Rivais (Challengers, 2024)

“I’d let her fuck me with a racket”

Você sabia que tênis podia ser tão sexy? Quer dizer, na verdade eu meio que sabia, mas ainda assim isso precisa ser dito quando vamos falar sobre “Rivais”. Protagonizado por Zendaya, Mike Faist e Josh O’Connor, o filme dirigido por Luca Guadagnino e escrito por Justin Kuritzkes chegou aos cinemas no último mês de abril e vem chamando a atenção. Sensual, intenso e dramático, “Rivais” é a história de Tashi Duncan, Art Donaldson e Patrick Zweig, e parece que a vida deles depende de uma partida de tênis decisiva. Apresentado de maneira não linear, com novos eventos sendo revelados à audiência conforme a partida entre Art e Patrick avança, o filme capta com maestria todo tipo de tensão acumulada naqueles anos de história e isso transborda dos personagens na partida.

O rally final é tenso e, por fim, catártico!

QUE SEQUÊNCIA ESPETACULAR!

Parece que o filme chega a se divertir com as idas e vindas em uma história que se passa no dia do jogo final, na semana que antecede esse jogo e ao longo dos 13 anos desde que Art e Patrick, melhores amigos de longa data, conheceram Tashi – e tudo está perfeitamente conectado. Tudo é uma coisa só. Amo os paralelos traçados entre a evolução da partida (o Patrick ganhando o primeiro set, o Art reagindo e ganhando o segundo, toda a tensão que movimenta o último set todo!) e a evolução da história, e eu acho que é justamente em detalhes narrativos assim que “Rivais” se sobressai e nos faz gritar: CINEMA! Tanto o roteiro quanto a direção são pensados de maneira a construir a história, tornando-a significativa e tornando a audiência parte daquilo tudo.

Quando Patrick e Art se encantaram por Tashi ao mesmo tempo, 13 anos antes, a vida deles mudou para sempre… eu preciso dizer que a amizade de Art e Patrick é, sem dúvida, a alma do filme – é o que o conduz, o que lhe dá vida, o que faz com que amemos os personagens. A cumplicidade que existe em toda aquela sequência de Tashi no quarto deles É ARREBATADORA em todos os detalhes! A maneira como eles contam a história de como Patrick ensinou o Art a se masturbar (!), a maneira como eles se beijam sem perceber que Tashi não está mais no meio, ou aquele tapão icônico que o Patrick dá em Art depois que Tashi vai embora do quarto… é mais do que tesão. É uma cena que funciona perfeitamente para mostrar a intimidade que existe entre Art e Patrick.

É só a partir deles que a história de “Rivais” é possível.

Mas também há tesão, não se preocupe. O filme é profundamente excitante – e, curiosamente, ele não tem NENHUMA cena de sexo. A sexualidade, no entanto, está tão enraizada no roteiro e nas relações entre aqueles personagens que você a enxerga a todo momento… na sincronicidade dos movimentos e nos olhares; na intensidade da partida de tênis principal; nas posturas; em muita coisa que não é dita e não é explícita, mas é notável. Também preciso dizer que eu fiquei babando por Mike Faist e por Josh O’Connor durante o filme todo, e eu imaginei que o ápice da sensualidade seria aquela cena perfeita dos dois na sauna um dia antes da partida… como pode um rally final em um jogo de tênis ter superado AQUELA cena dos dois extremamente gostosos na sauna?

A história do trio é complicada. E a verdade é que ela vai muito além do que qualquer olhar superficial pode notar, e geraria debates por semanas sobre uma infinidade de assuntos… isso faz com que o filme seja inegavelmente bom. Depois daquele primeiro dia e da primeira partida decisiva de Art x Patrick, Tashi engatou um romance com Patrick que durou algum tempo, até eles terem uma discussão que envolvia tênis e o Art, e então Tashi se machuca durante a próxima partida, eles se afastam sem uma boa conclusão, Art fica ao lado de Tashi quando ela precisa e, três anos depois, os dois engatam um romance que resulta em casamento e uma filha. E, agora, Patrick está de volta na vida dos dois e, mais uma vez, parece que tudo depende de quem vai vencer uma partida.

