmente ou não, Allan é um personagem importantíssimo com quem a audiência como eu, um homem gay, consegue se identificar, porque o Allan não é um Ken: enquanto o grupo dos Kens parece funcionar tão bem e homogeneamente, Allan não sente que ele é parte daquele grupo porque ele é diferente. Por isso, ele se sente tão desesperado para escapar do Reino do Ken quando tem a possibilidade, ou ajuda as Barbies a retomar a Barbielândia para que as coisas voltem a ser como eram, e ele é um excelente amigo para as Barbies… algo nele conversa muito comigo, e eu saio do cinema verdadeiramente apaixonado por ele.

Allan no grupo das Barbies em todo o plano delas é SENSACIONAL.

Toda a sequência final do filme também é incrivelmente emocionante. Depois que a Barbielândia volta a ser a Barbielândia, com as mulheres em posição de poder e os Kens com a possibilidade de um dia “terem tanto poder na Barbielândia quanto as mulheres têm no Mundo Real” (AH, O DEBOCHE!), Barbie toma uma decisão: ela não quer ficar ali… ser humana, mais do que ser uma ideia, tem seus desafios, mas Barbie está disposta a aceitá-los para ser aquela por trás das ideias. Eu acho interessante o fato de a Barbie não ter encontrado nada de tão maravilhoso no Mundo Real que a faça querer ficar, mas talvez tenham sido as emoções, talvez a possibilidade de ajudar a fazer do Mundo Real um lugar melhor e mais parecido com a Barbielândia.

Não sei. De todo modo, ela se torna “Barbara Handler”.

(A cena da Barbie com a Ruth? LINDÍSSIMA!)

É, certamente, UM FILMAÇO. “Barbie” tem a aclamação da crítica e do público conforme merece, e é uma experiência cinematográfica maravilhosa que merece ser vivida! Em termos técnicos, é extremamente competente, entregando um visual incrível, direção impecável, atuações excelentes e uma trilha sonora contagiante. Além disso, também é um filme corajoso, que se aventura a “adaptar” o mundo e a história da Barbie de maneira criativa, inteligente e com toques de crítica social, além de uma mensagem importante. É divertido, bonito, emocionante e revigorante. Estar no cinema assistindo “Barbie” me fez muito bem, e é uma experiência que eu vou guardar no coração com muito carinho. Quem ainda não viu, melhor correr para ver!

 

Para reviews de outros FILMES, clique aqui.

 

Comentários

  1. Parece que nos faltam palavras para descrever o quão genial esse filme é. Emocionante! Incrível! Maravilhoso! Ter a participação da filha da Ruth também foi um momento muito emocionante, num breve diálogo lindo de Barbie para Barbie. Que coisa mais fofa!

    ResponderExcluir

Postar um comentário