Invocação do Mal 2 (The Conjuring 2, 2016)

  
“There was a crooked man, and he walked a crooked mile”
MEU FILME DE TERROR FAVORITO EM MUITOS ANOS! Eu tenho uma relutância grande em assistir filmes de terror, embora ocasionalmente eu me encontre nos cinemas nesse tipo de sessão. E não é por medo nem nada disso, é porque eles demoram a me conquistar. Filmes como Jogos Mortais, por exemplo, não me agradam nem um pouco, porque não tem terror, só nojeira. Adoro Premonição, mas não considero terror. O gênero, há anos, vem andando aos trancos e barrancos e perdendo espaço, apesar da grande quantidade de [ruins] filmes que são lançados. Prefiro o suspense ou o angustiante terror psicológico, como aquele A Pele que Habito, que me atormentou horrores por muitas noites! Mas apesar de conter os clichês do gênero, que também são suas características (como a trilha sonora, as cores escuras, as mudanças rápidas de cena que permitem os sustos, a criação do suspense e da tensão para que você se assuste de basicamente qualquer coisa que aparecer em tela, etc.), Invocação do Mal 2 faz isso incrivelmente bem do início ao fim do filme, e então se classifica como um excelente filme do gênero.
Saí do cinema satisfeito!
Tive meus sustos, meus pulinhos, minhas risadas nervosas…
O filme se passa predominantemente em 1977. No entanto, antes disso, vemos Ed e Lorraine Warren investigarem uma casa um ano antes, em uma tensão muito grande que me mostrou, de imediato, que o filme sabia a que veio, e veio bem. Ótimo jogo de câmeras e atuações, a cena tem todo o suspense e os sustos com a apresentação primária do demônio de Lorraine, que é deixado de lado por muito tempo. Conhecemos, então, a família Hodgson, e é absolutamente incrível. A construção destoante de uma atmosfera mais feliz e tranquila, uma família pobre vivendo em Londres, uma mãe e seus quatro filhos depois que o pai os abandonou. A fotografia está belíssima, em uma introdução impressionante que fez com que gostássemos dos personagens, especialmente o filho que gaguejava e a união dos irmãos para defendê-lo dos bullies na escola. E então, é claro, as coisas começam a sair de controle quando Janet Hodgson começa a ter algum tipo de contato com um espírito assustador que atormenta a casa, e os sustos começam para valer ao longo de todo o filme.
Dois momentos inicialmente são perturbadores. Daquele jeito que te faz ficar apreensivo esperando pelo susto, com a trilha sonora intensa e o suspense prolongado que culmina em algum ápice tenebroso. [O que eu mais gosto de ver esse tipo de filme no cinema é perceber as reações, quase dá para sentir o ar sendo preso por metade da plateia, e então os gritos são meio que uniformes e depois segue-se uma deliciosa risada nervosa que complementa a experiência; tudo diminuído quando visto só em casa] Primeiro quando o filho mais novo segue aquele carrinho até a sua cabana, onde está guardado o Homem Torto, e surge o som do espírito vindo lá de dentro, fazendo todo mundo meio que pular em suas cadeiras. Depois, quando Janet acaba ficando em casa sozinha numa manhã que devia ter ido para a escola, e as coisas acontecem de forma assustadora. A televisão começa a surtar. O controle da TV aparece na poltrona sinistra do canto enquanto ela está no telefone com a mãe. E vemos, de verdade, o espírito de Bill atrás da TV em uma mudança de câmera tão rápida que é inteligentemente assustador. O filme é RECHEADO desses momentos, e acho que só por isso valeria a pena.
Quem gosta do susto que um filme de terror pode proporcionar…
…você vai ter uns vendo Invocação do Mal!
Mas também a história do filme está MUITO boa. Janet é a criança mais atormentada pelo espírito demoníaco da casa. E as cenas vão se construindo de forma crescente. Primeiro ela começa a acordar caída na sala, perto da cadeira na qual Bill morreu. Depois isso continua acontecendo mesmo quando ela se amarra à cama para não andar dormindo. A própria Margaret, sua irmã, escuta as batidas fortes na porta que não são de Janet. [Uma das melhores cenas está na Margaret com medo da irmã, antes de tudo se desenrolar] Depois, Janet é verdadeiramente atacada pelo espírito que a morde, arranca sua coberta, e tudo começa a se desvelar de forma nada contida ou escondida. Quando Margaret está acordada, as camas das duas são chacoalhadas. Quando Peggy, a mãe, aparece para ver o que está acontecendo, a cômoda é jogada pelo quarto para trancar a porta. E mesmo quando os policiais são chamados o espírito continua se manifestando, movendo uma cadeira. Mais tarde, ele se manifesta, inclusive, diante das câmeras da televisão, dizendo seu nome pela primeira vez, falando através de Janet.
E é spooky.
Então Ed e Lorraine Warren são chamados para investigar o caso e para saber se a igreja deve ou não se envolver, porque eles não podem se envolver se houver alguma chance de o caso ser forjado – assim, Lorraine deixa a tormenta de seu próprio espírito demoníaco na forma infame de uma freira, e vai para Londres com o marido. É a típica construção ascendente do filme de terror de possessão: Janet perde cada vez mais o controle enquanto o espírito assume o controle de seu corpo, no entanto tudo ainda é muito envolto por mistérios uma vez que Lorraine e Ed querem acreditar na família mas não conseguem enxergar nada de verdade, não conseguem se convencer de que algo além do profundo medo da família está, de fato, acontecendo. São cenas angustiantes. A conversa com a água na boca. Janet presa dentro de seu antigo quarto. O ataque forjado na cozinha para que o casal vá embora. Adorei a astúcia do roteiro na forma de contar a trama, trazendo o demônio visto por Lorraine de volta como o principal espírito da trama, que prende, inclusive, o próprio espírito do Bill, como é suposto pelas gravações mescladas e pela conveniência de um ataque forjado no único cômodo da casa com uma câmera.
E eles retornam para a angustiante cena final, em todos seus detalhes.
Janet pendurada sobre a janela, prestes a cair em cima de uma árvore recém-partida por um raio, com o Ed segurando-a precariamente e a cortina que lhe ampara perdendo a força, enquanto Lorraine está dentro do quarto lutando contra Valak, o Demônio na forma de uma Freira… achei até razoavelmente simples que ela pudesse saber o nome do demônio e expulsá-lo de volta ao Inferno sendo que foi ele mesmo quem lhe contou seu nome (quando ela rabiscou na Bíblia, várias cenas antes), mas o clímax foi eletrizante, certamente. E o final foi até que muito feliz, porque nenhuma das crianças morreu nem nada assim. Acho que o grande toque final do filme nem está no Ed levando o Crooked Man para fazer parte do museu da família (com uma vista rápida da Annabelle ali no fundo, que por sinal não foi um filme tão bom), mas sim naquelas letras que diziam que Peggy continuou vivendo na casa até a sua morte (o que eu não faria, de jeito nenhum!), e, mais especificamente, como ela morreu: sentada na cadeira em que Bill morrera 40 anos antes. Isso para mim parece bizarro o suficiente para ser um pouquinho perturbador.
O filme estava excelente.
Gostaria muito mais do gênero se mais filmes de terror atuais fossem como esse!

Para reviews de outros filmes, clique aqui.


Comentários

  1. O primeiro já foi ótimo... ainda não assisti a sequência, pelo jeito faz jus ao seu antecessor.

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    1. Eu ainda tenho que escrever sobre o primeiro, né? Vou fazer isso um dia desses!

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