Reinações de Narizinho – Pena de Papagaio


Um delicioso e educativo passeio pelo País das Fábulas, com Peninha!
Como tanto Pedrinho quanto Narizinho estavam completamente fascinados pela história de Peter Pan contada por Dona Benta (o que se passa em outro livro da coleção!), as coisas tomaram esse rumo pelo Sítio do Picapau Amarelo… certo dia, enquanto comia goiabas tranquilamente e pensava em Peter Pan, Pedrinho ouviu uma voz misteriosa, a voz de um menino invisível, que lhe deu um mapa e lhe prometeu ensinar-lhe um segredo, desde que ele merecesse… e para saber se ele mereceria, apenas com uma visita ao Mundo das Maravilhas. Um lugar que existe desde que a primeira criança nasceu, e continuará a existir enquanto houver um velho na Terra… um lugar facílimo de chegar, e talvez impossível.
Só depende da imaginação! “Muitos viajantes têm visitado esse mundo. Entre eles, os dois irmãos Grimm e um tal Andersen, os quais estiveram lá muito tempo, viram tudo e contaram tudo direitinho como viram. Foram os Grimm os que primeiro contaram a história de Cinderela exatinha como foi. Antes deles já essa história corria mundo, mas errada, cheia de mentiras”.
Essa história estabelece uma das coisas mais usadas na versão filmada de Sítio do Picapau Amarelo: a Canastra de Emília! Enquanto todos decidem que não precisam levar nada em sua viagem ao Mundo das Maravilhas, Emília, por querer ser diferente, arruma uma espécie de malinha, que Visconde carregará para ela durante todo o percurso. Mas a Canastra se mostra bem útil logo no começo da viagem, porque uma pena de papagaio é colocada sobre a cabeça do garoto invisível para que eles possam saber onde ele se encontra… e então ele se torna o Peninha! E também conhecemos o Pó de Pirlimpimpim, que os leva a esse outro lugar, chegando inicialmente ao País das Fábulas. Mas eu tenho um pouco de medo de fazer conexões e análises aqui.
Lobato e suas alusões!
“[…] o menino invisível tirou dum saquinho certo pó de pirlimpimpim. Deu uma pitada a cada um, e mandou que o cheirassem. Todos o cheiraram – sem espirrar, porque não era rapé. Só Emília espirrou. A boneca espirrava com qualquer pó que fosse, desde o dia em que viu Tia Nastácia tomar rapé. Assim que cheiraram o pó de pirlimpimpim, que é o pó mais mágico que as fadas inventaram, sentiram-se leves como plumas, e tontos, com uma zoeira nos ouvidos. As árvores começaram a girar-lhes em torno como dançarinas de saiote de folhas e depois foram se apagando. Parecia sonho. Eles boiavam no espaço como bolhas de sabão levadas por um vento de extraordinária rapidez”.
Não me surpreende que a TV tenha adaptado isso!
A partir de então, toda a história é um delicioso passeio pelo País das Fábulas, com recordações de fábulas que nos foram contadas quando ainda éramos crianças, a sabedoria de alguns famosos fabulistas, asneiras de Emília, e um importante e memorável presente que vai ao Sítio com eles… a trupe conhece, primeiramente, o Senhor de La Fontaine, célebre fabulista responsável por A Cigarra e a Formiga, por exemplo. Ah, a Emília aproveita para uma pequena vingança contra a “formiga coroca”. Também temos Esopo, um pouquinho da fábula do corvo com o queijo em cima de uma árvore, e Laura, a Menina do Leite. QUE NÃO DERRUBA MAIS O LEITE. Então ela pode sonhar à vontade…
O mais notável nessa história é a maneira como Monteiro Lobato mescla seus personagens e sua história autoral com o que já se conhece, em um ótimo caso de intertextualidade. Ele não faz cerimônia em usar-se de escritores famosos, histórias famosas, colocando aqueles personagens em suas histórias, fazendo os seus próprios personagens, como a Emília, interagirem com eles… eu acho isso fenomenal! E mais… a grande importância de Pena de Papagaio é que presenciamos uma cruel fábula do leão, perto do fim da história, e o Burro que estava prestes a ser sacrificado foge, Peninha monta sobre ele, e então ambos salvam as crianças da prisão dos macacos!
E assim o Burro Falante vai parar no Sítio do Picapau Amarelo.

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