Sítio do Picapau Amarelo (1979) – Emília, Romeu e Julieta: Parte 2



“Isso aqui é que é Verona? Sossegadinha demais! […] Acho que eu não vou ficar muito tempo aqui, não. Onde é que estão os Montecchios e Capuletos pra brigar? Aqui não tem nada pra fazer! Acho que eu vou é embora!”

 

COMO EU AMO ESSA HISTÓRIA! Tucanos está “vivendo” duas histórias simultâneas: de um lado, a briga eterna entre os Camargo e os Peixoto, que está impedindo que Rosa e Tonico possam viver o seu amor e se casar; de outro, a encenação de “Romeu e Julieta” por uma trupe, que é interrompida por Emília e seus protestos, porque ela não está nada satisfeita com o final da história. Agora, a bonequinha está decidida a fazer com que ambas as histórias tenham um final feliz e terminem em casamento… assim, ela deixa a Dona Benta responsável por convencer os Camargo e os Peixoto a não se oporem ao casamento de Rosa e Tonico, enquanto ela parte pessoalmente para Verona, usando a palavra mágica, para garantir o casamento de Romeu e Julieta.

E que delícia ver a Emília em Verona! Embora ela ache o lugar calmo demais… não tem ninguém na rua, nenhuma briga entre os Montecchio e os Capuleto, e ela chega a dizer, entediada, que “a briga entre os Camargo e os Peixoto é muito mais emocionante”, mas aos poucos ela vai vendo uma coisa ou outra… ela encontra um amigo de Romeu, por exemplo, enquanto a mãe de Julieta está conversando com ela sobre um casamento arranjado para ela. Eventualmente, Emília acaba pega no meio de uma verdadeira briga de espadas entre os Montecchio e os Capuleto no meio da rua (!), e ela usa o pirlimpimpim para voltar para casa antes que alguém acabe a machucando… e ela chega de volta a Tucanos em cima do palco, no meio do ensaio da cena daquela mesma briga.

É muito bom!

Antes de voltar para casa, Emília encontra Tonico e conta para ele que Rosinha está no Sítio do Picapau Amarelo, então ele escreve uma carta para Rosinha e pede que a bonequinha a entregue, o que deixa a Rosa toda animada e apaixonada, com as declarações de seu amado… uma carta que Shakespeare trata com desdém porque “lhe parece pouco original”, e até diz que uma das frases que ele usou “já foi usada em ‘Romeu e Julieta’, há 400 anos” – mas isso não tira o romantismo da carta! Felizmente, apesar do Shakespeare ser todo arrogantezinho e julgador, isso não tira o brilho do gesto de Tonico para Rosa, que está muito contente em saber do seu amado… e como dizer que o Tonico não é apaixonado e apaixonante quando ele aparece fazendo aquela serenata?

Toda a sequência da serenata talvez seja uma alusão à cena do balcão? Não sei, mas é uma cena com um clima delicioso! Tonico aparece de noite no Sítio do Picapau Amarelo, cantando para Rosinha, e a cena é muito fofa! Ali, no Sítio, eles podem viver o seu amor e serem o casal apaixonado que querem ser, e toda a serenata acaba virando uma cantoria só, deliciosa, com a participação não apenas do Tonico, mas de todo o pessoal do Sítio… mas a história deles ainda está longe de terminar, e a chegada de um tal de “Luciano” pode gerar confusão – assim como o surgimento de Páris em “Romeu e Julieta”. Dona Benta conta para todos sobre Páris e sobre o baile de máscaras no qual a família de Julieta pretendia apresentá-la para o jovem com quem querem que ela se case…

E nós sabemos que o mesmo vai acontecer em Tucanos, com Luciano.

Toda a história do famoso baile de máscaras deixa Emília animadíssima para retornar a Verona! Afinal de contas, como o Pedrinho e a Narizinho comentam, ela “viu muito pouco” em sua primeira visita, e o baile talvez seja a oportunidade perfeita para ver mais. Dessa vez, no entanto, Shakespeare diz que ela não vai sozinha, então desaparece ele mesmo, dizendo que “eles se encontram por lá”. Enquanto Dona Benta está lendo a história de “Romeu e Julieta” durante os serões daquela noite, então, Emília a interrompe, não porque não esteja interessada na história, mas porque “prefere ver tudo pessoalmente”, e desaparecesse usando o pirlimpimpim, e é muito legal como as duas cenas se completam: Dona Benta contando a história e Emília a vivenciando.