Algo que, no fim, eles percebem que não é o caso.

Quem ganhou a partida não poderia importar menos.

O filme é sobre relações, e sobre a “imperfeição” do ser humano, o que eu acho fascinante. Gosto de quando a ficção se propõe a explorar personagens propositalmente imperfeitos, porque encaremos os fatos: é assim que nós somos como seres humanos. Uma narrativa com personagens perfeitos e excessivamente higienizados fica cansativa, porque não é isso o que costuma gerar boas histórias. Tashi, por exemplo, é uma personagem interessantíssima de se acompanhar, porque ela gera dúvidas e discussões… a gente pode dizer que Tashi ama mais o tênis do que ela ama o Art ou o Patrick? Eu me arriscaria a dizer que sim. E é isso o que define as suas escolhas durante o filme, embora talvez ela não esteja fazendo isso de uma maneira consciente…

Tashi diz abertamente que vai “dar o seu número” a quem vencer a partida no dia seguinte, no primeiro dia de interação deles, e é assim que ela se envolve com Patrick. Ela se envolve com Art, anos mais tarde, e talvez em parte seja porque ele a convidou para ser sua treinadora depois da lesão, e porque, como o Patrick já dissera, “Art era parte do seu fã-clube”, e ela precisava sentir-se admirada ainda, e talvez precisasse se realizar através de Art… quando Art anuncia que vai se aposentar, por exemplo, ele chega a dizer que “sabe que está jogando pelos dois”. E Patrick também a conhece o suficiente para saber que, quando o Art se aposentar, ela vai “se cansar” dele porque ela quer continuar vivendo o tênis, e é por isso que ele a convida para ser sua treinadora…

Percebe o quanto é complexo? Eu poderia seguir adiante por muito tempo. É, de certa maneira, o tênis que guia a relação entre essas três pessoas… Art e Patrick também. Eles se conheceram e passaram a dividir um quarto quando eles tinham apenas 12 anos e começaram a treinar juntos. Foi o tênis que os uniu, em primeiro lugar, foi o tênis que garantiu a cumplicidade que eles têm, e eles se conhecem perfeitamente, e foi o tênis que os separou quando Tashi entrou no meio disso tudo. E eu talvez não tivesse percebido, até os últimos minutos do jogo, como tudo estava se direcionando para que aquela última e decisiva partida de tênis os unisse novamente – e é impressionante como isso pode ser enérgico, excitante, bonito e poético… tudo ao mesmo tempo!

Para mim, é a dinâmica entre Mike Faist e Josh O’Connor como Art e Patrick, respectivamente, o grande destaque do filme. É por eles que eu ainda estarei pensando em “Rivais” nos anos seguintes. Isso é tão bem construído que nós percebemos como um sabe o que o outro está pensando sem que ele precise dizer… isso vale para momentos dos dois no quarto (a maneira como Art sabe no que Patrick está pensando antes de ele começar a contar a história) ou na lanchonete quando Patrick retorna de um circuito (a cena dos churros, MEU DEUS!), mas, ironicamente, elas culminam naqueles momentos silenciosos dos dois sentados um perto do outro durante os intervalos do jogo (e eu preciso dizer: como eles estão lindos nessas cenas, não?).

A comunicação de ambos, estabelecida durante o filme, culmina na sequência final mais apoteótica possível, e eu não imaginava que se podia fazer isso com uma partida de tênis – mas isso o que acontece quando se sabe fazer cinema! Não há nenhum diálogo entre Art e Patrick, mas TUDO é dito mesmo assim. Do momento em que Patrick imita o “tique” de Art e Art entende o que isso quer dizer à frustração de Art, quase entregando o jogo, e ao rally frenético e aparentemente interminável no qual toda a raiva é descontada e todos os problemas são “resolvidos”. No fim, quando Art poderia se machucar em uma jogada, Patrick deixa tudo para trás para amparar o amigo em uma possível queda e eles se abraçam com intensidade… com saudade?

Há, novamente, TANTO que está sendo dito naquele abraço.

NOSSA, ISSO É CINEMA MESMO! QUE FILMAÇO!!!

 

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