Philip K. Dick’s Electric Dreams – Crazy Diamond

O que é ser “normal”?

Não é dos episódios mais brilhantes de “Electric Dreams”, mas ainda assim traz um universo interessante – talvez com possibilidades inexploradas. Baseado no conto “Argumento de Venda”, “Crazy Diamond” é um episódio protagonizado por Steve Buscemi, Sidse Babett Knudsen e Julia Davis, que parece um pouco perdido, e acaba se encerrando sem que possamos entender, de fato, qual era o seu propósito… talvez tenha sido questionar o que é “ser normal” e, novamente, o que torna um humano humano, mas o episódio não é forte o suficiente como os episódios que assistimos antes dele – talvez “Philip K. Dick’s Electric Dreams” tenha entregado episódios mais carregados emocionalmente e que permitiram que ficássemos pensando sobre eles, como o excelente “Human Is” ou o talvez inigualável “Real Life”, e “Crazy Diamond” acaba ficando aquém.

A ideia é interessante: estamos em um universo no qual humanos, chamados de “normais”, compartilham seu espaço com jacks and jills, que são sintéticos humanoides que recebem uma consciência quântica (QC) que lhes permite pensar e sentir exatamente como os humanos. Como é fácil notar, esse é um tema recorrente na obra de Philip K. Dick, que fala sobre a humanidade e o que torna o humano, humano de fato – a partir do momento em que uma forma de vida sintética vive, pensa e sente como um ser humano, o que o difere de um humano, afinal de contas? É interessante como isso é um elemento comum da ficção científica, que gerou obras futuras como “Westworld”, um nome fortíssimo da ficção científica mais recente. Philip K. Dick encontra diferentes maneiras de trazer esse assunto à tona continuamente – mas acaba não sendo o centro do episódio.

O episódio acompanha Ed Morris, um homem que trabalha na fábrica de jacks, jills e consciências quânticas, mas que está insatisfeito com a sua vida e sonha com, talvez, sair em uma “aventura” através dos sete mares, rumo ao desconhecido. É uma realidade bastante enclausurante, por isso ele acaba “fugindo” dela quando é abordado por uma mulher que quer a sua ajuda para roubar algumas QCs. A mulher é uma Jill que está “expirando”, e ela pretende convencer Ed a ajudá-la a roubar 10 QCs, com a intenção de ficar com uma para si, aumentando, assim, o seu tempo de vida, e vender as outras nove, dizendo que elas valem um bom dinheiro no mercado ilegal e que isso pode mudar a vida deles para sempre… talvez ele possa finalmente sair nessa aventura com a qual ele sempre sonhou. Ed enfrenta dilemas pessoais, mas acaba ajudando Jill.

Infelizmente, a condução não é boa o suficiente – não consigo dizer que o episódio seja totalmente ruim, mas é inegável a sensação de que falta alguma coisa. Senti que todos os personagens poderiam ser melhor explorados… Jill é uma mulher forte, decidida e que está lutando pela própria vida, então ela poderia ter sido melhor trabalhada; Ed, por sua vez, é a cara da confusão que acompanha alguns personagens de Philip K. Dick, e toda a sua angústia, seus anseios, sua indecisão e seu dilema moral entre vontade e culpa poderiam ter rendido um personagem muito mais profundo; e, por fim, Sally, que acaba ficando em um papel quase de coadjuvante, tinha uma trama promissora na culpa que sentia pelas ações “ilegais” do marido, enquanto também cultivava comida, o que era considerado ilegal, mas ela acaba ficando superficial e caricaturada.

O episódio é confuso – e não da melhor maneira possível, não intencionalmente. Entendemos a narrativa, sem entender de fato o que a move e onde ela quer chegar, ficando a com sensação de que talvez ela não quisesse chegar a lugar algum… temos um clímax com Ed e Jill recuperando as 10 consciências quânticas que foram roubadas, com consequências surpreendentes, mas nada marcante, nada que nos faça admirar um plot twist de qualidade, como talvez ficamos esperando; e temos uma conclusão que talvez busque um lado mais emotivo, quando Jill procura Sally para “explicar umas coisas” e elas fogem juntas, excluindo Ed Morris e o jogando do barco, mas que falha na intensidade. Mas, de todo modo, essa é uma característica de toda série antológica: nem todo episódio é marcante, mas sempre temos uma nova chance no próximo play.

 

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