No baile, Emília reencontra Mercúcio, o amigo de Romeu, e novamente ela me arranca deliciosas risadas… primeiro com as poses de Emília durante a dança para a qual ela é convidada, e depois quando ela vê William Shakespeare também mascarado no baile e comenta: “Alguma coisa me diz que ele vai puxar minha orelha”. Ali, no baile de máscaras, vemos Romeu e Julieta trocarem olhares apaixonados e proibidos, enquanto a garota é colocada para dançar com Páris. Ao fim do baile, Emília retorna para casa mais uma vez, animadíssima e contando alegre sobre o baile e sobre a máscara que o Mercúcio lhe deu de presente, para recordação. E, dessa vez, Emília finalmente viu Romeu e Julieta pessoalmente, enquanto eles dançavam felizes entre os convidados.

Rosa e Tonico, os “Romeu e Julieta” de Tucanos, por sua vez, contam com a ajuda de Dona Benta… ou a tentativa de ajuda. Dona Benta, com toda a sua boa vontade e sabedoria, procura Antenor para falar sobre Rosa, contar que ela está no seu sítio e falar sobre o casamento… inicialmente, Antenor nem quer ouvi-la, apenas ir buscar Rosa imediatamente, mas Dona Benta o interrompe e diz que, embora seja sua filha, Rosa não é sua propriedade, e que ela pretende voltar para casa com a condição de que ele não se oponha mais ao casamento, porque ela gosta de Tonico. Então, mentiroso, Antenor diz que “não se opõe ao casamento”, mas apenas porque ele sabe que Rosa vai voltar para casa antes de se casar, e então ele poderá impedi-la de todo modo…

E tentar empurrá-la para Luciano.

Dona Benta acredita nele e combina com Antenor que o Visconde trará a Rosinha daqui a pouco, e Rosa e os demais ficam empolgados com a notícia de que Antenor não quer mais brigas com a filha e vai permitir o casamento. Rosa está contentíssima, diz que Dona Benta será sua madrinha de casamento, mas embora Antenor não tenha aceitado de fato o casamento, ele finge para Rosinha, o que a impede de sofrer, por ora. E ainda falta convencer Dona Severina, a mãe de Tonico! Enquanto está de volta em casa, Rosinha conhece Luciano, que aparece para se apresentar, para contar quem é e para convidá-la para um passeio, que ela educadamente recusa, antes de voltar para casa… Luciano é um rapaz bonito, de fato, mas ela está apaixonada por Tonico.

E Rosa e Tonico são ABSOLUTAMENTE FOFOS, não tem como!

Mas Dona Severia é dura e nem escuta Dona Benta… continua contra o casamento.

Enquanto isso, Emília anuncia que está retornando para Verona porque precisa “dar um pulinho e assistir ao vivo à famosa cena do balcão”. Empolgada, no entanto, Emília se recusa a levar o Pedrinho e a Narizinho com ela, dizendo que essa cena precisa de muito silêncio, porque se o Romeu ouvir um barulhinho que seja, ele pode pensar que é um dos Capuleto e desaparecer… a lógica de Emília faz sentido, é claro, mas é mais por seu egoísmo de querer vivenciar isso tudo sozinha. E ela acaba não estando realmente sozinha, porque William Shakespeare está lá com ela. E eu estou AMANDO a dinâmica dos dois: grande cena os dois escondidos assistindo à declaração no balcão e à fala mais célebre e repetida de “Romeu e Julieta”, até que o Shakespeare espirre (!) e assuste o Romeu.

Romeu foge e Emília tira logo o Shakespeare dali, mandando ele ir embora “antes que ele seja morto por seu próprio personagem” (O TEXTO DESSA HISTÓRIA É FANTÁSTICO DEMAIS!). Quando Emília diz que Shakespeare devia era ter ficado lá no Sítio do Picapau Amarelo até melhorar bem desse resfriado (!), ele se lamenta por estarem ali enquanto Romeu e Julieta estão vivendo a cena do balcão, e Emília se surpreende em saber que ela ainda não acabou, porque Julieta volta a abrir a janela… essa segunda parte, no entanto, enquanto Romeu e Julieta planejam se casar às escondidas, não é presenciada por Emília. Nós, como espectadores, vemos a cena (felizmente!), e Pedrinho e Narizinho também experienciam a cena através da leitura do livro.

Quando Emília retorna de Verona dessa vez, ela tem uma recepção diferente do que ela esperava… e é bem-feito! Pedrinho e Narizinho estão cansados de serem deixados para trás para ficar lendo “Romeu e Julieta” enquanto a Emília está vendo tudo ao vivo, então eles resolvem que eles também vão para Verona, com ou sem a sua autorização… eles não precisam dela para ir para Verona pessoalmente, afinal de contas! Então, quando Emília retorna empolgada, querendo contar sobre a famosa cena do balcão, Pedrinho e Narizinho a tratam com desdém, meio que dando de ombros e dizendo que “eles já conhecem essa história”, e eu achei MARAVILHOSO! Muito bom ver a Emília correndo atrás da Narizinho tentando contar tudo e ela nem aí…

Agora, é hora de mais gente ir para Verona!

 

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