As Marvels (The Marvels, 2023)

“O Captain! My Captain!”

Com muita diversão, carisma e um visual bonito, “As Marvels” é um filme MUITO MAIS LEGAL do que eu imaginei que ele seria, em uma fase na qual se discute muito a “saturação” do gênero de super-heróis no cinema (embora esse seja um tema muito amplo que envolve a questão da “fórmula” versus a “inovação”, mais do que a quantidade de filmes sendo lançados de verdade). Eu não acho que seja o melhor filme da Marvel nem nada assim, talvez não tendo o apelo emocional (e a independência?) de “Guardiões da Galáxia Vol. 3”, o último filme lançado antes dele, ou de filmes como “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis”, que é, para mim (!), um dos melhores filmes do estúdio, mas é um filme delicioso de se assistir, que envolve e diverte como se propõe a fazer!

Lançado em novembro de 2023, com direção de Nia DaCosta, “As Marvels” é o terceiro filme da Fase 5 do Universo Cinematográfico Marvel, e ele tem um “problema” comercial que é o fato de ele “depender” demais do que veio antes dele, e isso pode dar à possível audiência, antes de nos sentarmos para assisti-lo, a sensação de que “é necessário ter visto muita coisa para entender o filme” – o que acaba desanimando algumas pessoas. O filme é oficialmente uma sequência direta de “Capitã Marvel”, filme de 2019 que nos apresentou à Carol Danvers, e de “Ms. Marvel”, série de 2022 que nos trouxe Kamala Khan, mas também depende um pouco de “WandaVision”, de 2021, porque é onde conhecemos a versão adulta de Monica Rambeau, que só aparece criança no primeiro filme…

Confesso que eu geralmente não assisto às séries da Marvel (só assisti a “Cavaleiro da Lua” porque eu sempre gostei muito do personagem e estava muito curioso para ver Oscar Isaac dando vida a ele), então nem posso dizer se “As Marvels” leva bem em consideração as séries ou se as “ignora” como sei que “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura” fez em relação ao desenvolvimento que Wanda tivera em “WandaVision”, mas eu tenho uma boa notícia para quem, assim como eu, está acompanhando mais o MCU pelos filmes mesmo: dá para entender “As Marvels” mesmo sem ter visto “WandaVision” e “Ms. Marvel”. Naturalmente, há dúvidas em relação à origem e domínio dos poderes, e deve ter sido completamente diferente para quem já conhecia Monica e Kamala…

Ainda assim, o filme consegue se sustentar.

E é uma aventura deliciosa!

Minha principal sensação em relação a “As Marvels” é de que O FILME É UMA DELÍCIA. Sem tentar ser muito sóbrio, o que é um problema quando o filme não precisa, mas se leva a sério demais (!), o filme se entrega totalmente a uma quase comédia que funciona muito bem. Ele tem cores vivas, uniformes que nos remetem aos quadrinhos, bastante ação, um uso bem interessante da conexão entre os poderes das três heroínas, situações absurdas e bastante carisma… sinto que Carol Danvers está mais solta do que costumamos vê-la, e é bom ver a sua interação com Monica Rambeau, que se sentiu “abandonada” pela “tia Carol” quando ela foi embora prometendo voltar em breve e não voltou, e com Kamala Khan, uma adolescente de Nova Jersey que é sua fã…

E que está constantemente fascinada por tudo.

Como o título sugere, a alma do filme está na interação entre Carol, Kamala e Monica – ou a Capitã Marvel, a Ms. Marvel e uma heroína sem codinome, o que é usado pelo roteiro para trazer referências a como Monica Rambeau já foi chamada nos quadrinhos. Sinto que, em parte, o filme está em uma ação desenfreada para deter Dar-Benn e, por isso, não tem tempo de explorar os poderes individuais de cada personagem, mas presumindo que isso já foi feito em “Capitã Marvel”, “WandaVision” e “Ms. Marvel”, o filme brinca com a nova habilidade, causada por um acidente, que elas têm de trocar de lugar umas com as outras quando usam seus poderes ao mesmo tempo… é um estilo de cena que me remete a “Sense8” e que funciona tanto para a comédia quanto para a ação.

Como comédia, tivemos cenas muito boas enquanto as três ainda estavam tentando entender o que estava acontecendo e a Capitã Marvel apareceu no quarto de Kamala, por exemplo, e a Kamala acabou conhecendo o Nick Fury enquanto flutuava pelo espaço no uniforme espacial de Monica… como ação, temos um uso bacana da alternância entre as três na batalha final contra Monica Rambeau, graças a uma sintonia que elas conquistaram através de muito esforço e treinamento. Gostei muito de como o filme nos mostrou as três “aprendendo” a trocar de lugar e usar isso a seu favor (uma boa montagem!), e de como a relação entre elas também se torna significativa… como a “Grande Capitã Marvel” tem que voltar a ser a tia de Monica e se tornar uma “pessoa de verdade” frente aos olhos de Kamala.

É uma boa construção!

O filme também brinca com absurdos de uma maneira divertida, e eu preciso tirar um parágrafo para comentar O QUANTO EU AMEI ALADNA! Quer dizer, além de ser um planeta lindíssimo (quase inteiramente coberto de água) e com um visual extravagante, colorido e cheio de vida, eles são uma civilização que se comunica através da música… eu não sei se faz sentido, mas é como se as Marvels tivessem entrado em um mundo de musicais (meio “Schmigadoon!” ou como aquele episódio da segunda temporada de “Star Trek: Strange New Worlds”), e isso rende cenas maravilhosas de música e dança que são tão absurdas que acabam sendo hilárias! A roupa de “princesa” da Carol, a animação contagiante de Kamala, a Monica tentando entrar no ritmo da música…

E o Príncipe Yan era um gato!

A grande trama do filme gira em torno de Dar-Benn, uma Kree que está tentando salvar o seu planeta, Hala, sem se importar com o que ela destruir no caminho… chamando a Capitã Marvel de “Aniquiladora”, por causa de toda a história da Inteligência Artificial destruída por ela, que deu início à Guerra Civil Kree, Dar-Benn está em busca de planetas que significam algo para Carol Danvers, de onde ela planeja roubar o que falta em Hala… de Tarnax, um planeta onde Carol ajudou a fundar uma colônia Skrull, Dar-Benn rouba a atmosfera, para que Hala volte a ser respirável; de Aladna, Dar-Benn planeja roubar a água; e, por fim, Dar-Benn planeja roubar o sol da Terra. E, enquanto faz isso, a vilã está causando uma instabilidade perigoso no contínuo de espaço-tempo.

Até que uma ruptura se abre.

No fim das contas, o filme tem uma estrutura simples que cumpre o seu objetivo de divertir, sabe usar bem suas personagens e explora diferentes e bonitos cenários. Além disso, temos um terceiro ato com ação eletrizante, com as três heroínas constantemente trocando de lugar, e uma conclusão emocional quando Monica Rambeau se “sacrifica”, ficando presa dentro do rasgo aberto por Dar-Benn, de onde ela precisa fechar a abertura… em uma cena pós-créditos, descobrimos que isso não custou a vida de Monica, mas a levou para um outro universo no MCU, onde existem os X-Men – e uma outra versão de sua mãe. Por ora, Carol e Kamala se tornaram uma interessante família, e aguardam o retorno de Monica… enquanto isso, Kamala Khan, a Ms. Marvel, começa a reunir a sua própria equipe.

 

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