Elio (2025)

Não estamos sozinhos…

Lançado em junho de 2025, “Elio” é o mais novo acerto da Pixar, embora não tenha feito o barulho que outros filmes do estúdio fizeram – e, em parte, por causa de problemas de divulgação, que gosta de explorar o sucesso garantido de sequências em detrimento a filmes originais que podem ser tesouros, mas ficam praticamente escondidos. “Elio” é a história de um garoto de 11 anos que perdeu os pais, foi morar com a tia e se sente sozinho e que nenhum lugar é seu lugar… ele anseia pelo momento em que ele será buscado por alienígenas a quem ele implora uma abdução, sem dar uma chance sequer ao Planeta Terra e à sua nova configuração familiar, porque ele sente que “está atrapalhando” e que está privando a tia da vida que ela queria ter.

Eu sou um grande fã das animações da Pixar. Gosto das ideias originais do estúdio e de como suas produções têm uma sensibilidade tremenda, tratando de uma variedade de assuntos que não ficam “escondidos na subtrama”: eles são o centro de sua narrativa. O meu filme favorito do estúdio, “Viva: A Vida é Uma Festa”, fala sobre pertencimento e sobre luto, por exemplo, mas menciona outras obras brilhantes do estúdio, como “Divertida Mente”, “Procurando Nemo” e o pouco valorizado “Luca”. Com “Elio”, a Pixar se aventura novamente, de maneira lúdica, no universo da ficção científica, a quem já lançou um olhar anteriormente com “Wall-E”, que é um dos melhores filmes do estúdio, e “Lightyear”, que não teve a recepção esperada por ser diferente do esperado, mas é um grande filme.

O fascínio pelo espaço e por vidas extraterrestres que me acompanhou durante toda a vida faz com que eu goste de “Elio” quase que imediatamente. É mais do que curiosidade pelo que “há além” que desperta o fascínio do pequeno Elio, no entanto: é a esperança. A busca por vida em outros planetas sempre foi acompanhada pela pergunta da humanidade sobre estarmos ou não sozinhos. Sozinho é como Elio se sente com a morte dos pais, e o anseio por alguém que o venha buscar tem a ver com o desejo irremediável de sentir que ele “pertence a algum lugar”, porque nunca sentiu que pertencia de verdade ao lado de sua tia, que está fazendo o melhor que pode, mas que não era responsável por uma criança até pouco tempo atrás e, portanto, ainda está tentando entender como as coisas funcionam…

Mas ela o ama incondicionalmente.

Elio Solís passou muito tempo estudando sobre alienígenas e tentando fazer contato, e ele coloca a tia em um problemão sério no trabalho dela quando responde a uma mensagem interceptada do espaço sideral, mas isso faz com que o seu sonho finalmente seja realizado quando ele é levado para um acampamento e é perseguido por garotos um pouco mais velhos que querem se vingar por causa de um incidente na praia – Elio é buscado por alienígenas do Comuniverso, uma espécie de estação espacial com embaixadores de diversos planetas diferentes e uma tecnologia avançada que permite a comunicação entre eles. Elio é adorável como protagonistas da Pixar costumam ser: a cena em que ele está sendo “abduzido” é uma das mais fofas do mundo!

Mas ele ainda é só uma criança… confundido com o líder de “Anterra” (porque, quando perguntam sobre ele, ele se apresenta como “Elio de… ahn… Terra”), Elio é apresentado ao Comuniverso e ele acredita que finalmente encontrou o seu lugar: ele nunca mais vai precisar lidar com garotos malvados e a tia vai estar livre para fazer o que quiser da vida (ser uma astronauta, por exemplo). Mas o Comuniverso está ameaçado por um outro candidato a embaixador: o Lord Grigon, um alienígena inclinado à guerra e que ameaça destruir tudo depois de não ser aceito como parte da organização… quando todos pensam em escapar, Elio desesperadamente afirma que ele pode ajudar, apenas para garantir que seu novo “lar” continue existindo.

E aí começa uma nova parte da sua aventura!

A jornada de Elio Solís na nave de Lord Grigon e as estratégias de conciliação falhas uma após a outra o leva até um amigo inesperado: Glordon, o filho de Grigon, um jovem que não quer ser como o pai… ele não quer usar a armadura que os outros indivíduos de sua espécie usam, por exemplo, nem quer se dedicar à guerra, e Elio percebe que Glordon é justamente o que ele precisava: uma carta na manga. A relação de Elio e Glordon é aquela amizade fofa de uma boa dupla dinâmica que rende alguns dos momentos mais fofos do filme, enquanto eles se divertem no Comuniverso até que Glordon seja buscado pelo pai, e ele descobre eles têm muito em comum, no fim das contas… e justamente por terem muito em comum é que Elio tenta uma estratégia similar.

Que pode colocar tudo a perder.

Quando decidiu ficar no Comuniverso, Elio deixou que mandassem para a Terra um clone seu para que a tia não se preocupasse, e agora ele tenta entregar a Grigon um clone de Glordon, mas não demora para que Grigon perceba a artimanha: um pai sempre conhece seu filho. O Comuniverso está em perigo e Elio nem pode ajudar, porque sua farsa é descoberta e ele é mandado de volta para a Terra, onde precisa enfrentar a tia e descobrir que as coisas não são como ele acreditava que fossem… ela parecia estar se dando muitíssimo bem com o clone, é verdade, mas, assim como Grigon, ela sabia que aquele não era o Elio de verdade – e ela sente a sua falta e o quer de volta porque ela o ama. Entender que ele é amado e que ela não o vê como um peso é um passo importante para ele…

E um momento emocionante para o filme.

Então, tia e sobrinho precisam se unir para colocar as coisas em ordem… eles precisam resgatar Glordon, que caiu por acidente na Terra e está morrendo de frio por causa de uma falha técnica, e, quiçá, salvar o Comuniverso. Para isso, eles precisam confiar um no outro, pilotar uma nave rumo ao desconhecido e contar com a ajuda de outras pessoas que acreditam nas mesmas coisas que eles… é um momento simbólico que culmina no ato de heroísmo final de Elio, seu reconhecimento como Embaixador da Terra, e o “conserto” de relações familiares. É muito bonita a cena do reencontro de Glordon com Grigon, por exemplo, e a maneira como Elio está por trás da força que leva Glordon a dizer a verdade para o pai, que o ama mesmo que não o entenda sempre.

Elio Solís tem a chance de ficar ali, e uma parte grande dele gostaria de ficar com os novos amigos que fizera e no mundo que sempre sonhara em conhecer – mas ele sabe que não pode. Um olhar para a Tia Olga o faz perceber que, na verdade, ele nunca deu uma chance de verdade para a Terra e para a sua nova família… ele ficou o tempo todo ansiando por algo além e não olhou para o que tinha ao redor, e ele quer tentar. É muito bonito vê-lo se entendendo finalmente com a tia e fazendo amigos humanos no seu planeta de origem – sem deixar para trás o Glordon e os amigos que fizera, também, no Comuniverso, com quem ele ainda consegue conversar graças aos rádios amadores, como podemos ver na cena pós-créditos apresentada no filme…

O filme é uma graça, e eu torço pelo seu sucesso agora que ele chegou ao Disney+, porque tem tudo para o ser: com cores vibrantes, cenários fantásticos, um tom aventuresco que vai chamar a atenção das crianças e uma motivação emotiva e sensível que chama a atenção dos mais velhos, “Elio” é um daqueles acertos deliciosos que eu adoro assistir. Também é um prato cheio para todas as pessoas que são ou já foram um pouco Elio Solís e compartilham dessa paixão pelo espaço, pelas possibilidades infinitas no desconhecido além, e que já se perguntaram se estamos mesmo sozinhos nesse universo tão grande. Elio está prestes a descobrir que não, não estamos sozinhos… e “não estar sozinho” tem uma duplicidade de sentido explorado magistralmente pelo simbolismo do roteiro.

AMEI!

 

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Comentários

  1. Gostei do filme, mas com ressalvas kk. Achei o comecinho meio fraco, só engrenou depois de um certo tempo. No final, eu já estava vidrado na tela, preso pela história.

    Achei o protagonista um pouco chato, irritante mesmo, em suas atitudes. Mas entendo que ele é uma criança, e que já passou por perdas muito dolorosas. Me julgue, mas se eu fosse a Olga ficaria com o clone, era bem mais simpático kk.

    Gosto das mensagens que o filme passa, como a importância de valorizar a família, as amizades, e de mesmo com a cabeça nas nuvens, ou no universo, manter os pés no chão e saber olhar e reconhecer o que já se tem de bom, ao invés de sonhar ou projetar outra vida, outra realidade. Se a gente souber valorizar quem nos ama, vai perceber que não está tão só quanto parece.

    Gosto também dessa temática espacial e de ficcção científica. Tanto que em breve quero assistir Lightyear, que até hoje não vi. Amo sempre quando a Pixar inova, traz temáticas e histórias originais, e acho que Elio tem um universo riquíssimo a ser ainda explorado, talvez em uma série, com aventuras do protagonista auxiliando o Comuniverso em aventuras galáticas com seu amigo fofinho Glordon.

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